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Instituto Schiller

Este artigo aparece na publicação de 28 de janeiro de 2022 da Executive Intelligence Review.

A ameaça oculta de guerra dos EUA-OTAN: O New Deal verde

por Paul Gallagher

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kremlin.ru
Se o RU e os EUA insistirem em forçar uma nova e profunda Guerra Fria contra a Rússia e a China, a combinação do crescimento econômico e do progresso tecnológico das nações do terceiro mundo será decidida em favor da Rússia e da China. Na foto: Presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping.

Jan. 20—Existe um significado estratégico no fato de que a publicação dos dados econômicos anuais da China ter mostrado que sua economia cresceu novamente mais rápido do que a dos Estados Unidos em 2021. E mais importante ainda, que os canais de crédito da China estão plenamente abertos para os empréstimos tanto para a indústria doméstica quanto para os relacionados ao “Belt and Road” (Iniciativa Um Cinturão e Rota), enquanto que os empréstimos dos bancos dos EUA não têm como crescer até que os mega bancos predominantes de Wall Street quebrem e sejam reorganizados. Os dados econômicos vieram em seguida à declaração pública em 18 de janeiro do Ministro das Relações Exteriores, o Sr. Wang Yi, de que nenhum país individualmente pode estabelecer uma “recuperação nacional” da profunda recessão global de 2020 por si próprio.

No início de 2021, os analistas financeiros e os economistas de negócios de Nova Iorque e de Londres lançaram abertamente e de forma confiante previsões de que, daquela vez, a suposta “recuperação vermelho-vivo” da economia dos EUA do que parecia ser simplesmente uma recessão induzida pela pandemia, faria com que ela ultrapasse o crescimento econômico da China tanto em 2021 como em 2022. Ficou provado que eles estavam errados. O PIB da China cresceu em 8,1% ao ano, e o jornal South China Morning Post publicou que o ex economista chefe do Banco Mundial Justin Yifu Lin agora avalia que a economia chinesa poderá se tornar a maior do mundo por PIB em 2028, em vez de 2030 como ele havia previsto anteriormente. A produção industrial cresceu em 9,6%, os investimentos em ativos fixos em 4,9%, a criação de postos de trabalho estava em 12,69 milhões, e as vendas do varejo cresceram em 12,5%, de acordo com a publicação do Escritório Nacional de Estatísticas de 17 de janeiro. A renda pessoal real disponível da China, após inflação, cresceu em 8,1% em 2021—e para as áreas urbanas, em 7,1%—enquanto que a média dos ganhos semanais reais dos americanos caíram em 2,3% ao ano.

Em uma crise estratégica na qual uma parceria efetiva da Rússia com a China parou uma tentativa de “revolução colorida” no Cazaquistão e que tende a impedir que a Ucrânia se junte à OTAN, esta evolução torna a realidade mais clara para os americanos. As temidas sanções do Tesouro dos EUA, incluindo tarifas anti-China, não produzem efeitos contra estas duas potências da economia e da ciência, embora elas produzam efeitos devastadores nas nações em desenvolvimento e estejam matando e exilando milhões de afegãos. Cortes repentinos no carvão, picos de preços e inclusive até blackouts na China no final do verão, desencadeados pelo New Deal verde global de Londres, foram lidados rapidamente por medidas regulatórias, enquanto que a Europa vem enfrentando dificuldades.

A produção industrial dos EUA caiu em -0,1% em dezembro, e está praticamente igual a do final de 2019 e 3% menor do que o seu nível em meados de 2018. A produção fabril caiu em 0,3% em dezembro e está cerca de 5% menor do que o nível de meados de 2018; de novo, igual a do final de 2019. O investimento na construção e no emprego está menor do que em 2018, particularmente nos “estruturas públicas e do governo”. Os dados da produção fabril de dezembro inesperadamente indicaram que na importante “Região do Empire State”—Nova Iorque, Nova Jérsei, e parte da Pensilvânia—a atividade industrial está se contrai.

Crédito vs. Pilhagem

No entanto, o mais dramático contraste nas economias da China e dos Estados Unidos, é a política efetiva de crédito: Os empréstimos em aberto dos bancos chineses, incluso os empréstimos ao exterior, cresceram em 11,7% ao ano; e ainda que a grande Wall Street e os bancos regionais dos EUA estejam abarrotados com trilhões de depósitos excedentes mediante os programas de flexibilização quantitativa do Federal Reserve, os empréstimos em aberto dos bancos americanos cresceram menos do que 0,5% em 2021.

