Textos de Lyndon LaRouche

Entrevista de Lyndon LaRouche à Radio Radicale da Itália, em 20/09/2001

Transcrição da entrevista de Lyndon LaRouche à Radio Radicale italiana, na qual discorreu sobre os atentados de 11 de setembro nos EUA. A emissora é órgão oficial do Partido Radical italiano, mas sua audiência ultrapassa em muito a base partidária, sendo a única emissora a transmitir ao vivo os debates no Parlamento. A entrevista foi conduzida pela jornalista Andrea Billau.

Andrea BiIlau: Radio Radicale. Uma vez mais, estamos tratando dos ataques terroristas da semana passada, nos EUA, e vamos ouvir uma voz dissonante", direto dos EUA. Nossos ouvintes já conhecem este personagem, porque entrevistamos uma de suas colaboradoras, Amelia Robinson, que também foi colaboradora de Martin Luther King. Hoje, ele está no ar conosco: ele é Lyndon LaRouche, um economista, várias vezes candidato à Presidência dos EUA. Bom dia, Dr. LaRouchel

Lyndon LaRouche: Bom dia para você.

Billau: Eu quero começar por um artigo que li, em que o sr. insiste em que o que aconteceu na semana passada nos EUA foi um ataque genocida perpetrado por forças renegadas, coordenadas de dentro dos EUA, porque nenhuma força estrangeira tem a capacidade para fazer o que foi feito na terça-feira. Bem, o sr. pode explicar-nos esta afirmativa tão séria e importante?

LaRouche: O que aconteceu não poderia ter sido feito pelas assim chamadas organizações terroristas internacionais. E, tecnicamente, não poderia ter sido feito pelos EUA à União Soviética nos dias da velha Guerra Fria. Isto foi uma operação altamente profissional, de alto nível militar. E isto envolve enormes recursos e coordenação, que não existem fora dos EUA. Envolve elementos que foram recrutados pelos EUA e outros serviços de inteligência da Europa e Israel, durante os dias da assim chamada operação Ira-Contras.

Olhando profissionalmente para isto, o que vemos no modo de operação desses atos da terça-feira 11 foram os primeiros dias de uma tentativa em marcha de um golpe de Estado contra o Governo dos Estados Unidos. O próprio modo de ataque tem duas características que nos dizem o que está em jogo. Primeiro: ele ocorre em meio á fase final do maior colapso financeiro da História moderna. Segundo: a intenção óbvia é o que se chama "geopolítica". O propósito do ataque é deflagrar um conflito de civilizações, como proposto, por exemplo, por Zbigniew Brzezinski e Samuel Huntington.

Como você sabe, há um movimento em marcha no mundo para estabelecer uma cooperação em face das presentes crises financeiras e correlacionadas, especialmente no continente eurasiático. A preocupação com a crise financeira vinha acelerando este processo, para se encontrar uma nova maneira de estabelecer uma saída da crise. O problema é que outras forças poderosas estão determinadas a evitar que isto aconteça. Superficialmente, nos próprios EUA, temos um monte de propaganda enganosa, especialmente da CNN, Fox News e gente como eles, mas, por trás dos panos, nas instituições relevantes, há uma conscientização da natureza geral da crise como eu acabo de descrevê-la, e há gente séria trabalhando no problema. Entretanto, esperamos que possamos terminar este trabalho antes que venha o próximo ataque, porque haverá um próximo ataque planejado. Uma das coisas em que temos nos concentrado é conseguir um acordo para uma paz no Oriente Médio entre os palestinos e Israel, porque o perigo é deflagrar uma guerra religiosa, que, então, criaria uma situação mundial incontrolável. Em linhas gerais, é assim que vejo a situação.

Billau: Portanto, no seu ponto de vista, Osama bin Laden não é responsável por este ataque terrorista?

LaRouche: Não. Osama bin Laden é um ruído, que foi criado pelo esforço conjunto dos serviços de inteligência britânico, dos EUA e Israel, durante os dias da Guerra do Afeganistão. Neste ínterim, ele se tornou um ruído para a Rússia e para outros países, de modo que aqueles que estão tentando desviar o assunto estão tentando colocar nele o foco do problema. Ele é um problema, mas não é O problema que está por trás da crise nos Estados Unidos.

Billau: Para entender melhor, o sr. está dizendo que houve uma conspiração interna, não apenas nos EUA, mas em outros países ocidentais? Quem são os planejadores dessa conspiração, e que resultados eles querem obter?

