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Instituto Schiller

Este artigo aparece na publicação de 21 de abril de 2023 da Executive Intelligence Review.

O Ingrediente que Falta: Os Princípios de Economia Física de LaRouche

por Dennis Small

Dennis Small é editor da Ibero-América e membro do conselho editorial da Executive Intelligence Review. Ele foi o principal palestrante do terceiro painel do dia 16 de abril, "Acabando com a economia do cassino antes que seja tarde demais", do terceiro painel do conferência internacional do Schiller Institute, "Sem o desenvolvimento de todas as nações, não haverá paz duradoura para o planeta".

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Dennis Small

Bom dia e boa tarde. Na histórica conferência de imprensa que Lyndon LaRouche deu em 28 de junho de 2001, um dia antes de ele e Helga Zepp-LaRouche apresentarem testemunho perante o Comitê Econômico da Duma russa, o que ele disse logo no início foi o seguinte, e quero ler essa frase novamente. Ele disse:

“Nenhum novo sistema monetário pode funcionar sem uma correspondente política econômica e metas de longo prazo.”

Estou repetindo isso porque, na verdade, esse é o ponto de partida da discussão deste painel. Logo no dia seguinte, em seus comentários na Duma, além de discutir o colapso do sistema financeiro transatlântico, o Sr. LaRouche voltou à mesma questão central: o que é que dá valor a um sistema econômico e à sua moeda? Cito:

“Essa reorganização dos sistemas monetário e financeiro mundial deve se basear no uso de cooperação em larga escala e de longo prazo no desenvolvimento da infraestrutura dentro das nações e entre elas, e grande ênfase nas metas adotadas de progresso científico e tecnológico. O pivô do crescimento econômico mundial deve ser um novo sistema de cooperação transcontinental entre os estados-nação soberanos da Eurásia continental ...mas todo o mundo se beneficiará com a participação como parceiros nesse esforço."

Agora, foi cerca de 21 anos depois, em 12 de setembro de 2022, que o mesmo Dr. Sergei Glazyev, o conhecido e importante economista russo que era o presidente do Comitê de Economia da Duma na época, enviou uma mensagem para Helga Zepp-LaRouche no centenário do nascimento de Lyndon LaRouche. Uma das coisas importantes que ele disse foi o seguinte:

“Em praticamente todos os principais países do mundo que hoje estão se desenvolvendo com sucesso - acima de tudo Índia e China - há partidários de LaRouche. Eles usaram seus pensamentos e ideias, para criar seus milagres econômicos. São os princípios da Economia Física defendidos por LaRouche, que hoje sustentam o milagre econômico chinês e estão presentes nos fundamentos da política de desenvolvimento econômico da Índia. Os apoiadores de LaRouche nesses países exercem uma influência frutífera, muito positiva e construtiva na formulação de políticas econômicas nessas proeminentes nações do novo paradigma econômico mundial.”

Derivativos e o colapso

Portanto, venho até vocês hoje para apresentar três pontos no caso que gostaria de apresentar. Primeiro, estamos no meio de um colapso total do sistema financeiro transatlântico; imparável, irreversível, estrondoso e perigoso. Segundo, já há uma avalanche de apelos e ações para a desdolarização, ou seja, de nações inteiras se separarem do sistema global especulativo administrado por Londres e Wall Street, que usam o dólar para seus propósitos. Esse esforço para a desdolarização está bem encaminhada e eu diria que, a esta altura, é um negócio fechado. Isso não vai parar.

O terceiro ponto que gostaria de destacar, e essa é realmente a questão fundamental para a qual quero chamar sua atenção, é que devemos abordar a questão de qual é a base desse novo sistema que está surgindo? Qual é a fonte real de valor? Como determinamos as paridades, as taxas de câmbio entre as moedas? Como garantir que elas não percam valor? Como garantir que elas não se tornem instrumentos especulativos em si mesmos? O principal ingrediente aqui, o ingrediente que está faltando em grande parte da discussão, mesmo entre aqueles que estão absolutamente empenhados em avançar, são os princípios de LaRouche, princípios de economia física. Esse é o assunto central para o qual quero chamar sua atenção.