Os dados do Federal Reserve sobre o sistema bancário dos EUA indicam isso de forma bem dramática. Verifique-se a relação entre depósitos e empréstimos em aberto no sistema bancário de há 15 anos atrás, logo antes do colapso financeiro global, em dezembro de 2007. Os depósitos estavam em $6,65 trilhões, os empréstimos e leasings em $6,8 trilhões ou 102% dos depósitos. Verifique-se de novo uma década mais atrás, em dezembro de 1997. Os depósitos estavam em $3,1 trilhões, os empréstimos e leasings em $3,05 trilhões ou 98% dos depósitos. A mesma equiparação aproximada podia ser encontrada na maioria dos pontos da história dos EUA. No entanto, em dezembro de 2016, os depósitos estavam em $11,42 trilhões, os empréstimos em $9,12 trilhões, apenas 80% dos depósitos. E atualmente, em dezembro de 2021, os depósitos estavam em $18,06 trilhões, os empréstimos e leasings em $10,73 trilhões ou apenas 59% dos depósitos!

Essa condição impressionante resulta dos intensos esforços do Federal Reserve a fim de fortificar estes bancos contra um colapso de dívidas imenso, mediante flexibilização quantitativa e empréstimos de liquidez. E é um sinal fatal para qualquer recuperação dos EUA da estagnação econômica que já está agora com 15 anos de idade. O sistema bancário dos EUA é dominado por 12 gigantes regionais e de Wall Street que detém aproximadamente 80% de todos os depósitos. Tirando a inflação, estes bancos retiraram quase 5% do crédito bancário da economia real durante os dois últimos anos.

Estes zumbis financeiros precisam ser quebrados mediante a restauração da Lei Glass-Steagall. Os pesquisadores da EIR nos países europeus reportam que este desarranjo dos ativos dos grandes bancos também se aplica para os bancos gigantes dos grandes centros financeiros de Londres e Frankfurt.

Esses fatos econômicos põem em descrédito a estratégia atual, instigada por Londres, de um confronto militar dos EUA-RU contra a Rússia e a China e de uma nova Guerra Fria. As grandes nações não têm como atrair parceiros econômicos e estratégicos, especialmente entre as nações em desenvolvimento, quando elas não têm nada mais a oferecer em termos de crédito, bens de capital avançados tecnologicamente, ou alívio da pobreza. Brandir as sanções financeiras como se fossem armas não cria alianças! Enquanto as avaliações variam sobre o resultado de uma guerra quente sobre a Ucrânia ou Taiwan (ou ambas), não há o que se duvidar de que a parceria angloamericana perderá a nova Guerra Fria que os seus belicistas estão mergulhando-na.

Esses fatos também afetarão o Federal Reserve e a dominância do dólar. O People’s Bank of China estava na realidade reduzindo as taxas de juros, e os requisitos de reserva bancários, ao término de 2021. O Federal Reserve, ao contrário, aparentemente planeja diversos aumentos iminentes dos juros para “controlar a inflação” que está fora de controle em 7% para os bens de consumo e quase em 10% para os bens de produção. No entanto, os dados do Fed indicam aos seus diretores que a economia real dos EUA está de novo em contração após ter falhado em se recuperar sequer os níveis de atividade pré-COVID do início de 2020.

O aumento severo das taxas de juros de curto prazo, e seu impacto nas taxas de juros de longo prazo, não apenas explodiria de vez a “bolha de todas as coisas” das dívidas, mas também desencadearia outra recessão profunda. O fato de que o crescimento da produtividade na economia dos EUA tem sido tão baixo (crescimento anual de 1,0-1,5%) desde 2011, e que foi na realidade negativo na segunda metade de 2021, fará com que o fardo do serviço da dívida fique ainda mais insuportável, fazendo com que bolhas de débito implodam.

O FMI e o Banco Mundial acabaram de emitir avisos de que os aumentos rápidos das taxas de juros do dólar terão efeitos devastadores nas economias das nações em desenvolvimento, que serão atingidas pela fuga de capitais, desvalorizações monetárias e o não cumprimento das dívidas no momento em que elas ainda não se recuperaram das grandes perdas de emprego e de atividade econômica desde o início de 2020.