LaRouche: Não sabemos quem são os autores. Isto é como um caçador profissional caçando um animal. Não sabemos o pedigree do animal, mas temos que ler os rastros dele para saber a espécie, os hábitos, e temos que ler a mente do animal. Se você olhar a situação desse ponto de vista, a natureza da identidade do animal por trás desse problema se torna muito clara. É uma certa mentalidade entre gente na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e outros lugares, especialmente associada com a comunidade financeira especulativa. Como foi descrito num estudo do Conselho de Relações Exteriores de Nova York, em julho do ano passado, a crise as motiva a pensar em termos de uma ditadura como um meio de lidar com o colapso financeiro mundial. Isto se cruza com um grupo de pessoas que compartilham a concepção de Brzezinski e Huntington de um conflito de civilizações, como parte da maneira de lidar com este problema.

Agora, isto não significa que as pessoas que pensam assim estão por trás deste golpe. Isto significa que aqueles que estão no comando do esforço de golpe compartilham essa mentalidade. Estas seriam pessoas que são fanáticas, que se situam na assim chamada direita religiosa, e gente deste tipo, que existe em abundância nos EUA. Isto significa ex-oficiais militares de alta patente, que compartilham este tipo de ideologia. Isto significa usar parte das vastas capacidades de guerra especiais que os EUA e outros países desenvolveram, especialmente, desde os anos 70. Isto significa o mesmo tipo de mentalidade que esteve por trás do terrorismo na Itália, França, Alemanha e assim por diante, durante as décadas de 60, 70 e 80. E se nós estudarmos os golpes de Estado ao longo da História, especialmente na História Moderna, o que é impensável para muita gente é a idéia de que o que aconteceu no Chile e outros países pudesse ser feito dentro dos EUA. Mas isto é possível de ocorrer nos EUA, sob condições de crise. E minha preocupação é que, uma vez que muita gente está com receio de dizer isto, eu tenho que assumir o papel de liderança em encorajar aqueles que deveriam lidar com esta crise, para que tratem dela apropriadamente. O que mais me preocupa nisto tudo é a idiotice de os EUA seguirem a política de procurar vingança como uma política militar, vingando-se em gente que pode não ser culpada desta operação. É como um grupo de linchamento sulista, que lincha algum sujeito negro simplesmente porque querem matar um negro. Isto leva direto a uma guerra religiosa global, que é a coisa mais perigosa que se pode imaginar.

Billau: Bem, o que realmente parece enorme em sua hipótese, o sr. deve admitir, é que tais forças internas ocidentais organizem, para deflagrar um conflito de civilizações, a morte de milhares de ocidentais, de estadunidenses em particular, com um espírito de, podemos dizer, verdadeiros kamikazes. Poderia dar-nos mais elementos que nos ajudem a pelo menos imaginar um cenário tão vasto?

LaRouche: Sim, se você entender os EUA como eu entendo. Há muita gente nos EUA, em posições muito altas, que poderiam fazer isto com impunidade. Observe certos fatos que são bem conhecidos de gente no Vaticano; observe a perda de respeito pela vida; observe a disseminação do malthusianismo como parte dessa onda de morte que tem sido promovida no mundo nos últimos 20 anos; observe o que aconteceu com a reforma das políticas de saúde nos EUA; observe a reforma da Previdência Social de 1996; observe aqueles que propõem que a população mundial deve ser reduzida a um bilhão de pessoas ou menos, rapidamente; observe o número de pessoas em cujas mentes tais idéias são aceitáveis; observe os principais órgãos de mídia dos EUA e outras publicações que compartilham essa ideologia; observe as universidades, que ensinam essa ideologia; observe o que tem sido feito para destruir a mente dos nossos jovens, com videogames, esses jogos Nintendo, e coisas assim. Se você observar todos estes predicados, temos o desenvolvimento de um estado mental verdadeiramente satânico, que está se espalhando entre partes cada vez maiores da população mundial, inclusive nos EUA.

Portanto, a minha abordagem diante de tudo isso não é realmente a de mergulhar no problema, mas entender que temos que usar a crise como a oportunidade, de certa maneira, de evangelizar as pessoas de volta a uma concepção do que é o homem. A única cura real para este problema é o velho conceito do ágape.

