Textos de Lyndon LaRouche

Argentina, a lição de Carnot

19 de janeiro 2002

Por ocasião do Quarto Seminário “Brasil-Argentina, a hora da verdade”, realizado em Passo Fundo (RS), Lyndon LaRouche enviou a seguinte mensagem:

Transmito a seguinte mensagem de boas vindas aos estimados cidadãos da Argentina e do Brasil:

Como pré-candidato presidencial dos EUA, tenho grave e patriótica preocupação pelo perigo que meu país inflige aos vossos e a todo o mundo. Esse perigo surge das conseqüências das contínuas tolices de minha própria república, (sem haver) qualquer adversário externo plausível. Preocupo-me também com seus parceiros naturais no hemisfério, como as repúblicas argentina e brasileira.

Todos nós entramos ultimamente no período mais perigoso da história da civilização européia, estendida a todo o mundo desde o Tratado de Vestfália de 1648. Como o economista mais consistentemente bem-sucedido em seus prognósticos dos últimos 30 anos, asseguro-lhes que a crise em que entramos neste ano não é mera depressão econômica mundial, mas a queda geral ameaçadora de toda a civilização, e mais imediatamente ameaçando mergulhar todo o planeta em nova e prolongada idade das trevas.

Inevitavelmente, os meses recentes da fase terminal do colapso do sistema monetário-financeiro mundial pós-1971 nos jogaram em novo período de guerra global intensa e conseqüentes lutas homicidas. Os eventos do 11 de setembro e a maré montante da guerra decorrente ecoam os golpes de estado de 1933-34 de Adolf Hitler, a serem reconhecidos como expressão legítima e correlativa do colapso do atual sistema monetário-financeiro do FMI.

Tais eventos da crise cruzam com a insurgência de uma política militar há muito preparada, e chamada “utópica”, associada a figuras dos EUA como Zbigniew Brzezinski e Samuel Huntington, modeladas conforme o precedente histórico imediato da Waffen-SS nazista internacionalizada.

A recente tentativa de golpe militar em 11 de setembro contra o governo do presidente George W. Bush, e os esforços para levar os EUA à forma utópica de aliança militar com a atual ditadura militar em Israel para lançar a guerra étnico-religiosa global genocida - são a realidade em que as presentes ameaças à Argentina e Brasil se inserem imediatamente. É a ameaça militar daqueles traiçoeiros utópicos, contra a Constituição dos EUA e outros alvos, que constitui a característica especial dessa situação mortal.

Como devemos lidar com o componente militar dessa ameaça? Apresento uma observação que não deve ser deixada de lado, nessas circunstâncias. Desde que o presidente Harry Truman demitiu o general Douglas MacArthur, as políticas militares anglo-americana e da OTAN foram transformadas em rejeição do princípio do cidadão-soldado, sobre o qual se basearam as grandes melhorias da filosofia militar dos séculos 18 e 19. Essas tradições, vitoriosas na independência dos EUA, na Guerra Civil de 1861-65 e na Segunda Guerra Mundial, foram em sua maior parte destruídas, subvertidas e substituídas cada vez mais por nova doutrina militar e sua estratégia relativa.

Em verdade, essas perversões da política militar foram denunciadas publicamente pelo próprio MacArthur, pelo presidente Dwight Eisenhower, pelo senador William Fullbright e outros.

Essas doutrinas militares pervertidas e chamadas “utópicas”, defendidas por Samuel Huntington em seu livro O soldado e o Estado, de 1957, são declarada tentativa de reviver a doutrina e prática imperiais das legiões romanas pagãs. Essa tradição imperial romana ecoou nos exércitos privados da Companhia Britânica das Índias Orientais, e foi o modelo usado para estabelecer o primeiro estado fascista moderno, o do imperador Napoleão III. Este fascismo e o de seu imitador Benito Mussolini foi copiado por Adolf Hitler. A tradição das legiões romanas ecoou na evolução internacionalista das Waffen-SS nazistas. Essa tradição romana pagã, e o precedente das Waffen-SS nazistas, serviram de modelo para a doutrina do fascismo universal, ensinada e praticada hoje como doutrina militar dos EUA pelos utópicos militaristas como Zbigniew Brzezinski e Huntington, e promovida por instituições como as Fundações Smith-Richardson, Olin e Mellon-Scaife e outras.

