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Textos de Lyndon LaRouche
Um golpe de Estado não funciona se não aceitamos os seus resultados
Texto integral da palestra proferida pelo autor no instituto Italiano para a Ásia, em Roma, em 16 de outubro de 2001. O Instituto, presidido pelo senador Giulio Orlando, promove a cooperação econômica, o diálogo cultural e contatos entre a Itália e os países da Ásia. Os trechos entre parênteses foram adicionados pelos editores e os grifos são ênfases do autor
Estamos, hoje, numa situação típica. Temos a desintegração do sistema monetário e financeiro mundial existente, e temos o perigo de coisas como uma guerra mundial. A despeito do que relatam os jornais, tivemos uma tentativa de golpe de Estado nos EUA, contra a Administração (George W.) Bush. E, desafortunadamente, é isto que devemos considerar em primeiro lugar, porque, de outro modo, estaremos desorientando completamente o entendimento da situação mundial, em todos os seus aspectos.
A crise monetária e financeira foi prevista. Durante anos, tem ocorrido uma série de discussões sobre as políticas a serem adotadas para enfrentar a crise. Mais recentemente, todas estas discussões têm-se baseado na premissa de um período pós-Guerra Fria. Com o colapso da União Soviética como o adversário dos EUA, a questão passou a ser se as potências anglo-americanas, junto com os israelenses, poderiam estabelecer um Império Romano. É um tipo especial de Império Romano, como aquele da velha Veneza, quando Veneza dominava o Mediterrâneo como uma potência marítima rentista-financeira. Depois, com a transferência deste poder para os Países Baixos e, posteriormente, a Inglaterra e a Grã-Bretanha, chegamos hoje a um grupo de interesses internacionais baseado em Londres, com um aliado crucial em Nova York, que constitui um império rentista-financeiro mundial.
Desde o período entre 1966 e 1971, esse poder imperial tem dominado crescentemente o mundo com um novo sistema monetário de sua lavra. A mudança de um sistema de taxas de câmbio fixas (como estabelecido pela conferência de Bretton Woods), para um sistema de taxas de câmbio flutuantes, em 1971-72, estabeleceu um novo sistema monetário e financeiro. Este sistema está, agora, se desintegrando. Então, por conseguinte, temos um poder imperial rentista-financeiro anglo-americano que está ameaçado pela extinção do seu sistema.
O caráter disso é demonstrado pela tentativa, desde 1989, de estabelecer o que se chama "globalização". Por exemplo, desde 1915-76, com a deflagração da tentativa de globalizar a Itália, sob as condicionalidades do FMI (Fundo Monetário internacional), tem havido uma tentativa de reduzir todos os Estados nacionais existentes, da condição de Estados nacionais avançados de caráter europeu, essencialmente, para a (condição) de dependências coloniais de um poder rentistafinanceiro internacional. Então, essencialmente, o conflito tem sido, como é agora, um conflito entre a forma moderna de Estado nacional soberano e um poder imperial rentista-financeiro, um novo tipo de Império Romano.
Então, portanto, o conflito se trava essencialmente entre a força por trás disso e a forças que representam os interesses do moderno Estado nacional soberano.
A implicação disso é vista claramente, quando pensamos sobre o que fazer, como Estados nacionais, no caso de um colapso do sistema financeiro. Sob a lei natural, como ela tem sido definida na Europa desde o Renascimento do século 15, como estabelecido pela Concordância católica de Nicolau de Cusa, a única base legítima para a existência de uma nação, de um Governo nacional, é o compromisso eficiente deste Governo com a promoção do bem-estar geral, do bem comum, de todo o povo e entre as nações.
Agora, a despeito dos problemas do período de guerra religiosa dos séculos 16 e 17, temos conseguido preservar aquele legado do bem comum como um princípio de lei fundamental geral da sociedade civilizada. O que, num momento de crise, significa que o Estado, o Estado soberano, deve intervir, em colaboração com outros Estados soberanos, para reorganizar o sistema financeiro, para assegurar a proteção do bem-estar geral. Assim, nesta forma, o Estado nacional moderno é o maior inimigo da tentativa de criar um novo império.
Portanto, temos o significado do que está acontecendo na Ásia, que tem duas dimensões principais. De um lado, temos, com os acontecimentos em torno do presidente (Vladimir) Putin da Rússia, bem como, antes dele, do primeiro-ministro (Yevgeni) Primakov, uma tendência a aproximar as nações da Ásia e da Europa. O segundo problema colocado por isto é que temos duas culturas básicas neste planeta. Nós temos, não uma civilização ocidental, mas uma civilização européia. Por civilização européia, eu me refiro a algo que começou no Egito, se desenvolveu na Grécia em torno de figuras como Sólon e Plaião, e se transformou numa nova cultura européia por intermédio da missão apostólica de João e Paulo.