Billau: Bem, agora, eu gostaria de perguntar-lhe o seguinte: se tais forças têm uma capacidade técnica, mas também de propaganda - em seu artigo, o sr. ataca a CNN, a maior rede de televisão do mundo. Minha pergunta é: neste ponto, Bush caiu direitinho nesta armadilha gigantesca?

LaRouche: Bem, sim e não. Bush é uma personalidade bastante limitada. (Al) Gore teria sido um presidente diferente, mas igualmente mau, de uma maneira diferente. Então, temos as instituições dos EUA, especialmente o Establishment financeiro, que, no ano passado, reduziram a escolha do presidente a estas duas opções. O presidente Bush é apenas uma pessoa limitada num trabalho grande. Ele está enfrentando agora uma crise além da sua imaginação. O importante a ver, aqui, é que o preisdente é o presidente de uma Presidência que consiste, não apenas das instituições do braço executivo do Governo, mas que pode também pedir a assistência de gente que não está mais ativa no Governo. Pelo que sei, neste momento, as instituições do ramo executivo dos EUA, pelo menos em grande parte, estão reconhecendo a existência do problema como o descrevi; eles ainda não aceitam tudo o que eu disse, mas reconhecem que, no geral, eu estou certo. Então, de um lado, temos os EUA agindo como um monstro insano que está com medo da opinião pública orquestrada pela mídia de massa; do outro, a mesma Presidência, por intermédio da instituição da Presidência, está procurando alternativas ao tipo de insanidades que parecem ser a política dos EUA neste momento. E é muito importante a cooperação que o presidente está obtendo de outros países. A cooperação com a Rússia é muito importante, bem como com a China. Sob estas condições, os EUA e esses países, junto com a Europa Ocidental, podem liderar um grupo de nações que pode desenvolver uma solução, uma alternativa à crise atual. E o problema, portanto, é fazer com que a figura-chave dos EUA, que hoje é o presidente, George Bush, veja esta situação. Isto é como os velhos dias do feudalismo: Como os conselheiros sábios do rei podem aconselhá-lo, quando ele realmente não entende como enfrentar a situação? Então, vários de nós, inclusive eu, em minha capacidade privada, bem como outros em capacidades oficiais, estamos trabalhando o mais possível juntos, para tentar arranjar uma solução para a situação e sair da loucura que domina a mente de grande parte dos EUA neste momento.

O meu ponto de vista é: se o povo dos EUA e suas principais instituições reconhecerem que um golpe de Estado está em marcha, e se nações importantes do mundo compartilharem esta preocupação, então, as forças que estão por trás desse terror que acabamos de experimentar não podem vencer. E a melhor maneira de derrotar um inimigo é convencê-lo de que ele não pode vencer. E este é o que penso que deve ser o objetivo neste momento. É o que estou tentando fazer.

Billau: Ainda assim, parece que a orientação geral dos EUA e seus aliados é lançar uma vasta ofensiva contra o terrorismo, mas com alvos bastante precisos, como o famoso Bin Laden, o Afeganistão e outros Estados que podem ter oferecido apoio: Iraque etc. Então, a despeito das divisões e do conhecimento existente dentro de alguns círculos do Governo dos EUA, como o sr. indicou, parece que o que o sr. considera a resposta errada é o que exatamente está acontecendo.

LaRouche: Bem, se eles não mudarem a política deles, então, podemos esperar uma idade de trevas planetária muito em breve. Essa política é insana; temos que mudá-la. E aqueles que estudam a história das guerras religiosas sabem exatamente o que estou dizendo. Especialmente, o que Sua Santidade, o Papa João Paulo Item feito nos últimos tempos nesta linha é absolutamente indispensável para o mundo neste momento.E se não mudarmos essa política, sabemos qual é a penalidade. Portanto, não podemos avaliar as políticas com base na opinião prevalecente, se a aceitação desta opinião prevalecente significa o inferno, Esta é a hora de líderes verdadeiros e heróis verdadeiros, que conduzam o rebanho para fora do vale.

Billau: Um sinal na tendência contrária, nas últimas horas, é a declaração de (o líder palestino Yasser) Arafat contra o terrorismo, a retirada israelense de algumas posições na Margem Ocidental e em Gaza, e o possível encontro entre (o chanceler israelense Shimon) Peres e Arafat, Isto poderia ajudar a reverter a tendência?