O presidente chinês Xi Jinping recomendou em seu discurso de 17 de janeiro na Conferência do Fórum Econômico Mundial:

As grandes economias deveriam…coordenar os objetivos, intensidade e ritmo das políticas fiscais e monetárias, de forma a prevenir a economia mundial de despencar de novo. Se as grandes economias “pisarem forte no freio” em termos de política monetária de forma a combater a inflação mas sem que também desenvolvam novos condutores de crescimento econômico, a estabilidade financeira global será abalada, e os países em desenvolvimento terão que aguentar o peso disso.

Uma iniciativa para um novo sistema creditício e monetário, um novo Bretton Woods rooseveltiano, deveria surgir agora a partir do “triângulo estratégico” das nações eurasiáticas da China, Rússia e Índia e ser proposto aos Estados Unidos. Os novos arranjos creditícios e monetários podem ter seu começo com a missão da “moderna plataforma de saúde” para todas as nações do mundo contra a pandemia e a fome, conforme propuseram Helga Zepp-LaRouche e o Instituto Schiller. Novas instalações médicas e auxílio alimentar para o Afeganistão e outras nações destruídas pela guerra se fazem imediatamente necessários.

O ‘New Deal verde’ e a ameaça de guerra

O imperativo econômico dos países transatlânticos—dos Estados Unidos e da Europa sob a atual ideologia do livre comércio “liberal” predominante deles—é exatamente o que foi comentada já em uma análise de 2011 pelo economista e estadista Lyndon LaRouche, embora já tenha alcançado um ponto extremo atualmente.

Essas nações não têm como sustentar um confronto econômico “competitivo” contra a parceria efetiva da Rússia com a China. Isso se dá em razão de que a “competição” bloqueia as nações transatlânticas de continuarem com a alta inflação sustentada, e a desindustrialização “verde”, ferindo suas populações e enfraquecendo as suas economias. Mas seus grandes bancos precisam tanto das bolhas da alta inflação assim como da nova “finança verde”, de forma a dar uma sobrevida a eles como zumbis especuladores.

Sendo assim, os decisores políticos se esforçam para eliminar a “competição” mediante as guerras e as ameaças de guerras. E portanto, em nome da sobrevivência e progresso humanos, a “competição” concebida pelos neoliberais ao igual que os neo-cons, deve ser trocada pela cooperação.

Os governos transatlânticos e os bancos centrais estão convencidos pelo menos desde meados de 2019 que eles devem reduzir pela inflaçao a massa de quadrilhões de dólares de dívidas e de derivativos impagáveis de seus sistemas financeiros—particularmente os débitos corporativos—e simultaneamente construir uma nova bolha de débitos imensa no que é chamado de “finança verde”. Este segundo imperativo está sendo tentado mediante uma “transferência de trilhões” muito rápida de investimentos para fora dos combustíveis fósseis e das indústrias e agriculturas intensivas a carvão, em direção às novas, relativamente atrasadas tecnologias “verdes”. Estas tecnologias reduzem tanto a densidade energética quanto a produtividade econômica. Elas são rápidas e menos custosas de serem construídas e instaladas. Assim, elas prometem ganhos enormes aos seus grandes investidores financeiros, que tomam empréstimos em razão delas, e que securitizam-nas—em uma nova “bolha verde” de débito. No entanto elas não são confiáveis e custam muito aos negócios, aos consumidores e contribuintes que devem pagar pelos seus custos energéticos, subsídios tributários, custos de especulação, custos de produtividade, e a desestabilização das malhas energéticas.

Estes dois imperativos do sistema financeiro hiper alavancado—que cria a alta inflação, e que troca investimento en masse para fora das indústrias e agriculturas intensivas a carvão—são tão daninhos às populações, aos lares, aos negócios, que eles não têm como serem realizados sem “forçar a Rússia e a China a desistir” ao ponto de elas capitularem a estas políticas de Londres e de Wall Street.

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WEF/Walter Duerst
Mark Carney, ex-governador do Banco da Inglaterra, membro do conselho de Trustees do Fórum Econômico Mundial, e Enviado Especial da ONU para Acão e Finanças Climáticas, anunciou a política inflacionária junto com a condução do New Deal verde.

