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RESENHA LITERÁRIA

Como a Pandemia Infligiu um Choque de Realidade ao Plano de ‘Grande Reinício’

por Andrea Andromidas

“COVID-19: The Great Reset” (i.e. “COVID-19: O Grande Reinício”)
por Klaus Schwab e Thierry Malleret
Genebra: Fórum Económico Mundial, 9 de Julho, 2020
Versão em papel, 282 pages, $10.99; ebook, $4.99

O aparecimento de Greta Thunberg no Fórum Económico Mundial do ano passado tornou explícito que o encontro anual em Davos não é apenas um evento para os ricos do mundo. Pelo contrário, reúne também os mais influentes ideólogos “verdes”, aqueles que projetaram a descarbonização da economia e planearam o “Green Deal,” e que, mais recentemente, têm vindo a promover o “Grande Reinício.”

Klaus Schwab, fundador e Presidente do Fórum Económico Mundial, não faz segredo do fato de que o seu amigo, Príncipe Carlos, tem sido, ao longo dos anos, uma espécie de visionário para esta sociedade ilustre. A 5 de Junho de 2020, o Príncipe declarou, no Canal de YouTube da Família Real, que a pandemia de COVID oferece uma oportunidade de ouro para a implementação dos seus grandes desígnios de transformação ecológica do mundo. “É uma oportunidade que nunca antes tivemos, e que podemos nunca mais voltar a ter…” A sério?

Porém, um mês mais tarde, o livro intitulado COVID-19: O Grande Reinício, por Schwab e Thierry Malleret, publicado a 9 de Julho de 2020, veicula, em larga medida, uma impressão muito diferente: nomeadamente, a de que o inesperado choque de realidade está a causar uma grande preocupação em círculos maltusianos. Está a crescer o receio legítimo de que, devido à pandemia, a comunidade internacional venha a considerar irrealistas a histeria climática, e crescimento zero, e de que venha a focar-se, ao invés, naquilo que diferencia o Homem dos animais: o espírito de inovação, progresso, e desenvolvimento para uma nova era. As pessoas têm a expetativa válida de que os governos exerçam os seus poderes e as suas responsabilidades soberanas em prol do bem público, e de que rejeitem a destrutiva agenda verde.

É instrutivo rever “COVID-19: O Grande Reinício” com isto em mente. É de nota que o programa para a semana da “Agenda de Davos” (25-29 de Janeiro) do Fórum Económico Mundial de 2021 não alardoe o Grande Reinício. O mesmo é válido para o próximo livro de Schwab, a ser publicado a 27 de Janeiro, Stakeholder Capitalism: A Global Economy that Works for Progress, People and Planet [i.e. Capitalismo de Stakeholders: Uma Economia Global que Trabalhe para o Progresso, para as Pessoas, e para o Planeta]. Aqui está uma tentativa de dar um novo aspeto ao veneno.

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WEF/Benedikt von Loebell
Ideólogos verdes: Greta Thunberg e Carlos, Príncipe de Gales, no Fórum Económico Mundial em Davos, Suiça, 22 de Janeiro, 2020.

A Pandemia—O Choque de Realidade

A introdução a “COVID-19: O Grande Reinício” declara:

Historicamente, as pandemias testam as sociedades a toda a linha; a crise de COVID-19 de 2020 não será uma exceção… As mudanças [resultantes da Peste Negra do século 14] foram tão diversas e generalizadas, que levaram ao fim de uma era de submissão, colocando um ponto final em feudalismo e em servitude, e trazendo a era da Iluminação. Colocando a questão de modo simples: a Peste Negra pode ter sido o irreconhecido início do Homem moderno…

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WEF
Henry Kissinger, Presidente, Kissinger Associates, Inc., na conferência de imprensa de abertura do Fórum Económico Mundial de 2008.

Depois, vem uma citação de Henry Kissinger no The Wall Street Journal, em Abril de 2020:

As nações coerem e florescem com base na crença de que as suas instituições conseguem antecipar a calamidade, suster o seu impacto, e restaurar a estabilidade. Quando a pandemia de COVID-19 terminar, as instituições de muitos países serão percebidas como tendo falhado.