Essa cultura, cultura européia, se baseia na concepção do homem à imagem de Deus, que é a base da noção de bem-estar geral na lei. Isto inclui a forma reformada do judaísmo, como exemplificado por Moses Mendelssohn. Também teve uma influência no Islã; é a origem do Islã. Mas, quando vamos para o Sul da Ásia, encontramos uma cultura diferente. Nestas culturas, não prevalece a idéia da concepção do homem como sendo à semelhança de Deus. Temos uma aproximação disto sob a influência do Islã. Certos aspectos do hinduísmo não são inteiramente hostis a este conceito. Nem a tradição confuciana na China. Mas, quando lidamos com a Ásia, não temos uma aceitação dos mais fundamentais e mais preciosos princípios da cultura européia.
Então, de um lado, não nos é difícil aproximar-nos da China, Japão, índia e outros países, e dizer: "Nós queremos respeito pela perfeita soberania dos Estados nacionais." Mas, quando dizemos o que isto significa, chegamos à concepção de cultura, a concepção do homem. Neste caso, se tentarmos uma abordagem de um jeito, acabaremos em uma política impossível e autoderrotável. Se dissermos que iremos respeitar a opinião de outras culturas, criaremos uma ordem que é como o panteão pagão romano, e podemos ver no plano para um choque de civilizações, precisamente, como isto funciona.
Na história da civilização, na antiga Babilônia, por exemplo, até o presente, todos os impérios se basearam no princípio do panteão. E a maneira como o imperador dominava o império era jogar as diferentes religiões do império umas contra as outras. O que (Zbigniew) Brzezinski está propondo é exatamente isto: uma guerra entre culturas - definir o planeta como um panteão e promover guerras entre as diferentes religiões e culturas do panteão. Esta é a tese do "choque de civilizações" islâmico de Zbigniew Brzezinski. Então, do ponto de vista da nossa tradição cristã, não se pode abordar esse assunto de um ângulo de doutrina. Devemos abordá-lo de um ângulo missionário, de um ângulo apostólico, não de um ângulo doutrinário. Em lugar de dizer, quais são as diferenças entre nós, temos que dizer, qual é a concordância entre nós? Isto significa que tem que ser, como tem proposto o presidente do Irã, (Mohamed) Khatami, uma discussão da concordância em torno da idéia do homem, mas uma discussão contínua do que isto significa.
Não se pode unificar as pessoas, exceto em torno de um princípio comum. Nunca se pode unificar as pessoas em torno de um panteão. Podemos ver isto na Babilônia, no culto délfico do satânico Apoio, na Roma pagã, e assim por diante. Podemos ver isto no destino de Bizâncio, que se condenou a si própria da mesma maneira em que o Império Romano se condenou, tentando organizar a civilização em torno de um panteão. Deve haver uma concepção do homem. Devemos fazer isto. Então, este é o nosso problema.
Bem, o inimigo está bem a par disso. Então, temos agora a crise em marcha, a crise financeira. Nada pode deter o colapso do sistema em sua presente forma. Qualquer tentativa de perpetuar o sistema apenas tornará as coisas piores. Esqueçam os mercados financeiros, eles estão condenados, de qualquer maneira. O que o mercado financeiro fizer este mês, no mês que vem ou no mês seguinte, não tem a menor importância.
A economia mundial, incluindo os EUA, está experimentando um colapso Iliperinflacionário de expansão monetário-financeira e um colapso deflacionário econômico. E as pessoas que planejaram esse golpe de Estado contra os EUA aceitam este fato.
Nós não sabemos quem são os planejadores do golpe. O que sabemos é o fato de que existem certas características técnicas dos ataques de lide setembro que não poderiam ter sido executadas por ninguém fora dos EUA. Isto teve exatamente a forma de um golpe de Estado militar. Qualquer um que tenha estudado os golpes de Estado deste tipo sabe exatamente disto, pela observação dos fatos. Cada Estado possui certas provisões de segurança contra golpes de Estado. Elas são mais ou menos eficientes, quando usadas. Mesmo se o golpe for deflagrado, provavelmente, ele será enfrentado e abortado. Os conspiradores devem assegurar-se de que, ou as medidas de segurança não estão funcionando, ou que poderão impedir que elas sejam acionadas.
Agora, vejam, esse tipo de conhecimento não se encontra exatamente em departamentos de polícia; ele existe, principalmente, em serviços de inteligência e serviços militares. E, sempre que um golpe é dado, ele é dado porque as pessoas que estão dando o golpe são uma minoria. Se elas fossem o poder majoritário, elas simplesmente tomariam o poder. Então, um golpe de Estado é um método de se tomar o poder fraudulentamente.