Esta inflação é política dos bancos centrais

A política dos grandes bancos centrais deve ser a de criar rápida inflação—e especificamente inflar o dólar, opostamente a meramente inflar outras moedas relacionadas ao dólar—foi o que anunciou o então governador do Banco da Inglaterra Mark Carney em seu discurso na conferência internacional dos banqueiros em 23 de agosto de 2019, em Jackson hole, Wyoming, EUA.

Carney inclusive sugeriu que os grandes bancos centrais poderão ter que criar e gerenciar uma “moeda sintética e digital mundial” a fim de substituir a função do dólar como moeda de reserva e também desvalorizá-lo. Carney, que ocupou posições de importância nos grandes bancos centrais e na ONU por uma década, em associação com o príncipe Charles, Sir Michael Bloomberg, e o CEO do BlackRock, Lawrence Fink, está organizando todos os principais comitês de “finanças verdes”, forças tarefas e iniciativas dos banqueiros centrais e dos mega banqueiros privados. O Político publicou em 24 de agosto de 2018 um perfil com a manchete “Mark Carney, guerreiro da ecologia”, e ele foi chamado pelo grupo de advogados ambientalistas ClientEarth de “o melhor campeão e mensageiro que nós temos”. Carney é a melhor demonstração da convergência das políticas dos bancos centrais de criarem inflações desde meados de 2019, e a “troca dos trilhões” dos investimentos para as tecnologias “verdes”.

Naquela conferência de banqueiros de agosto de 2019, quatro ex-funcionários representantes dos bancos centrais dos EUA, da Suíça, de Israel e do Canadá, todos agora executivos da BlackRock, Inc., publicaram um documento cujo título é “Mudança de regime: desde as políticas monetárias não-convencionais até as políticas coordenadas sem precedentes”. Ele propôs, com efeito, que os bancos centrais assumam a direção da política fiscal dos governos, e que imprimam dinheiro helicóptero e entregá-lo direitamente a instituições privadas e/ou contas privadas a fim de criar demanda de ordem extraordinária nas situações emergenciais econômicas. O propósito da “mudança de regime” foi o de criar a inflação.

Figura 1
Duas ondas de choque de inflação das commodities neste século
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Fonte: EIR/Banco Mundia

Figura 1 indica os preços das 20 maiores commodities ao longo do século 21 até a presente data, demonstrando que a determinação feita em 2019 pelo grandes bancos centrais de criar rápida inflação foi atingida, inquestionavelmente conduzida pelo Federal Reserve e duas Secretarias do Tesouro, uma delas o da anterior presidência do Federal Reserve. Elas tiveram êxito em fazer com que a inflação de ativos de Wall Street, em ritmo assustador ao longo da década anterior, acendesse inflação nas commodities no curso de 2020, e nos produtos em geral e nos serviços desde o fim de 2020 até 2021 e em diante. Enquanto a atual inflação feroz está sendo constantemente descrita pela mídia e autoridades governamentais como atribuível a pandemia, as “cadeias de suprimentos”, as reduções nos postos de trabalho, as tensões internacionais, e demais fatores, sua força motriz tem sido a política de intenções declarada de funcionários chave dos bancos centrais dos EUA e da Europa desde meados de 2019. Foi acendido logo após a intenção ter sido esclarecida, e antes do início da pandemia do COVID-19.

Veja o artigo do autor (original na íntegra aqui,), “O caráter da inflação atual: A curva tríplice de LaRouche a explica, e as suas quatro leis resolvem-na”, na EIR, Vol. 48, No. 44, 5 de novembro, 2021, págs. 5-7, para uma apresentação mais detalhada.

Culpar a Rússia e os contratos de longo prazo

O mais esquisito e no entanto o mais claro exemplo é a punição que os governos e bancos centrais europeus estão infligindo nas populações europeias mediante a hiperinflação da energia, conduzida pelas ideologias e políticas “verdes”, e a especulação do comércio de carvão, enquanto condenam publicamente a Rússia e formam uma frente de conflito militar contra a Rússia. A Rússia, isto é, a nação dos “combustíveis fósseis”, da “energia nuclear”, a nação cujo presidente planeja um futuro brilhante para a indústria do carvão; e a principal nação com contratos de suprimento de energia de longo prazo com a Europa.