Agora, primeiro sobre a questão do colapso: Estamos lidando não com um problema de dívida internacional, mas sim com um problema de derivativos. Estamos lidando com uma bolha financeira global de aproximadamente US$ 2 quadrilhões - e, mais uma vez, para aqueles que não sabem realmente o tamanho de um quadrilhão, é 2 seguido de 15 zeros. E isso é construído em cima da bolha da dívida das ações, dos títulos, do endividamento das nações, de indivíduos e assim por diante. É essa bolha de derivativos que estourou em 2008, e a chamada "solução", que foi fornecida pelos gênios de Wall Street e de Londres, foi: "Vamos apenas alimentar a bolha e aumentá-la. Isso deve funcionar muito bem". E aqui estamos nós, 30 trilhões de dólares depois, da flexibilização quantitativa e de outras formas de geração de dinheiro falso, e a bolha mundial está estourando.

Agora, o que eles fizeram primeiro foi realmente o pedal do acelerador para tentar dar mais aceleração a essa bolha financeira. Depois, há mais ou menos um ano, quando viram que que isso ia ficar completamente fora de controle, eles decidiram: "Bem, vamos tentar aplicar os freios". Eles aumentaram as taxas de juros para 4,5% a 5% hoje. Isso, por sua vez, levou ao que vimos mais imediatamente neste período, que é a falência de alguns bancos de médio porte e grandes bancos, internacionailmente.

Tivemos a crise do Silicon Valley Bank, que faliu. Esse banco foi socorrido, basicamente, pela Corporação Federal Asseguradora de Depósitos (FDIC) que interveio, muito acima do limite legal ao qual eles estão permitidos para defender depósitos - que é de US$ 250.000 – e disseram: "Nós vamos socorrer todo mundo. Está tudo bem, não se preocupe". Esse era um banco que havia se envolvido em extensa especulação, especialmente na bolha “tech”.

Depois, tivemos o caso do Credit Suisse, um dos maiores bancos suíços, com uma enorme quantidade de derivativos em seus livros. Eles foram à falência total. Esse banco foi socorrido pelo Banco Nacional Suíço, que forneceu algo em torno de US$ 270 bilhões em fundos de resgate. Isso, por que, por sua vez, contou com o apoio do Federal Reserve, que forneceu linhas de swap para todos os bancos centrais europeus, assim como fez em 2008 para ajudar a salvar o câncer. Em seguida, foi assumido, por ordem e instrução do banco central suiço e de outros bancos centrais, pelo UBS da Suíça - criando um banco gigante, enorme e completamente falido.

Agora, essa questão do Credit Suisse realmente traz à tona o verdadeiro problema. E, como eu disse, estamos falando de derivativos. Se considerarmos os quatro maiores bancos dos Estados Unidos em termos de derivativos, veremos que eles têm US$ 173 trilhões em derivativos, contra US$ 8 trilhões em ativos (Figura 1).

Agora, se pensarmos nos ativos do banco como um cachorro, e os derivativos como uma pulga ou um carrapato nesse cachorro, então estamos falando de uma proporção de 22 para 1. Se você tiver um cão de 20 libras, você está falando de um carrapato de 400 libras. Pobre cão, certo? Agora, apenas para fins de comparação, dê uma olhada na situação da China. A situação da China é muito diferente. Seus quatro principais bancos têm US$ 19 trilhões em ativos, mas apenas US$ 7 trilhões em derivativos (Figura 2). Ainda é muito, mas não é uma situação que está fora de controle, de forma alguma.

Desdolarização através da Glass-Steagall

Esse fato é conhecido por todos no mundo com olhos abertos o suficiente para ver,e que se importam o suficiente para ver. País após país está reconhecendo isso, e o que está ocorrendo é um processo de desdolarização - as pessoas dizem: "Vemos que o Titanic está afundando. Não queremos afundar com ele".

Acho que isso está acontecendo por três motivos. Em primeiro lugar, como eu disse, elas veem que o Titanic está afundando, e eles não querem permanecer a bordo. Em segundo lugar, eles percebem que as sanções aplicadas à Rússia não destruíram a Rússia. Como afirmou recentemente uma importante autoridade brasileira, "Quem tem medo do lobo mau?" sobre essa questão de lidar com a

China e assim por diante. A Rússia não afundou; de fato, mesmo a opção nuclear da SWIFT, de remover a Rússia do sistema SWIFT [comunicações bancárias] não surtiu efeito, como havia sido prognosticado.