LaRouche: Provavelmente, sim. Uma vez que as pessoas entendam que não existe tal coisa como o terrorismo internacional - não existe, o terrorismo não é nada mais que um método de guerra; ele não é dirigido por organizações terroristas independentes. O que o Governo israelense está fazendo, o que as Forças de Defesa de Israel estão fazendo, é tão ou mais terrorismo que o que os palestinos estão fazendo. Se conseguirmos levar a paz ao Oriente Médio, ou pelo menos um acordo de paz, voltar ao Acordo de Oslo, à política de (Ytzhak) Rabin, como sugere a atividade do secretário de Estado (Cohn) Powell, este ponto de inflexão no Oriente Médio poderia ser um ponto de inflexão contra o perigo da disseminação de uma guerra generalizada. Portanto, a concetração de Powell e outros neste aspecto particular da questão é extremamente importante.

Billau: Bem, antes de concluir a nossa conversa, eu gostaria de voltar brevemente ao ataque terrorista e, em particular, às investigações em curso. Nos EUA, uma rede de terroristas foi identificada, com nomes, sobrenomes, brevês etc. Segundo o sr., tudo isto é forjado?

LaRouche: Isto é típico de instituições desesperadas, que estão tentando fingir que estão resolvendo o problema. Isto tem a característica de uma caça às bruxas. Se você vai conduzir uma investigação deste tipo, você não sai vazando tudo para a mídia. Quando você ouve este tipo de boletins públicos de agências de governo, você diz: vocês estão tentando realmente investigar o caso, ou estão fingindo investigar? Muitos desses nomes podem ser falsos; já existem fortes indicações disto.

O que estamos lidando é com um estado de negação. Você tem que olhar para o estado mental de muitas instituições nos EUA - em correspondência com o declínio na capacidade moral e intelectual do povo estadunidense, há um aumento no estado de negação. Isto inclui gente em posições-chave, que agora se confronta com o fato de que um grande golpe de Estado está em marcha nos EUA, e todas as instituições importantes têm evidências que provam isto. Então, você diz, Oh, não, isso não pode ser verdade; devem ser esses pobres estrangeiros que estão fazendo isso conosco.' E isto será grandemente apoiado pela gente do tipo altos oficiais retirados e outros do gênero, que estão dirigindo o golpe. Para desviar a opinião pública e instituições dos EUA para uma busca do inimigo que não está aqui, para ocultar o inimigo que está aqui dentro. Os estadunidenses gostariam de acreditar que o perigo é estrangeiro, que pode ser eliminado simplesmente atacando os estrangeiros, e não lidando com o que é mais assustador para eles - o perigo do inimigo interno.

Billau: O pensamento de Lyndon LaRouche é bastante claro. Eu gostaria de concluir perguntando o que o sr. pensa que a Europa, e a Itália, como um aliado dos EUA, poderia fazer nesta situação.

LaRouche: Em primeiro lugar, construir a cooperação que está se desenvolvendo entre os EUA, Rússia, Europa Ocidental e outros países. O que é preciso é uma colaboração honesta. Não a submissão, mas uma colaboração honesta. E preciso dizer ao Governo dos EUA: isto é insano - mas isto pode ser dito polidamente. Mas, também, proporcionar sugestões alternativas. Às vezes, as pessoas não aceitarão a existência de um problema, a menos que alguém lhes aponte a solução para eles.

Lembre-se, o substrate desta crise é o colapso do sistema monetário e financeiro internacional. Já mergulhamos na pior crise monetária e financeira da História mundial. E é aí que deve estar a base para a colaboração, não apenas no lado negativo de lidar com esta ameaça. Se pudermos conseguir colaboração para fazer as reversões fundamentais nas políticas ruins que causaram esta crise, elas proporcionarão a colaboração forte de um lado e de outro do Atlântico, que ajudará a resolver esta crise. Temos que manter a loucura, o pânico e a sede de vingança fora do problema; então, poderemos resolvê-lo. Numa palavra, eu diria: ágape.

Billau: Bem, eu agradeço a Lyndon LaRouche, economista, várias vezes précandidato democrata à Presidência dos EUA, e eu lembro a vocês agora, porque esqueci no início: LaRouche foi aprisionado por cinco anos, durante a Presidência Bush, o pai do atual presidente. Ele foi libertado depois de uma mobilização internacional de parlamentares, inclusive italianos. Obrigado, sr. LaRouche, e eu desejo a todos um bom trabalho e um bom dia. fmt:colwidth61




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