Por exemplo, pode-se atear fogo num cinema, e as pessoas entrarão em pânico como conseqüência do incêndio; então, podem-se fazer certas coisas, pelo fato de que algumas poucas pessoas provocaram o pânico em muitas outras. Esta é uma explicação simples de como funciona um golpe de Estado.
O que eles fizeram foi atear fogo aos edifícios na Baixa Manhattan e ao Pentágono. Havia dezenas de milhares de pessoas naqueles prédios, das quais talvez seis mil tenham sido mortas. Eles visaram o Pentágono. Se tivessem passado uns poucos metros mais alto, no ataque ao Pentágono, teriam eliminado o Estado-Maior Conjunto. Todos os esquemas de segurança que deveriam estar funcionando para evitar que isto ocorresse estavam fora de ação. As manobras foram altamente sofisticadas. Nenhum Governo árabe, nenhuma organização terrorista árabe poderia, de modo algum, ter feito isto. Isto apenas pode ter sido feito de dentro do comando dos EUA.
Bem, nós sabemos certas coisas que indicam que pode ter havido cúmplices estrangeiros, mas esta é a questão crucial.
Agora, o que isso implica? Isso significa, de um lado, sabemos disto pelo caráter das ações, que foi uma tentativa de golpe de Estado. O que mais sabemos? Qual era o propósito do ataque? O propósito do ataque era levar os EUA a uma guerra de "choque de civilizações". Bem, nós sabemos quem tem esta política. Existem três lugares em que esta política existe: o comando militar de Israel; o Governo Blair na Inglaterra; e um bando de círculos financeiros nos EUA, representados por Henry Kissinger, Brzezinski e assim por diante, muitos outros. Existe gente dentro do Governo dos EUA que compartilha essa visão - (Paul) Wolfowitz, o secretário de Defesa Assistente; (Richard) Armitage, o número dois no Departamento de Estado. Gente deste tipo. (O procurador-geral John) Ashcroft, obviamente, é parte desta coisa. Isto quer dizer que esta gente fez isso? Não necessariamente,
Em um golpe de Estado, o que se tem é uma concordância ampla entre certas pessoas, sobre uma linha de política. Então, algumas pessoas que têm esta concordância, dizem: "Vamos fazer isso acontecer." Então, dentro da estrutura de poder, temos um Sr. X. O Sr. X tem um uniforme ou uma posição oficial, e tem uma dupla posição: uma como membro da administração, do Establishment, e outra como membro da trama do complô. uma verdadeira conspiração; elas existem, ao contrário do que afirmam as mitologias. As conspirações existem realmente. Algumas são tolas, outras são perigosas.
Então, portanto, o que vimos é que há um grupo que tentou incendiar os EUA, levar os EUA a apoiar Israel, sob o seu presente comando, em def lagar uma guerra generalizada contra o mundo árabe, com o propósito geopolítico de destruir a tentativa de cooperação entre a Europa e a Ásia. Então, nós não sabemos quem são os perpetradores, mas já vimos que o atual Governo de Israel, o primeiroministro do Reino Unido, Tony Blair, e outros, estão por trás desta política. Foi Blair que levantou na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) essa questão do Artigo 5 (da Constituição da OTAN), que, de outra maneira, não teria ido adiante*. O impulso era para chantagear e aterrorizar o presidente e outras pessoas no Governo dos EUA, levando-os a bombardear o Afeganistão, o que é uma tolice. Tudo isto apoiado por grande parte da mídia controlada pelos EUA, que tem tentado atemorizar as pessoas e levá-las a esse estado de histeria sobre ir contra e matar todo mundo que for árabe, ou coisas do gênero. * O Artigo 5 da constituição da OTAN determina que um ataque externo a um Estado-membro da organização é considerado urn ataque a todos os demais membros.
Então, essa é a situação. E isto se torna claro quando vem à tona a confrontação entre Bush e Blair, como ocorreu nos últimos dois dias. Quando Bush diz, 'Nós devemos ter um Estado palestino estabelecido", Blair diz, Não, (o primeiroministro de Israel Anel) Sharon diz, 'não', e o comando militar de Israel diz, 'nós vamos matar'." Assim, o caráter do golpe fica exposto.
Agora, como reagimos a isso? Temos que mergulhar fundo e descobrir as pessoas que planejaram o golpe? Este é o caminho errado a ser seguido. Enquanto os estivermos perseguindo, não estaremos lidando com o problema. A questão é, como derrotar o propósito do golpe? Bem, se as pessoas não aceitarem o resultado de um golpe, ele não funcionará. Um golpe de Estado depende da predisposição das pessoas de aceitar o fato consumado.
