Voltar à página inicial

Voltar ao índice do Relatório Especial

O GRANDE REINÍCIO VERDE

Veículos Elétricos, Mas Nada de Eletricidade!

por Claudio Celani e Tobias Faku

Ver imagem expandida
Pixabay/mmurphy
Um carro elétrico numa estação de recarga em Amsterdão.

Os veículos elétricos (VEs) são uma parte essencial da Transição Verde que é antecipada pelos planos de Grande Reinício (Great Reset) que estão hoje a ser patrocinados pela União Europeia (UE), e pela nova Administração Biden. O setor automóvel, é asseverado, causa 28% das emissões de gases de estufa, mais que a indústria do aço. Desta forma, os governos adotaram políticas climáticas que visam a plena substituição dos veículos a combustão interna, por VEs. Porém, este tão ambicioso propósito (para além de ser baseado na falsa assumpção de que ajudará a mitigar alterações climáticas), será, na prática, impossível de concretizar. E, esforços para o implementar resultarão numa catástrofe: industrial, financeira e social.

Ver imagem expandida
cc/Moto@Club4AG
Akio Toyoda, Presidente da Toyota Motor Corporation.

No passado dia 17 de Dezembro, quando dava uma conferência de imprensa de final do ano, na sua qualidade de presidente da Associação de Fabricantes Automóveis do Japão, Akio Toyoda, Presidente da Toyota, lançou um forte aviso contra o projeto, da classe política, para a plena conversão da frota automóvel para VEs. Akio Toyoda avisou que, se todos os automóveis fossem movidos a energia elétrica, o Japão esgotaria toda a sua eletricidade no Verão. E, explicou que a infraestrutura necessária para suportar uma frota composta exclusivamente de VEs custaria entre ¥14 e ¥37 triliões ao Japão, o equivalente a $135 a $358 biliões.

“Quando os políticos andam por aí a dizer que ‘Vamos livrar-nos de todos os carros a gasolina,’ será que compreendem o que estão a dizer?” Num país como o Japão, que obtém a maior parte da sua eletricidade a partir da combustão de carvão e de gás natural, “Quanto mais veículos elétricos construirmos, tanto pior fica o dióxido de carbono,” disse Toyoda.

Toyoda disse que temia que as regulações governamentais tornassem os carros numa “flor num pico elevado”—fora de alcance para a pessoa média.

Partindo dos números projetados para o Japão pelo Sr. Toyoda, e aplicando-os às dimensões populacionais da Europa, a infraestrutura necessária para suportar uma frota totalmente composta por veículos a baterias elétricas, custaria à Europa entre 476 biliões e 1.234 triliões de dólares.

Porém, e mesmo que os fundos sejam gerados, seja isso pelo desmantelamento de setores nacionalmente orçamentados (como seja saúde, escolas e pensões), ou pelo aumento massivo da dívida nacional, o fato é que uma plena conversão para VEs é, tecnicamente falando, extraordinariamente difícil.

Tomemos o propósito intermédio definido pela União Europeia: a redução das emissões de CO2 em 55%, até ao ano 2030. Imaginemos a aplicação desse corte ao setor automóvel (o corte poderia corresponder a menos ou a mais de 55%), pela substituição, com VEs, de 55% do total de 63 milhões de automóveis na Alemanha.

Fazer isso implicaria que teriam de ser vendidos cerca de 35 milhões de VEs durante a próxima década: uma média de 3.5 milhões por ano. Hoje, na Alemanha, são vendidos anualmente 63,321 VEs: 1.75% do total dos 3.6 milhões de automóveis vendidos em 2019. À velocidade atual, os alvos da UE para 2030 demorarão 550 anos a atingir, e o alvo para 2050 (carbono zero) demorará 1100 anos.

Ver imagem expandida
EIRNS/Stuart Lewis
Adicionar enorme nova capacidade ao sistema elétrico com base apenas em renováveis (como pretendido pela Comissão Europeia), apenas tornará a rede mais instável, e levará a uma catástrofe por blackout.

Por outras palavras, o alvo da UE para 2030 só pode ser atingido pelo aumento das vendas anuais de VEs em 5,500%! Isto não toma em linha de conta o custo do aumento da produção da eletricidade que é necessária para energizar esses automóveis.

Com efeito, assumindo um consumo anual médio de 3,285 kWh por veículo elétrico, como calculado para (aproximadamente) cada 15,000 km percorridos, a Alemanha terá de produzir uns 11-12 TWh adicionais de eletricidade por ano. Assumindo que isto provirá de “renováveis,” como proposto pela UE, então a Alemanha terá de construir aproximadamente 1600-1700 moinhos de vento gigantes a cada ano, ao longo dos próximos 10 anos.