Mas a outra coisa que está acontecendo é que há alguma liderança. Há liderança entre as nações: Temos as ideias que estão sendo apresentadas por Xi Jinping, por Putin, pelos líderes do Brasil, Arábia Saudita, Turquia, Indonésia e outros, que estão claramente apontando na direção de aumentar o papel das moedas locais, moedas que não sejam o dólar. Primeiro, por meio de swaps - de banco para banco para ter linhas de crédito; segundo, por meio do comércio denominado, por exemplo, em yuan. E depois, para de fato estabelecer operações de câmara de compensação em grande escala que que permitirão não apenas o comércio, mas também o investimento nas respectivas economias.

Figura 3
O Yuan chinês está se tornando uma moeda global
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Agora, se você der uma olhada no mapa que está agora na tela (Figura 3), você verá que uma rápida aproximação do número de países envolvidos nisso, usando o yuan de uma forma ou de outra, é de mais de 30, e, na verdade, é bem mais da metade da população do planeta de fato. Portanto, esse é o tipo de processo que está em andamento, e está se espalhando muito rapidamente. Agora, muitas pessoas nos Estados Unidos arrogaram-se superioridaded e disseram: "Isso é terrível, é um ataque contra nós. Isso é se livrar do dólar; vocês estão nos atacando. Temos que parar com isso. A China precisa ser detida; a Rússia precisa ser detida; o Brasil precisa ser detido; todos eles precisam ser detidos".

Bem, isso é um absurdo, porque o fato é que os Estados Unidos também deveriam se desdolarizar. Se o que queremos dizer com esse dólar é o dólar de Wall Street, o dólar da City de Londres: não o dólar que já foi o dólar americano ou a moeda nacional dos Estados Unidos para permitir o desenvolvimento econômico nacional, mas um animal canceroso e especulativo que tomou conta de nosso sistema do dólar. E isso nos colocou sob o controle de Londres e de Wall Street. Nós também precisamos nos desdolarizar de Wall Street.

Esse processo nos Estados Unidos tem um nome e uma história muito específicos. Chama-se o princípio Glass-Steagall, de Franklin Delano Roosevelt. Porque o princípio Glass-Steagall nada mais é do que a desdolarização de Wall Street; é uma separação total do dólar especulativo sob o controle de Londres e de Wall Street, e não do povo dos Estados Unidos. Isso, por um lado, e por outro, o setor bancário comercial produtivo, no qual o dólar pode voltar a ser a moeda dos Estados Unidos.

Agora, a questão aqui - e essa é a questão que eu quero prestar atenção - é: como podemos fornecer um valor para isso? Como podemos de fato garantir que qualquer nova moeda que seja desenvolvida - seja ela o yuan ou, mais provavelmente, eu sugeriria, uma moeda comum dos BRICS que sairá da próxima reunião de cúpula de agosto dos BRICS na África do Sul, em grande parte porque acho que os indianos se sentiriam mais confortáveis com isso do que com o yuan chinês - mas seja o que for, o ponto importante não é a moeda, mas a política que dá valor a ela.

"Comércio sem moeda”

Lyndon LaRouche abordou essa questão, em profundidade, em um estudo que eu realmente recomendo a você como absolutamente fundamental. Ele se chama "Comércio sem moeda". Nesse documento, LaRouche aborda essa questão de maneira profunda.

Deixe-me começar contando uma conversa pessoal que tive uma vez com LaRouche e que realmente abriu os meus olhos. Fui conversar com ele sobre como se estabelece de fato paridades de uma base produtiva útil entre os Estados Unidos e outras moedas? Por exemplo, o peso mexicano; eu estava estudando isso com um pouco mais de profundidade, e elaborei um quadro de cestas de mercado de bens de consumo e de produção, bens de infraestrutura e assim por diante. Levantei a questão com LaRouche e comecei a discuti-la. Eu não tinha ido muito longe em minha pergunta, quando ele disse:

“Esqueça isso! Isso não importa! Basta definir uma paridade fixa que pareça razoável, porque essa paridade fixa, essa taxa de câmbio fixa permitirá a adoção de políticas de investimento e de alta tecnologia e avanço científico, que é a única coisa que dará valor a qualquer moeda. E então, e somente então, você terá a base para realmente falar sobre o que deve ser uma paridade de fato. Não faça isso com matemática; faça-o com a economia física.”