Na página 76 do livro, encontramos a seguinte passagem:

Isto será particularmente verdadeiro para alguns países ricos, dotados de sistemas de saúde sofisticados, e de fortes capacidades em investigação, ciência e inovação, e nos quais os cidadãos questionarão porque é que as suas autoridades tiveram um desempenho tão pobre, por comparação com as de outros países. Nestes países, a própria essência do tecido social e do sistema socioeconómico pode vir a ser denunciada como a real culpada, incapaz de garantir o bem económico e social da maioria dos cidadãos…

Ao contrário de muitos outros, que optam por passar ao lado da realidade, os círculos em redor de Schwab reconhecem abertamente que muitos países asiáticos têm tido significativamente mais sucesso a lidar com a crise. Na página 77, o livro afirma que:

Porém, e no agregado, os países com melhor desempenho partilham os seguintes atributos comuns e gerais:

Estavam preparados para o que aí vinha (logística e organizacionalmente)

Tomaram decisões rápidas e decisivas

Têm sistemas de saúde inclusivos e eficientes em custos

São sociedades onde há o cultivo de confiança: onde os cidadãos têm confiança na liderança e na informação que é pela mesma providenciada

Parecem sentir o dever para a exibição de um real senso de solidariedade, favorecendo o bem comum sobre aspirações e necessidades individuais.

O Maior Medo Verde: O Regresso do Estado

Na página 89 de “COVID-19: O Grande Reinício,” os autores Schwab e Malleret citam as palavras de John Micklethwait e de Adrian Wooldridge num artigo publicado pela Bloomberg a 12 de Abril de 2020, “The Virus Should Wake Up the West” [“O Vírus Devia Acordar o Ocidente”]:

A Pandemia de COVID-19 tornou o Estado importante uma vez mais. O Estado não volta apenas a ser poderoso, torna-se também vital, uma vez mais… Se um país tem um bom sistema de saúde, burocratas competentes, finanças em ordem; tudo isto se torna de enorme importância. Bom governo é a diferença entre viver e morrer.

Micklethwait é o Editor-Chefe da Bloomberg News, e Wooldridge é o Editor da secção de Gestão, tal como colunista “Bagehot”, para a revista The Economist.

Depois, os próprios Schwab e Malleret continuam:

Uma das grandes lições dos passados cinco séculos na Europa e na América é este: as crises agudas contribuem para a expansão do poder do estado. Este foi sempre o caso, e não há motivo para que as coisas sejam diferentes com a pandemia de COVID-19.

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WEF/Mattias Nutt
Klaus Schwab, Fundador e Presidente Executivo do Fórum Económico Mundial, a dirigir-se à sessão sobre “Capitalismo de Stakeholders: O Que é Requerido da Liderança Empresarial?”, no Fórum Económico Mundial, 2020.

Compreender este tipo de afirmações implica saber que a máquina de propaganda dos últimos 30 anos, para crescimento zero, foi construída inteiramente à base de redes supranacionais: em particular de instituições financeiras internacionais e dos seus lobbies, bem como de companhias multinacionais, e de um exército de organizações não-governamentais. O estado-nação, que, acima de tudo, tem de estar comprometido com o bem-estar dos seus próprios cidadãos, foi remetido a um papel subordinado, como livremente admitido no que se segue:

Nas décadas intervenientes (no mundo ocidental) o papel do estado diminuiu consideravelmente. Esta situação é uma que tenderá a mudar, dada a dificuldade de conceber que um choque exógeno da magnitude daquele que foi infligido pela COVID-19, possa ser resolvido com base em soluções puramente baseadas em mercado. Já hoje, e quase da noite para o dia, o coronavírus sucedeu em alterar as perceções prevalentes sobre o equilíbrio complexo e delicado entre as esferas pública e privada, a favor da primeira. Veio revelar que é eficiente ter uma segurança social, e que o descarte de continuamente mais responsabilidades (tais como saúde e educação) para cima dos indivíduos, e para os mercados, pode não ser no melhor interesse de uma sociedade. No que é um volte-face súbito e surpreendente, pode agora haver a normalização da ideia (que, apenas há uns poucos anos, teria sido anátema) de que os governos podem avançar o bem público, e que economias desenfreadas sem supervisão podem criar caos sobre o bem da sociedade. No mostrador que mede o continuum entre o estado e os mercados, a agulha move-se agora decisivamente para a esquerda. (p.91)

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UN/Saw Lwin
Margaret Thatcher, Primeira-Ministra do Reino Unido, 1979-1990.