Porém, a rede elétrica alemã e europeia já é tão dependente das ditas “renováveis”, que se tornou altamente instável, já tendo ocasionalmente chegado perto do colapso total (ver “Marcha para as ‘Renováveis’ Ameaça o Abastecimento Elétrico Europeu,” artigo de Rainer Apel para a EIR). A adição de nova, enorme capacidade ao sistema elétrico, com base apenas em renováveis (como pretendido pela Comissão Europeia), apenas tornará a rede mais instável, e levará a uma catástrofe.

A Transição Verde é Deveras Castanha

Embora os VEs sejam um elemento central à transição Verde, o fato é que os meios para a sua produção são tudo menos verdes. Para que um VE tenha uma capacidade energética similar à de um carro convencional com capacidade de 40 litros (10.5 galões) de gasolina, esse VE precisa de uma bateria a pesar um mínimo de meia tonelada. A produção de tais baterias é um processo muito intensivo, energeticamente, e passa pela exploração e pelo processamento mineiro de enormes quantidades de cobre, alumínio, e lítio.

Ver imagem expandida
Heinrich Pniok
A plena conversão elétrica da frota automóvel europeia exigiria aumentar a produção global de cobalto em 17 vezes, a partir dos níveis atuais. Aqui mostrado: amostras de cobalto puro a 99.99%.

De acordo com Michael Kelly, o consumo de materiais para a plena conversão elétrica da frota automóvel de um país como Inglaterra representaria o dobro da produção global anual de cobalto, três quartos da produção global de carbonato de lítio, mais de metade da produção global de cobre, e quase toda a produção global anual de neodímio.

Os números tornam-se ainda mais abissais, se considerarmos uma plena conversão elétrica, até 2050, das frotas automóveis de todos os estados-membro da UE (com os seus 260 milhões de carros), como planeado pela Comissão Europeia. Isto, no seu total, implicaria os seguintes múltiplos da produção global anual atual: para cobalto, 17 vezes; para lítio, 6 vezes; para cobre, mais de 4 vezes; e, 8 vezes toda a produção global de neodímio. E, ainda, todos os anos seria necessário obter cerca de um décimo destas quantidades, adicionalmente, para peças de substituição.

Os níveis de poluição que serão produzidos pela exploração e pelo processamento mineiro de tais quantidades de materiais serão estarrecedores. E, adicionalmente, haverá a necessidade de duplicar a capacidade de geração elétrica, tal como a capacidade das redes de transmissão elétrica. E, da mesma forma, haverá que criar um novo sistema de estações de carregamento para todos os carros e camiões, em casa ou no trabalho.

A produção de motores elétricos requer neodímio, o mineral de terras raras. Hoje em dia, e devido a preocupações ambientais (levantadas essencialmente pelo movimento verde), já quase não existe exploração mineira de neodímio no Ocidente, e a China é o principal produtor mundial do mineral.

Acima, passámos pelo gigantesco aumento da produção elétrica que é requerida para a energização dos VEs. Agora, considere-se a energia que é necessária à concretização da supracitada lista de materiais. No Ocidente, a ideia verde, a de total conversão para eletricidade, com a rejeição simultânea de fontes energéticas primárias de alta intensidade (como nuclear e fusão), garante que os processos de maior intensidade energética, na produção de VEs, nunca tomarão lugar no Ocidente (a China tem, já hoje, uma share de mercado de 75% na produção de baterias de lítio). Garante ainda que as economias ocidentais morrerão depressa, à imagem das economias do Bloco de Leste no período pós-1988.

A poluição, e os restantes riscos de saúde, que adviriam da exploração e do processamento mineiro das quantidades de cobalto, lítio, e cobre, que são necessárias à plena conversão da atual frota automóvel, seriam gigantescos. Aqui mostrado: uma mina de cobre e cobalto na República Democrática do Congo.

Consequências sociais

A descarbonização da mobilidade também custaria várias centenas de milhares de empregos na Alemanha, como foi alertado por um relatório da Plataforma Nacional para a Mobilidade (PNM), em Janeiro de 2020. A NPM é um grupo de trabalho no Ministério do Ambiente alemão, e é encabeçado pelo presidente do sindicato dos trabalhadores metalúrgicos da IG Metall, Jörg Hoffmann.

Com efeito, ainda que uma transição de sucesso para a mobilidade elétrica fosse possível, apenas um número mínimo de empregos poderia ser absorvido pelo novo modo de produção. Isto é assim pelo fato de que uma única bateria substituiria o grande número de componentes que estão implicados nos motores de combustão interna (cerca de 1200).

