Este artigo aparece na publicação de 28 de abril de 2023 da Executive Intelligence Review.
Cúpula Lula-Xi Jinping Produz Avanços para o “Sul Global”
por Dennis Small
20 de abril - Uma medida das realizações da viagem de 11 a 14 de abril à China do presidente brasileiro Inácio Lula da Silva, incluindo sua reunião de cúpula com o presidente chinês Xi Jinping em 14 de abril, é a enxurrada de comentários indignados na mídia financeira do Ocidente sobre a viagem. Um artigo petulante de "notícias" no Financial Times de 15 de abril foi típico.
Primeiro, o FT ficou furioso com esta declaração, na qual Lula disse:
Queremos elevar o nível da parceria estratégica entre nossos países, expandir os fluxos comerciais e, junto com a China, equilibrar a geopolítica mundial.
Em segundo lugar, o FT e outras mídias financeiras continuaram a se irritar com o discurso de Lula na posse, em 13 de abril, em Xangai, da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff como a nova presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS. Na ocasião, Lula declarou:
Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos en sua fase inicial.. Livre, portanto, das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local... A criação deste Banco mostra que a união de países emergentes é capaz de gerar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo...
Toda noite me pergunto por que é que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que é que nós não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que é que nós não temos o compromisso de inovar?...
É intolerável que, num planeta que produz alimentos suficientes para suprir as necessidades de toda a humanidade, centenas de milhões de homens, mulheres e crianças não tenham o que comer. É inadmissível que a irresponsabilidade e a ganância de uma pequena minoria coloquem em risco a sobrevivência do planeta e de toda a humanidade.
Depois, houve a decisão de Lula de visitar o centro tecnológico e de inovação da Huawei em Xangai, sobre o qual ele anunciou:
[A visita foi para] "dizer ao mundo que não temos preconceito na nossa relação com os chineses... Ninguém vai proibir que o Brasil aprimore a sua relação com a China"....
Em quarto lugar, Lula insistiu publicamente:
“É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz, para a gente poder convencer o Putin e o Zelensky de que a paz interessa a todo o mundo.”
O ponto em que a pressão de Washington e Londres aparentemente conseguiu traçar uma linha na areia - pelo menos por enquanto - foi em seu ditame de que o Brasil não se unisse formalmente à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, por sua sigla em inglês), que abriria as portas para os grandes projetos de infraestrutura da América do Sul, há muito almejados. As autoridades brasileiras anunciaram que, por enquanto, estão "estudando" a questão da BRI e estão abertas a considerá-la.
Além disso, foram assinados 15 acordos bilaterais comerciais e de parceria, no valor total de US$ 10 bilhões, segundo relatos, e 20 novos acordos comerciais entre empresas brasileiras e chinesas, além de outros 20 assinados por empresários brasileiros que já estavam na China em março, quando Lula teve que adiar sua visita programada devido a uma pneumonia.
Após seu retorno ao Brasil, Lula e outras autoridades brasileiras de alto nível se reuniram com o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, em 17 de abril.
Lula: O Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS pode se tornar o grande banco do Sul Global
Trechos do discurso proferido pelo presidente brasileiro Lula da Silva em Xangai, em 13 de abril de 2023, na cerimônia de posse da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco multinacional criado em 2015 pelos BRICS.
A decisão de criar este banco foi um marco na atuação conjunta dos países emergentes. Por suas dimensões, tamanho de suas populações, peso de suas economias e a influência que exercem em suas regiões e no mundo, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul não poderiam ficar alheios às grandes questões internacionais.
As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento eram e continuam enormes...
Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local.
A criação deste Banco mostra que a união de países emergentes é capaz de gerar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo. Não queremos ser melhores do que ninguém. Queremos as oportunidades para expandirmos nossas potencialidades, e garantir aos nossos povos dignidade, cidadania e qualidade de vida.
Por isso, além de continuar trabalhando pela reforma efetiva da ONU, do FMI e do Banco Mundial, e pela mudança das regras comerciais, precisamos utilizar de maneira criativa o G-20 (que o Brasil presidirá em 2024) e o BRICS (que conduziremos em 2025) com o objetivo de reforçar os temas prioritários para o mundo em desenvolvimento na agenda internacional.
O Novo Banco de Desenvolvimento tem um grande potencial transformador, na medida em que liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais, que pretendem nos governar, sem que tenham mandato para isso.
O banco dos Brics já atraiu quatro novos membros: Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai. Vários outros estão em vias de adesão, e estou certo de que a chegada da presidenta Dilma contribuirá para esse processo...
Por tudo isso, o Novo Banco de Desenvolvimento reúne todas as condições para se tornar o grande banco do Sul Global...
É intolerável que, num planeta que produz alimentos suficientes para suprir as necessidades de toda a humanidade, centenas de milhões de homens, mulheres e crianças não tenham o que comer.
É inadmissível que a irresponsabilidade e a ganância de uma pequena minoria coloquem em risco a sobrevivência do planeta e de toda a humanidade.
Em comentários a uma mesa redonda com autoridades do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS após a cerimônia de posse de Dilma Rousseff como sua nova presidente, o presidente brasileiro Lula da Silva declarou:
Toda noite me pergunto por que é que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que é que nós não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que é que nós não temos o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda, depois que desapareceu o ouro como paridade?...
Nenhum governante pode trabalhar com uma faca na garganta, porque está devendo. Os bancos têm que ter paciência de que, se for preciso, renovar os acordos e colocar a palavra tolerância em cada renovação. Porque não cabe a um banco ficar asfixiando as economias dos países, como estão fazendo agora com a Argentina, o Fundo Monetário Internacional. E como fizeram com o Brasil durante tanto tempo e com todos os países do terceiro mundo que precisassem de dinheiro...
O FMI ou qualquer outro banco, quando faz empréstimos a um país do Terceiro Mundo, as pessoas sentem que têm o direito de governar, de administrar a conta de seu país. Como se os países se tornassem reféns daquele que lhes emprestou o dinheiro....
Acho que hoje, mais que nunca, o mundo precisa de um instrumento para ajudar no desenvolvimento do mundo... A crise financeira de 2008 de deveu, em parte, à ganancia [dos banquieros que vendiam] qualquer coisa, sem preocupação nenhuma com produção, de nenhum produto, era a venda de papéis, a troca de papéis, sem produzir nada... Mas, agora estamos vendo de vez em quando, os bancos voltam a quebrar... Ninguém acreditava que o Credit Suisse poderia quebrar da forma que quebrou, recentemente, em que a Suíça teve que colocar 8% do PIB para salvar o banco. Portanto, um banco como esse [o NBD], na visão dos países sócios, na visão dos países que vão precisar de ter uma relação com esse banco, é efetivamente uma esperança extraordinária...
Por que um banco como os Brics não pode, sabe, ter uma moeda que possa financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e os outros países dos Brics? Porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar, quando ele poderia exportar na sua própria moeda...
É difícil porque tem gente mal-acostumada, porque todo mundo depende de uma única moeda. Eu acho que o século 21 pode mexer com a nossa cabeça, pode nos ajudar, quem sabe, a fazer as coisas diferentes.
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