Este artigo é uma tradução de material originalmente publicado na edição de 22 de Janeiro de 2021 da Executive Intelligence Review.
Marcha para as ‘Renováveis’ Ameaça o Abastecimento Elétrico Europeu
A 8 de Janeiro, toda a Europa foi rudemente despertada às 2:05 p.m., quando a sua rede energética mal escapou a um blackout geral. A catástrofe iminente só foi evitada porque o sistema transeuropeu de distribuição energética reagiu no imediato: pela compensação de intermitências no fornecimento através do input de reservas elétricas de vários outros países europeus e, ainda, pelo corte temporário do abastecimento energético (redução da carga contratada) a Itália e França. Essas ações preveniram que a frequência da corrente elétrica (convencionada a 50 ciclos por segundo, ou hertz) caísse para abaixo da marca crítica dos 49.8 hertz. Uma tal queda teria forçado a desconexão de uma grande proporção do sistema e, da mesma forma, do abastecimento elétrico a dezenas de milhões de lares.
A última vez que um evento deste tipo aconteceu foi em 4 de Novembro de 2006, afetando 10 milhões de lares. Desta vez, o quase-blackout foi alegadamente despoletado a partir da Roménia, na sequência duma queda substancial do input energético para a rede. Da próxima vez que um tal evento acontecer, isso será provavelmente despoletado a partir da Alemanha, cujo governo está obcecado com o abandono de todas as fontes fósseis de energia, e da própria energia nuclear; e, com tornar o país inteiro, e a sua economia, dependentes de “renováveis”, como sejam solar, eólica e biomassa. O governo alemão já conseguiu levar o seu desígnio a meio-termo durante o ano passado, quando, pela primeira vez, as “renováveis” corresponderam a uma proporção de mais de 50% do abastecimento energético nacional. A concretização do propósito final de 100% está agendada para 2040.
A marcha alemã para a era do solar, do eólico e da biomassa tem causado problemas contínuos na calculabilidade do abastecimento energético. Sempre que o vento e o sol falham em providenciar o suficiente input energético, as resultantes intermitências no abastecimento são compensadas pelo recurso a capacidades de reserva baseadas em petróleo, gás e carvão. E, sempre que o vento e o sol proporcionam um excedente, há a desconexão das capacidades baseadas em combustíveis fósseis. E, quando as intermitências no abastecimento são demasiado drásticas para serem compensadas num curto espaço de tempo, a Alemanha importa energia dos seus vizinhos. Ironicamente, isto tendem a ser importações do que a Alemanha considera ser eletricidade “suja”—importações que tendem a ser a partir de carvão (Polónia, República Checa) e nuclear (França, República Checa).
Os especialistas avisam que este sistema de importações é precário, uma vez que os vizinhos da Alemanha nem sempre serão capazes de garantir um suficiente abastecimento energético ao país—as necessidades energéticas do qual aumentarão desmesuradamente após o seu abandono final de nuclear, no final de 2022. Só este ano, a Alemanha planeia fechar três dos seus seis restantes reatores nucleares, o que, só por si, resultará na perda de 6% da remanescente capacidade energética nacional. E, isso não se limitará a causar problemas para a Alemanha. Uma vez que a economia industrial alemã é a maior na Europa, toda a Europa será atingida por crescentes desequilíbrios no sistema de distribuição transcontinental.
Crescentes ‘Intervenções’ Para Prevenir Blackouts
Uma Reportagem Especial da Executive Intelligence Review (Setembro de 2015), intitulada “‘Global Warming’ Scare is Population Reduction, Not Science”, demonstrava o modo como o estável abastecimento energético da rede é gravemente ameaçado pela crescente frequência em reinícios e paragens irregulares no fornecimento: ao nível das unidades energéticas “renováveis” e, concomitantemente, ao nível das unidades de gás natural e de energia nuclear (que, sendo fiáveis, têm de servir de backup às “renováveis”). O agregado das flutuações em fontes de energia “renováveis” é demonstrado num gráfico de geração elétrica eólica em Agosto de 2014, numa base diária (ver Figura 1).
A reportagem mostrou que,
Antes da expansão de larga escala em energia eólica e solar, eram requeridas muito poucas intervenções [ver Figura 2] para a estabilização da rede energética alemã. Em 2006, foram necessárias apenas três ou quatro intervenções [pelos operadores da rede]. Porém, em 2012, a manutenção de uma disponibilidade energética consistente e confiável, 24h por dia, exigiu quase 1000 intervenções. E, em 2014, foram necessárias mais de 3500 tais intervenções, para resgatar a rede energética nacional dos efeitos de flutuações devidas a inputs intermitentes no abastecimento.