Escute o membro da diretoria alemã do Banco central europeu, Isabel Schnabel, em 13 de janeiro deste ano, falando sobre esta hiperinflação energética:

Enquanto que no passado os preços de energia frequentemente caíam tão rápido quantos eles subiam, a demanda para se intensificar a luta contra a mudança climática pode querer dizer que os preços dos combustíveis fósseis a partir de agora não apenas terão que ser mantidos em patamar elevado, mas inclusive ter que ser mantidas em elevação constante se nós quisermos alcançar as metas do Acordo de Paris. A inflação poderá se manter elevada por um um período mais longo. Os governos terão que impulsionar a transição energética adiante, enquanto ao mesmo tempo terão que proteger os membros mais vulneráveis da sociedade da pobreza energética.

Ou seja, mediante tributar a nação inteira.

Os promotores e implementadores do New Deal verde nas finanças governamentais inerentemente se opõem aos contratos de suprimento energético de longo prazo e insistem em substituí-los por vendas no mercado à vista (spot market). Isto é essencial para eles impulsionarem a forçada troca dos combustíveis fósseis—que sempre conduziram a estabilidade dos suprimentos e dos preços dos contratos de longo prazo—para a energia eólica, solar e de biocombustíveis que têm obtido subsídios governamentais nos mercados à vista desregulados e especulativos da eletricidade.

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No. 10 da rua Downing/Andrew Parsons
Os negociantes do New Deal verde Joe Biden e Boris Johnson se opõem aos contratos de suprimento de energia de longo prazo, forçam a substituição dos combustíveis fósseis, e insistem nas vendas no mercado à vista.

A atual crise de hiperinflação energética na Europa destaca grandes companhias de distribuição de energia se recusando a fazerem pedidos sob contratação de longo prazo com fornecedores de gás natural russos. Em vez disso fazem os pedidos no mercado à vista de Amsterdã. Os resultados têm sido: a) extrema especulação em suprimentos limitados que chegam no mercado à vista, e também a especulação nos preços das “licenças de carbono” do New Deal verde; b) inflação desastrosa nos custos de energia e eletricidade impactando a indústria, a agricultura e as moradias; e c) a intensificação do conflito com a Rússia sobre a rede de dutos de combustíveis Nord Stream 2 opostos pelo RU e os EUA, e tentativas por toda a mídia europeia de atribuir a culpa pela hiperinflação dos preços de gás à Rùssia, pois as companhias russas não oferecem gás no mercado à vista.

A ex-Ministra de Defesa alemã, Ursula von der Leyen, que agora é presidente da Comissão europeia, realizou um acordo em novembro com o presidente dos EUA Joe Biden para a conclusão de um contrato de aço, a fim de manter o que eles chamaram de exportações “sujas” de aço chinês fora da Europa, trocando-as por exportações “limpas” de aço dos EUA. “Sujo” significa aços de alto forno com alto teor de carbono, e “limpo” significa o aço reciclado de baixo teor de carbono em fornos a arco elétrico que predominam na indústria americana. A verdadeira distinção econômica é que os aços de alto teor de carbono são os de maior qualidade!

Insistir na redução da qualidade do aço que se importa para a Europa, e com isso impactando a produtividade econômica na Europa, como parte da batalha contra a China, não reflete o imperativo “econômico” normal das nações. Reflete uma crise ideológica encenada visando um confronto militar. Os dois maiores militantes verdes no novo governo alemão—a Ministra das Relações Exteriores Annalena Baerbock e o “super Ministro” Robert Habeck—são também as duas personalidades que mais agressivamente promovem a expansão da OTAN na Ucrânia, o aumento dos armamentos e das tropas dos EUA e do RU na Europa, e que o Nord Stream 2 mantenha-se fechado indefinidamente. Isto não ocorre por acaso, mas sim como parte da ideologia verde. A fim de ser capaz de implementar as políticas desta ideologia nas populações ocidentais, os seus defensores devem se juntar para promover um confronto militar contra a Rússia e a China, as duas grandes potências mais dinâmicas tecnologicamente que se recusam a dar o “grande salto para trás” exigido pelo New Deal verde.