Essa utopia é atualmente ameaça imediata à própria existência contínua da Argentina e Brasil como estados soberanos, e à integridade das Américas Central e do Sul e a toda a civilização.

Essa transformação em políticas e práticas militares dos EUA, anglo-americana e da OTAN foi iniciada com a demissão de MacArthur, introduzindo assim a tolice do tipo de guerra prolongada na Coréia, que depois foi reencenada de forma mais extrema e desastrosa na guerra dos EUA na Indochina, e de novo no início da guerra geopolítica prolongada no Afeganistão em 1979, pelos olhos arregalados do utópico Zbigniew Brzezinski.

Hoje, vivemos sob as circunstâncias da desintegração em marcha do atual sistema monetário-financeiro mundial, e os esforços dos confederados de Brzezinski para deslanchar um estado geral de “choque de civilizações” de guerra étnico-religiosa planetária. Há certas lições da história moderna que devem merecer a maior atenção das forças políticas sérias de todo lugar. A principal referência deve ser a destruição que o imperador fascista Napoleão Bonaparte encontrou em sua campanha russa de 1812, contra a qual a mente militar muito superior de Lazare Carnot explicitamente alertou o imperador.

Alternativa estratégica

Consideremos o conceito de cidadão-soldado e o princípio de defesa, advogados e praticados por Carnot e adotados pelos aliados da Rússia, Scharnhorst et al., a respeito daquela campanha.

O único objetivo justificado da guerra é o estabelecimento de uma condição de paz mais ou menos durável. Tal política requer a derrota do adversário, mas nunca o extermínio virtual ou o esmagamento do povo derrotado. A intenção deve ser tornar a nação derrotada como pilar essencial da paz no pós-guerra; essa derrota será melhor assimilada pela aceitação desse papel futuro como farol da paz na ordem do pós-guerra.

MacArthur ilustrou-o brilhantemente na guerra do Pacífico de 1941-45, especialmente quando suas políticas são comparadas com as batalhas no Pacífico, sangrentas mas desnecessárias, dos comandantes estadunidenses de inclinações erráticas e contraditórias. A política de MacArthur de bloquear o Japão levaram as ilhas à iminente e inevitável rendição; a explosão de bombas nucleares sobre civis foi uma das maiores tolices morais e estratégicas dos últimos 56 anos.

Em todos os aspectos, nem a guerra nem a busca perpétua de mercenários lunáticos para novas escolhas de prováveis inimigos são a condição normal da Humanidade. A guerra, enquanto justificada, é uma fase no esforço dessa Humanidade para alcançar a ordem “multipolar”, prescrita pelo ex-secretário de Estado dos EUA John Quincy Adams, a comunidade de princípios entre estados nacionais republicanos e perfeitamente soberanos.

Para tal fim, a cobiça do mercenário por novos inimigos-vítimas e novas guerras deve ser submetida à ênfase filosoficamente republicana da estratégia de defesa do princípio dos cidadãos-soldados, como Carnot e Scharnhorst exemplificaram. Da mesma forma que a estratégia de defesa derrotou o Grand Armé napoleônico “Waffen-SS”, presumidamente inconquistável, devemos nos apoiar hoje no mesmo princípio subjacente da estratégia de defesa.

O soldado deve ser um construtor, não um matador, por profissão. Ao contrário dos guerreiros aristocráticos de gabinete do século 18, Carnot era um engenheiro-cientista, que preservou as lições dos métodos de defesa de Vauban. Scharnhorst foi um cidadão educado pelo programa montado pelo grande Moses Mendelssohn na academia militar de Wilhelm Graf Schaumburg-Lippe.