Até agora, o sistema já preveniu catástrofes maiores no abastecimento energético da Europa; porém, não é estável. Por exemplo, a Alemanha já não tem capacidade para contribuir com a sua quota anual para o sistema: as suas próprias exportações de energia caíram em 11.6% em 2020; e, ao mesmo tempo, a Alemanha teve de importar 38.8% mais energia dos seus vizinhos europeus que em 2019. Durante o verão de 2020, a França foi incapaz de exportar suficientes excedentes elétricos à sua vizinha Alemanha (o maior cliente externo tradicional do setor nuclear francês), e foi ela própria forçada a importar de Espanha que, por sua vez, teve de importar de Marrocos. Isto mostra que há limites ao que as outras nações europeias conseguem fazer para manter a indústria alemã a funcionar.
Visões de Uma Bolha Financeira Verde
É simplesmente chocante que os radicais alemães das “renováveis” estejam a propor construir parques solares gigantes em Marrocos, de modo a gerar energia para exportação para a Alemanha. Tais propostas injetam adrenalina extra nas veias dos fanáticos de finança verde, que estão a tornar-se eufóricos à volta das várias centenas de biliões de euros a ser investidas no projeto Marroquino; algo que criaria desastres ainda maiores que as presentes políticas da Alemanha.
A atual direção política já é um desastre. Afinal de contas, 2020 foi o ano que viu a redução em 15% das emissões de CO2 da Alemanha: isto deveu-se, porém, à suspensão pandémica de vastas proporções da indústria, e não ao fato de 2020 ter sido o primeiro ano em que as renováveis geraram mais energia que as três fontes fósseis (petróleo, gás e carvão) combinadas—183 terawatts contra 178 terawatts, respetivamente. E, como mencionado acima, 2020 foi também o ano em que a Alemanha teve de importar mais energia que em qualquer ano anterior.
É inequívoco que a transformação “verde” do abastecimento energético alemão é um falhanço. É um falhanço dispendioso, uma vez que o financiamento da energia verde, que se cifrava nos €27.5 biliões em 2019, aumentou para €30.9 biliões no ano passado. O financiamento surge sob a EEG (a Lei de Fontes Renováveis de Energia, na Alemanha), que reembolsa os produtores de solar e eólica não apenas pelos custos de produção, mas também por prejuízos incorridos por falta de procura de mercado.
Apesar de a produção energética por solar, eólica, e biomassa, ter sido 4% maior em 2020 que em 2019, os rendimentos gerados pela produção de eletricidade a partir de renováveis, em 2020, acabaram por ser €6.4 biliões menores que em 2019. A suspensão pandémica da indústria causou uma menor procura efetiva por energia e, uma vez que a eletricidade não pode ser armazenada, quando está a ser produzido um excedente em renováveis, esse excedente tem de ser exportado para os vizinhos da Alemanha. Ou, se esses vizinhos não puderem usar o excedente, os geradores têm de ser desligados, ou, são necessárias outras intervenções à rede, pelas quais os prestadores de serviços têm de pagar. Em 2020, o custo foi de €579 milhões.
Planos para Expansão em Energia Nuclear
As absurdidades da política energética alemã, exacerbadas pelo “Green Deal” da Comissão Europeia, não podem ser toleradas pelas outras nações da Europa, que têm os seus próprios interesses nacionais. Muitos dos vizinhos da Alemanha estão a optar pelo uso aumentado de energia nuclear. Seis deles até forçaram a Comissão Europeia a reconhecer o átomo como uma fonte de energia de baixas emissões na sua agenda geral para energia verde, aprovada no final de 2020. O vizinho de Leste da Alemanha, a Polónia, quer construir até 11 reatores nucleares até 2040. No seu programa para eleições nacionais antecipadas nesta Primavera, o VVD, o partido no governo na Holanda, apelará à construção de 10 reatores nucleares ao longo das próximas duas décadas. E, da mesma forma, República Checa, Eslováquia, Roménia, Hungria, Bulgária e Finlândia—todos eles estão empenhados em construir novos reatores.
Até a França, que foi anfitriã do Acordo de Paris, o acordo climático global de 2015, e que quer infelizmente reduzir a sua dependência do nuclear (dos 75% da produção nacional, hoje, a 50% em 2040) permanece comprometida, no princípio, com a energia nuclear. O Presidente Emanuel Macron, que herdou esta meta de reduções da presidência anterior, reiterou em declarações, a 12 de Dezembro, que a energia nuclear é indispensável para a França, e que tem um forte futuro no país. E, 110 cientistas e ativistas energéticos polacos publicaram uma carta aberta a apelar ao governo alemão que descarte o seu propósito de abandono nuclear, e que, por enquanto e até após 2022, mantenha os seis reatores remanescentes.
Ainda há tempo, embora não muito, para que a Alemanha reverta a sua marcha para o atoleiro da “energia verde”, e para que garanta o abastecimento energético para a sua indústria e para a sua população. Isto requer não apenas manter em funcionamento os remanescentes reatores de fissão nuclear, como também construir reatores novos, e entrar na era da fusão nuclear.
O partido BüSo, ligado ao movimento LaRouche, irá promover este programa na campanha para a eleição parlamentar nacional, em Setembro de 2021. A campanha do BüSo despoletará um debate nacional sobre um regresso a energia nuclear na Alemanha..
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