Alcançando a “Grande Reinicialização” pela Guerra

Lyndon LaRouche, naquela discussão de dezembro de 2011 referida acima, prescientemente identificou a Rússia como o verdadeiro “alvo” das guerras de mudanças de regime que naquela altura acabavam de alcançar a Líbia e que eliminaram o Coronel Muammar Gaddafi. LaRouche portanto identificou a guerra mundial como o perigo real. A conclusão dele:

A maioria deste resgate das dívidas, as dívidas de Wall Street, as dívidas de Londres…é completamente inútil. Jamais poderão ser pagas. E a única solução para isto era que houvesse esta guerra. E se o Império Britânico saísse como o vitorioso em tal guerra, com o apoio dos Estados Unidos, então eles poderiam cancelar os seus débitos, e eles seguiriam adiante na condução de seus negócios. No entanto, a população mundial seria reduzida, grandemente, mediante a fome, as doenças…

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Agência Brasil/Ricardo Stuckert/PR
Na eliminação de Muammar Gaddafi (Líbia) pela OTAN em 2011, que lançou em um caos uma região importante na produção de petróleo, Lyndon LaRouche previu que a Rússia seria posta como alvo: das guerras de mudanças de regime, para a guerra mundial.

Desde 2011, e especialmente desde o Acordo de Paris de 2015, ficou claro o que significava “cancelar os seus débitos e seguir adiante nos seus negócios”: O New Deal verde, chamado de “A grande reinicialização” pelo príncipe Charles e os banqueiros e bilionários do Fórum Econômico Mundial.

Os enormes débitos que eles querem cancelar são tipificados como os relacionados às indústrias do petróleo, do gás, e do carvão. Em 3 de março de 2020, o Financial Times de Londres pôs a seguinte manchete: "O cancelamento de 900 bilhões de dólares de ‘ativos de energia encalhados’ que é necessário para que se possa alcançar as metas climáticas”. A porta-voz da City de Londres proclamou que “84% dos combustíveis fósseis remanescentes precisam ser retidos no solo a fim de se alcançar a meta de aquecimento global de 1,5 º C”.

Nos dois anos que se seguiram desde então, 2020 e 2021, foram cancelados 305 bilhões de dólares do débito das indústrias de petróleo e gás, e 100 bilhões de dólares da indústria de carvão. Ainda falta muito mais para que se possa alcançar a meta de Londres para o New Deal verde. No entanto, entre 2011 e 2021, instituições financeiras controlando $14,6 trilhões de dólares, já se desinvestiram dos combustíveis fósseis, de acordo com gráficos do gofossilfree.org que estão na Wikipédia; e metade do valor acionário das companhias de combustíveis fósseis foi eliminado naquela década.

Um estudo elaborado pelo especialista americano na área dos serviços do petróleo, David Messer, e que foi publicado na OilPrice.com em 16 de novembro de 2021, mostrou que “os investimentos e os gastos em combustíveis fósseis diminuíram bruscamente desde 2014”. Apenas para o petróleo, o gasto nos investimentos com extrações pelo mundo afora, que em média se aproximaram de 700 bilhões de dólares ao ano na primeira metade da última década, de repente caíram para 450 bilhões de dólares ao ano de 2016 até 2019, e para 300 bilhões de dólares o ano entre 2020 e 2021. Em relação aos “hidrocarbonetos líquidos” no somatório os níveis de investimentos foram de 800 bilhões de dólares ao ano para 2015, 500 bilhões de dólares ao ano de 2016 até 2019, e 350 bilhões de dólares ao ano entre 2020 e 2021. Isto é um imenso colapso nos investimentos em uma indústria que é altamente endividada. A produção mundial de combustíveis líquidos caiu de 102 milhões de barris ao dia entre 2018 e 2019 para 91 milhões de barris ao dia atualmente, de acordo com a Administração de Informação da Energia dos EUA. A geração global de energia a carvão caiu em 14% nos últimos cinco anos, 10% deles só nesses dois últimos anos apenas.

Além disso, o site de negócios Quartz publicou em dezembro um estudo próprio que as descobertas de petróleo e de gás, que são dependentes conforme o nível de investimento existente, caíram de 20 bilhões de barris de petróleo em 2015, para 10 a 12 bilhões de barris entre 2016 e 2019, e em 2021 parece que serão de 4,7 bilhões de barris—o menor dos montantes mundiais desde 1946.

Assim, a condução do ímpeto hiperinflacionário em todos os preços de energia, especialmente na Europa, é a escassez global dos combustíveis fósseis criada por este desinvestimento. Ainda que a OPEP, por exemplo, recentemente tenha autorizado um aumento de 400.000 barris por dia na produção, ele não está acontecendo. Um relatório da Bloomberg News de 13 de janeiro trouxe citações de representantes de empresas comercializadoras de petróleo, “na prática, muito menos óleo está conseguindo chegar ao mercado. Os seus membros (da OPEP) simplesmente são incapazes de fazer com que se retorne aos níveis de escoamento de produção pré-COVID. Tudo isto se deve à falta de investimento”. O mesmo tem sido verdade em relação aos suprimentos de gás natural na Europa que ocorrem no outono e no inverno, e aos suprimentos de carvão na China e nos Estados Unidos.