Figura 4
BRICS-Plus: Economia Física
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Agora, vamos ouvir o que o próprio LaRouche tinha a dizer nesse seu extraordinário documento. Acho que isso é importante porque, se você observar a situação na China, o que dá força à China, o que dá força ao yuan, é a força da economia chinesa. Tirar 850 milhões de pessoas da pobreza, linhas de trem de alta velocidade em massa, avanço científico e assim por diante. Se você olhar para os BRICS, como pode ver no gráfico em sua tela agora (Figura 4), há uma base econômica física real nos países do BRICS+ -- os cinco BRICS e outros nove países para os quais fizemos cálculos - parâmetros econômicos físicos que são muito encorajadores.

Com 51% da população mundial, esses países produzem 53% do trigo, 77% do carvão e 73% do aço. Eles têm uma parcela muito pequena da avaliação do mercado de ações, o que é bom. Mas isso não é valor; essa é a plataforma a partir da qual o valor pode decolar. É uma plataforma animadora, mas o foguete que tem de decolar é o aumento da produtividade da economia física; o aumento dos poderes produtivos do trabalho.

LaRouche faz essa pergunta no início de seu documento:

“O que constitui a qualidade do valor durável sobre a qual a formação de capital de bens duráveis de médio a longo prazo poderia ser determinada racionalmente?... Quando, portanto, for demonstrado com mais força que formas duráveis de valores econômicos duráveis não podem ser deduzidas de uma quantidade de dinheiro, onde se encontra uma avaliação mensurável da atividade econômica?”

Em seguida, ele levanta a questão real da densidade populacional relativa potencial, que é seu maior avanço e descoberta em economia, como ele mesmo relata. Ele diz o seguinte:

“O cálculo essencial a ser tentado, em qualquer esquema racional de estudos econômicos, é o que é melhor identificado como a densidade populacional relativa potencial da população da economia nacional como um todo. A medida a ser derivada desse padrão é uma medida da taxa de aumento ou diminuição desse potencial.”

Muito bem, o que então causa o aumento da densidade populacional relativa potencial? LaRouche fornece o seguinte esboço de resposta:

“Na ciência da economia física, conforme definida pela primeira vez pela obra relevante de 1671-1716 de Gottfried Leibniz, a distinção específica da espécie humana de todas as outras é o fato de que somente a humanidade é capaz de aumentar a densidade populacional relativa potencial de sua espécie – seu poder - por um ato de vontade. No crescente poder da humanidade dentro e sobre o universo, o ato de vontade relevante é expresso como a descoberta do que se prova ser um princípio físico universal.”

Como, então, definir o valor real das moedas e do câmbio sob esse conceito de economia física - os princípios de LaRouche? Ele diz:

“Uma cesta de commodities, como descrevi esse caso aqui, deve ser entendida como um compromisso compartilhado de fazer o bem. A questão da economia portanto, não é o preço exato a ser colocado em qualquer mercadoria, mas a boa vontade expressa na forma como uma estimativa razoável de um preço justo é adotada. Com base nisso, um preço razoável para uma cesta unitária de commodities será o preço correto na prática.”

Criatividade humana

Agora, o que é que LaRouche quer dizer com isso? Que o homem é uma espécie dotada de criatividade única para descobrir os princípios físicos universais do universo em seu processo de criação; e que, ao descobrir esses princípios, o homem contribui para esse processo de desenvolvimento do universo. Essa criatividade, esse livre-arbítrio para se engajar na criatividade, é o que também é a base da moralidade. Essa é a decisão moral de agir de forma que a densidade populacional relativa potencial de toda a nossa espécie seja melhorada, em todos os lugares e em todos os países, para benefício mútuo. Portanto, é esse ponto de vista - esse ponto de vista da filosofia, esse ponto de vista da economia física - que é a única base sobre a qual podemos discutir como poderemos construir uma nova arquitetura econômica e de desenvolvimento.

Assim como no caso da tese de habilitação de [Bernhard] Riemann, em que ele afirmou que, para entender a questão que tinha diante de si, era necessário ir do domínio da matemática para o domínio da física - assim também, se quisermos entender o que significa uma nova arquitetura teremos que passar do campo das considerações meramente financeiras e monetárias, para o campo da economia física, para a ciência da economia física de Lyndon LaRouche.

Muito obrigado.

 

Para informação adicional, enviar email a preguntas@larouchepub.com

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