O soldado-engenheiro

De 1792 a 1794, Carnot derrotou todos os exércitos estrangeiros que visavam destruir e desmembrar a França, não só pela levée en masse, como pela combinação de excelentes princípios de comando com o maior programa científico e de engenharia da história, até então. O conceito de Scharnhorst do papel essencialmente decisivo do cidadão servindo como soldado, e o desenvolvimento do princípio do Estado Maior por Carnot e Scharnhorst, produziu a forma mais efetiva de política militar moderna. Esta se baseava no princípio da defesa estratégica e no desenvolvimento educacional e científico-tecnológico do cidadão do estado nacional republicano soberano.

Estas qualidades características, enfatizadas por esses grandes pioneiros da moderna estratégia de defesa, devem ser comparadas com os traços característicos da mentalidade e prática dos fascistas universais utópicos, da prática militar contemporânea. Para os objetivos estratégicos, a expressão-chave dessa diferença está no fato de que o exército republicano conquista construindo o potencial econômico, enquanto o utópico conquista destruindo esse potencial. Eis aqui a chave para flanquear a estratégia utópica.

Aproximadamente metade do potencial econômico per capita de qualquer nação está essencialmente no desenvolvimento do que se chama infra-estrutura econômica básica. Esta engloba programas estatais em revolucionar a qualidade da terra pelo fornecimento e tratamento de água em grande escala, sistemas de transporte de massa nacional e regional, sistemas energéticos nacional e regional de crescente densidade de fluxo-energético, organização urbana e sistemas educacionais para todo o povo, de acordo com os modelos de educação científica e cultura clássica.

Enquanto parte disso pode ser feito pela iniciativa privada, a responsabilidade intrínseca pelo desenvolvimento, manutenção e regulamentação da infra-estrutura econômica básica está no Poder Executivo do governo nacional. Toda a infra-estrutura econômica básica deve ser regulamentada pelas instituições relevantes dos governos nacional, estaduais e municipais, seja ou não o trabalho feito por agências governamentais, ou empresários privados concessionários. Historicamente, os corpos de engenheiros militares, ou o que são com efeito as mesmas funções realizadas por militares com outros títulos, têm sido o elemento crucial de todo o esforço nacional. A contribuição passada dos Corpos de Engenheiros Militares dos EUA é exemplar.

Os grandes líderes militares nunca deixaram de lado as conseqüências táticas do treino da força militar nacional e de suas reservas com capacidade em engenharia. As qualidades superiores de combate do soldado alemão, desenvolvidas sob Moltke e de acordo com a intenção de Scharnhorst, é notável demonstração disto. Foi principalmente nesse aspecto, o logístico, que o soldado estadunidense, menos capaz que o alemão no combate, preencheu sua missão na Segunda Guerra Mundial. Entretanto, combinando ambas as experiências nacionais com as de outras nações, devemos reconhecer o papel da combinação das políticas educacionais humanistas clássicas com o progresso tecnológico, no fornecimento da base social para a implementação bem-sucedida da doutrina da Auftragstaktik, da qual dependia substancialmente a excelência em combate da unidade militar alemã.

Digamos àqueles crédulos que admiram os utópicos: “Soldado, podes reconstruir o que acabaste de explodir?”

Hoje, por todo o mundo, vemos terrível encolhimento da média dos poderes produtivos do trabalho, em relação ao passado. A Argentina dá o exemplo mais claro de destruição do potencial econômico nacional, sob o impacto das políticas estadunidenses pós-1964, especialmente pós-1971, e pós-1982 para o Hemisfério. Por todas as Américas, há vasto déficit no desenvolvimento da infra-estrutura econômica básica. Como na Argentina e Brasil, alguns dos mais vastos e ricos potenciais de todo o planeta estão inaproveitados por causa principalmente da ingerência externa que impede o desenvolvimento da infra-estrutura econômica básica, de que depende o aproveitamento daqueles.

Considerando as levas maciças de desempregados e subempregados, e a necessidade urgente de elevar substancialmente essas economias acima do nível de equilíbrio físico-econômico outra vez - a oportunidade principal imediata para o crescimento rápido do emprego útil está na implementação de planos preparatórios para o desenvolvimento de infra-estrutura em grande escala. Para a maior parte disso, as equipes de engenheiros militares têm papel indispensável. Essa iniciativa do lado militar fornecerá a espinha dorsal do esqueleto sobre o qual o lado civil da construção de infra-estrutura adicionará músculos e carne.