Com base nas estimativas da PNM para a Alemanha, de perda de 410,000 empregos, num “cenário extremo”, as estimativas para a UE no seu todo podem ser situadas na perda de 1.5 milhões de empregos—apenas no setor automóvel. A PNM não é, por princípio, contra descarbonização, mas apela a uma transição menos severa, e à exploração de alternativas aos automóveis elétricos: como sejam a substituição de motores de combustão interna pelo recurso a combustíveis sintéticos e de hidrogénio.

Desemprego em massa significa um colapso massivo em rendimentos familiares, e um consequente colapso em consumo, levando à depressão do mercado doméstico. Os rendimentos das empresas decairão, forçando a novos despedimentos. As receitas governamentais também decairão, em resultado de menores coletas sobre o rendimento, e de menores coletas de impostos de valor acrescentado, e de impostos empresariais.

O Aumento das Resistências

Felizmente, alguns governos na UE estão a acordar para a insanidade da Transição Verde. A Comissão Europeia iria, supostamente, publicar as suas regras de “Taxonomia” a 1 de Janeiro, mas teve de adiar essa publicação devido à oposição de dez estados-membro. A palavra “taxonomia” não tem nada a ver com taxas (pelo menos, não de modo direto): vem do Grego, e significa “classificação.” A intenção da Comissão Europeia é a de fosse uma classificação de produtos e de atividades em função da pegada de carbono dos mesmos, e de que providenciasse a base para a subsidiação ou penalização de tais produtos ou atividades, em prol da Transição Verde.

Porém, no passado mês de Dezembro, Bulgária, Croácia, Chipre, República Checa, Grécia, Hungria, Malta, Polónia, Roménia, e Eslováquia, assinaram um documento em objeção à exclusão do gás natural da lista dos “combustíveis de transição”, e a apelar à “possibilidade de uso de hidrogénio a partir de várias fontes de energia.”

Assim confrontada com a possibilidade de um veto, a Comissão Europeia recuou. As supracitadas exigências foram contempladas na cimeira do Conselho Europeu de 10-11 de Dezembro. Porém, “as dificuldades da Comissão com a taxonomia de finança verde não ficaram pelo gás ou pelos dez signatários do documento,” reporta a Euractiv. “De acordo com uma fonte bem posicionada no Parlamento Europeu, que pretende acompanhar o dossier de perto, quase todos os países e grupos de interesse europeus tiveram objeções para com o projeto de ato delegado.”

A Comissão Europeia está agora atarefadamente a reelaborar a sua proposta, e apresentará um projeto atualizado aos representantes nacionais da UE. Isso acontecerá durante uma reunião do grupo de peritos dos estados-membro da EU (MSEG) sobre finança sustentável, reunião essa que está definida para 26 de Janeiro. Após essa data, os estados-membro da EU podem aceitar o projeto, ou rejeitá-lo em bloco.

O Japão Precisa dos seus Reatores de Volta, e Mais 

O Ministro da Energia do Japão, Hiroshi Kajiyama, disse ao Financial Times, a 3 de Fevereiro, que os cortes elétricos do passado mês de Janeiro, devidos aos grandes nevões que afetaram o país, demonstraram que o Japão precisa de voltar ao nuclear. Kajiyama disse: “Pessoalmente, penso que a energia nuclear será indispensável.” Descreveu o fornecimento elétrico durante os nevões de Janeiro como muito precário: levando a preços elevados e a escassez no abastecimento, em algumas áreas do país. “O solar não estava a gerar. O vento não estava a gerar. Estou a tentar persuadir toda a gente de que, no fim de contas, precisamos de energia nuclear.” 

Antes do acidente de Março de 2011 na central de Fukushima Daiichi, a capacidade de geração nuclear do Japão fornecia cerca de 30% da eletricidade da nação. 14 meses após o tsunami e o acidente nuclear, a capacidade de geração nuclear do país tinha sido colocada em standby, à espera de mudança regulatória. Até agora, nove dos 39 reatores operacionais do Japão já passaram as inspeções (em confirmação de que estão à altura dos novos standards regulatórios de segurança), e voltaram a operação. E, 18 outros reatores estão candidatados para reinício. 

Em 2019, a energia nuclear providenciava apenas 7.5% da eletricidade do país. O Plano Básico de Energia do Japão, definido em 2018, e à espera de revisão durante este ano, almeja que, até 2030, 22-24% da energia do país provenha de renováveis, 20-22%, de nuclear, e 56%, de combustíveis fósseis. Porém, a nação pode começar a construir novos reatores nucleares de terceira e quarta geração, e dessa forma deixar de passar pelo “solar não estava a gerar, o vento não estava a gerar.”

 

Para informação, perguntas ou comentários,
por favor escreva para
preguntas@larouchepub.com
Copyright 2020 EIR News Service.
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução sem permissão,
no todo ou parcialmente.

Voltar ao índice do Relatório Especial

Voltar ao topo    Voltar à página inicial

clear
clear
clear