Então, como estabelecemos o mando da lei? Temos que tomar medidas que enfrentem diretamente o problema, ou seja, usar o princípio do Estado nacional para promover cooperação na Ásia, na Europa, em torno dos problemas econômicos e correlatos fundamentais, e obter a cooperação dos EUA e outros países para apoiar este esforço. Se as nações da Eurásia disserem, "Nós não toleraremos isto", o golpe não funcionará.
A minha preocupação é tentar fazer com que os EUA digam que isso não acontecerá. E, se acontecer, não funcionará; então, o que tem que ser feito é se encarar o problema real, que é a crise financeira e monetária, que é o que eu e outros temos proposto, como uma abordagem de uma Nova Bretton Woods. Ou com a idéia da Ponte Terrestre Eurasiática, que é uma maneira muito específica de criar uma política econômica que apóie a idéia de uma Nova Bretton Woods. Isto é óbvio, é uma necessidade bastante óbvia. A Europa, a Europa Ocidental, não pode sobreviver economicamente nas condições atuais. A menos que a Europa possa exportar novamente, expandir as suas exportações de produtos de tecnologia, especialmente para a Ásia, ela não poderá sobreviver.
Para se chegar a isso, isto significa que temos que chegar a acordos sobre o desenvolvimento econômico da Eurásia e, então, enfrentamos o problema de como transformar a percepção por parte do Japão, da China, da índia, do Sudeste Asiático - de como termos um entendimento da parte deles, bem como da nossa, sobre como poderemos trabalhar juntos. Que princípios, que idéias teremos, que sejam idéias de cooperação positivas, e não apenas comércio? É aí que devemos ter uma concepção do tema do homem. Devemos ter um diálogo de culturas, mas um diálogo, não no âmbito de um panteão, e sim um diálogo de culturas em torno da questão da natureza do homem. Um objetivo mínimo deveria ser o estabelecimento do mesmo princípio que foi estabelecido por Nicolau de Cusa na Concordância católica, e também foi articulado pelo secretário de Estado John Quincy Adams nos EUA - uma comunidade de Estados nacionais soberanos, uma comunidade de princípios. O princípio está enraizado na natureza do homem. O princípio é o do bem comum, do bem-estar geral. Assim sendo, devemos ter acordos entre cristãos, várias correntes chinesas, japonesas, indianas e assim por diante; acordos de princípios sobre a natureza do homem, na medida em que isto nos permite definir um acordo para o bem comum, o bem-estar geral da população.
A lei ordinária, a lei positiva, não funcionará para esse propósito. Deve ser uma lei muito simples. A noção do bem-estar geral, do bem comum, de que, sempre que houver uma crise, a deliberação tem que ser: o que é o bem-estar geral? O que é o bem comum? Porque devemos juntar este planeta novamente. Até onde sabemos, os seres humanos em grandes grupos têm se matado uns aos outros. Há aqueles que, na tradição empirista, dizem que isto acontecerá até o fim dos tempos. Eu penso, ao contrário de Bertrand Russell, que, na verdade, com o desenvolvimento das armas nucleares, nós chegamos ao ponto em que deveríamos reconhecer que a guerra tem um limite. Como chegamos a este limite da guerra? Nós reconhecemos que a solução não está em criar um panteão, como Bertrand Russell e companhia sugerem; não é transformar a raça humana num zoológico, mas encontrar um princípio de lei comum, um verdadeiro princípio comum. Uma lei que nos seja tornada clara pela própria natureza: a natureza do homem.
O homem é um ser cognitivo, com o poder de fazer descobertas de princípios, o que nenhum animal pode fazer: transformar a natureza e transformar a relação do homem com a natureza. A comunicação destes conceitos de descobertas, que são descobertas na arte e nas ciências físicas, dentro de uma população e de uma geracão para outra, isto deveria ser a lei. E, acho eu, esta é a única esperança. Devemos trabalhar, devemos entender que há um limite para a guerra. A sociedade moderna chegou ao ponto em que a guerra, de qualquer maneira, pode ser tornada terrível ao ponto de não poder ser travada. Então, devemos ter o tipo de pensamento que seja apropriado a esta realidade.
Chegamos, então, a um ponto da História em que há uma tentativa de mergulhar toda a Humanidade numa idade das trevas, e isto é o que acontecerá se prevalecerem as idéias de gente como Brzezinski. Devemos estabelecer o tipo de diálogo de culturas que mencionei, em torno da questão prática de reuniras nações da Eurásia para cooperar no enfrentamento dessa crise. E devemos envolvera África e as Américas neste processo. Se conseguirmos, teremos, provavelmente, conseguido a maior façanha de toda a história política. Poderemos ter dado início à vida adulta da raça humana.
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