O uso do princípio da perfeita soberania do estado nacional - pondo os corruptos sistemas financeiros em concordata estatal, e simultaneamente mobilizando e criando diretamente o crédito nacional, para expansão vasta do emprego na construção da infra-estrutura, e outros esforços produtivos - é o único caminho para defender e salvar nações, nas atuais circunstâncias mundiais.

As alternativas a esse conjunto de medidas são todas conseqüências horríveis para a nação e toda a humanidade.

Guerra ao terrorismo

Concluindo, enfatizo o seguinte, sobre a chamada “guerra ao terrorismo”. As políticas fascistas universais dos utópicos decadentes, como Brzezinski e Huntington, conquistam destruindo o que consomem. Assim, enfraquecem as próprias forças das quais depende sua capacidade. Infelizmente, por essa própria lógica, a atual conduta dos estamentos militares dos EUA, sob a rubrica da “guerra ao terrorismo”, tende a derrotar o objetivo estabelecido para a mesma.

A primeira fonte do problema está no uso errado da palavra “terrorismo”, mas atualmente popular. Há um fenômeno que corresponde a parte do que a política atual chama de “terrorismo internacional”. Infelizmente, a falta de precisão ao definir o termo cria um problema tão potencialmente mortal como o próprio terrorismo.

A palavra certa para o problema não é “terrorismo”. O nome do problema é o desenvolvimento utópico da chamada “guerra irregular”, nos últimos 50 anos. Suas novas doutrinas e práticas foram adaptadas às novas condições definidas pela declarada intenção de H.G.Wells e sir Bertrand Russell de usar armas nucleares como uma ameaça tão terrível que, como eles afirmavam, as nações desistiriam de sua soberania em favor do governo mundial, para evitar a guerra. Os estados portanto dependeram cada vez mais de formas secretas de “guerra irregular” como meios de guerrear contra outras nações, ou até alvejar grandes porções de seus próprios povos.

Um exemplo disso é a forma pela qual o elemento fascista italiano “Gladio”, que os EUA e a Grã-Bretanha incorporaram à organização secreta do pós-guerra, foi usado como instrumento de ações terroristas anglo-americanas e israelenses contra a Itália, nos anos 70. O assassinato de Aldo Moro foi notável exemplo; o assassinato anterior de Enrico Mattei, e as tentativas de assassinar o presidente francês Charles de Gaulle são também exemplos do mesmo método.

Sob os assessores de Segurança Nacional dos EUA Henry Kissinger e Zbigniew Brzezinski, ênfase crescente foi dada ao uso cada vez maior da guerra irregular e de exércitos privados, financiados grandemente pelos tráficos de armas e drogas, o que se tornou a direção principal do desenvolvimento. A operação “Irã-Contras” foi um exemplo. A mudança para essas formas de “guerra irregular”, iniciada em larga escala por Brzezinski no Afeganistão, foi correlata ao expurgo acelerado, nas instituições militares e outras dos EUA, de suas capacidades tradicionais e perspectivas, e se enfatizando cada vez mais o soldado como um “matador Nintendo” com olhos arregalados.

Para derrotar o que foi legitimamente denunciado como efeitos do terrorismo internacional, devemos primeiro limpar os sistemas de lavagem-de-dinheiro associados ao tráfico de drogas, e problemas correlatos. Isto os governos importantes até agora não querem fazer. Entretanto, devemos fazer também duas coisas:

Devemos destruir as capacidades de ações como as de 11 de setembro, que só existem nas instituições militares das potências principais. Devemos flanquear os guerreiros utópicos, usando nossa arma, o crescimento econômico, contra a deles, a destruição lunática. Se não reunirmos a coragem para defender o crescimento econômico contra as exigências de que desmantelemos os elementos essenciais de nossas economias, nós, por nossa própria negligência, teremos nos rendido ao reinado utópico da destruição geral de toda a humanidade.

Não há preço que um verdadeiro patriota não pague para impedir que essa era das trevas envolva toda a Humanidade.




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