Continuando na página 92:

Os estados assumem a mó de cima pela primeira vez, desde que Margaret Thatcher capturou o zeitgeist de uma era ao declarar que, “a sociedade não existe.” Seremos levados a repensar o papel do estado por tudo o que surgir na era pós-pandémica.

Embora não nomeiem Franklin Delano Roosevelt diretamente, Schwab and Malleret vão ao ponto de alertar para a possibilidade de que a pandemia possa vir a causar algo similar ao que aconteceu nos Estados Unidos durante os 1930s—algo que, do ponto de vista da máfia financeira, seria o pior cenário imaginável. Roosevelt prioritizou a economia real, e restringiu as operações financeiras. O livro declara:

Ao perspetivarem o futuro, os governos irão, com toda a probabilidade (embora com diferentes graus de intensidade), decidir que é no melhor interesse da sociedade reescrever algumas das regras do jogo, e aumentar permanentemente o seu papel. Nos EUA, nos 1930s, desemprego em massa e insegurança económica foram progressivamente lidados através do desempenho de um maior papel pelo estado. É provável que um curso de ação similar venha a caraterizar o futuro previsível… (p. 93)

O Medo da Pandemia Substitui o Medo das Alterações Climáticas

O livro lamenta que a pandemia se tenha substituído à cause célèbre orquestrada das alterações climáticas, e que este desvanecimento da segunda esteja para durar:

A pandemia está destinada a dominar o panorama político por anos, com o sério risco de que se possa sobrepor a preocupações ambientais. No que foi um episódio revelador, o centro de convenções em Glasgow onde a Cimeira COP-26, da ONU, deveria ter tomado lugar, em Novembro de 2020, foi, em Abril, convertido num hospital para pacientes de COVID-19. Já neste momento, negociações climáticas foram adiadas, e iniciativas políticas proteladas. Isto vem alimentar a narrativa de que, por bastante tempo daqui em diante, as atenções dos líderes governamentais estarão exclusivamente focadas no espetro multifacetado dos problemas imediatos criados pela crise pandémica (p. 143)

Continuando na página 144:

Na prática, e na era pós-pandémica, a luta contra as alterações climáticas deverá ir numa de duas direções:

1. A primeira corresponde à narrativa acima: as consequências económicas da pandemia são tão dolorosas, difíceis de resolver, e complexas de implementar, que a maior parte dos governos ao longo do mundo podem decidir colocar “temporariamente” de parte quaisquer preocupações sobre aquecimento global para, ao invés, colocarem o seu foco em recuperação económica.

Se esse for o caso, as decisões políticas apoiarão e estimularão, através de subsidiação, indústrias de alta intensidade de consumo de combustíveis fósseis, e de emissão de carbono. Da mesma forma, anularão standards ambientais estritos (vistos como impeditivos a rápida recuperação económica), e encorajarão companhias e consumidores a produzirem e a consumirem o máximo que possível.

2. A segunda direção é guiada por uma narrativa diferente, na qual negócios e governos são encorajados por uma nova consciência social, entretanto promovida por ativistas, e emergindo de largos segmentos da população geral: a consciência de que a vida pode ser diferente. Este momento será uma janela de oportunidade única, e tem de ser aproveitado para projetar uma economia mais sustentável, em prol do bem maior das nossas sociedades.

O Fórum de Davos vai promover a segunda via. Aquilo a que chamam “o bem maior das nossas sociedades” (ou, “capitalismo de stakeholders”) é, na realidade, fascismo de crescimento zero. Na segunda parte do livro, Schwab e Malleret informam-nos de como pretendem investir em ativismo, e recorrer a mentiras, tal como a novas medidas de controlo, para a concretização de tal propósito—dado que, se isso não funcionar, estarão acabados.

O nosso trabalho é o de garantir o fim de tal maltusianismo—agora e para sempre. Temos de colocar a pandemia sob controlo pelo recurso a progresso; e, dessa forma, abrir as portas a um novo período de desenvolvimento para a Humanidade.

 

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