Mostrando o “outro lado” desta transferência de trilhões—o “lado verde”—os ativos sob gestão da BlackRock, Inc., os administradores do dinheiro que mais obviamente jogam o seu peso contra os investimentos em combustíveis fósseis mundialmente, cresceram no mesmo período de 7 trilhões de dólares em 2019 para 10 trilhões ao término de 2021.

A alternativa

A tentativa da “Grande Reinicialização” de cancelar os investimentos, as dívidas, e as reservas dos combustíveis fósseis, vem criando ameaças existenciais de pobreza e de colapso econômico em muitos países em desenvolvimento: África do Sul, Irã, Iraque, Venezuela, Brasil, Cazaquistão, apenas para nomear os nomes de mais destaque. Se formos juntar tudo isso com as taxas de juros do dólar que têm se elevado (visando “guiar a inflação” em vez de na realidade pô-la sob controle), o impacto nas nações em desenvolvimento será devastador.

No entanto, infelizmente para o Fórum Econômico Mundial e a “Grande Reinicialização”, eles descobriram no reconhecido fracasso que foi a Conferência de Mudança Climática da ONU (COP 26) em novembro, que essas nações têm uma alternativa. O Irã confirmou uma contratação de longo prazo em petróleo e tecnologia com a China; a Síria acaba de se juntar à Iniciativa do Cinturão e Rota; no Iraque, um crescente movimento popular tem exigido a implementação das contratações de longo prazo do programa “petróleo-para-a-infraestrutura”, que foi assinado há dois anos atrás com a China, mas que tem sido mantido suspenso pelo governo que é apoiado pelo RU e EUA. O Egito tem cooperado com a Rússia em Daba’a a fim de desenvolver uma base de energia nuclear para a sua economia.

O Cazaquistão foi atingido pelas depreciações da “Grande Reinicialização”: O seu investimento direto estrangeiro (IED) total esteve na média de 10 bilhões de dólares ao ano entre 2013 e 2016. No entanto, de acordo com Statistica, o mesmo caiu para apenas 3,5 bilhões de dólares ao ano entre 2017 e 2020. O escoamento da produção de petróleo esteve em 93 milhões de toneladas métricas entre 2018 e 2019 mas caiu para 85 milhões de toneladas métricas em 2020 e para 82 milhões de toneladas métricas em 2021, de acordo com o Banco de Desenvolvimento do Cazaquistão. Contudo, a tentativa no início de janeiro deste ano de encenar uma “revolução colorida” e de levar o país ao caos, foi parada pela rápida ação da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (“Collective Security Treaty Organization - CSTO”), que conta com apoio público da China.

Esta é a razão pela qual Lyndon LaRouche, prescientemente, há onze anos atrás, anteviu que a Rússia seria feita de alvo pelas forças geopolíticas lideradas pelos britânicos que poderiam conduzir a, disse ele então, uma guerra mundial. Elas queriam eliminar a alternativa ao colapso econômico. Se Londres, Wall Street e Washington vencessem “tal guerra”, disse ele, pelas vias militares ou pela capitulação, elas poderiam continuar a conduzir seus intentos financeiros, “mas a população do mundo seria reduzida, grandemente, através da fome, das doenças…”

A melhor política de ação que a Rússia, a China e a Índia podem tomar em face deste perigo é a de tomarem medidas entre elas mesmas a fim de lançarem um novo sistema creditício e monetário, visando impulsionar novas infraestruturas, a industrialização, e as exportações de bens de capital particularmente aos países em desenvolvimento; e que proponham marcante participação dos EUA. Todas as propostas de longa data do Instituto Schiller para que seja formado um novo acordo Bretton Woods se basearam nesta ideia, que era a intenção verdadeira do presidente dos EUA Franklin Roosevelt ao negociar o Bretton Woods, que no entanto foi cerceada e sabotada após a sua morte.

—Tradutor: Mario Braga

 

Para informação adicional, enviar email a preguntas@larouchepub.com

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