Caminhamos sonâmbulos em direção a
uma Terceira Guerra Mundial termonuclear?
Memorandum [atualizado] do Instituto Schiller
31 de dezembro de 2021
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Você foi enganado. A Rússia não planeja invadir a Ucrânia. Putin não é um “mau ator” que recriará o Império Soviético. A Ucrânia não é uma democracia incipiente apenas cuidando de seus negócios.
Como uma revisão sumária dos registros documentados demonstra, a Ucrânia está sendo usada por forças geopolíticas no Ocidente que respondem para o falido e especulador sistema financeiro, como um foco de conflito para engatilhar um confronto estratégico com a Rússia, um confronto que já é mais perigoso do que a Crise Cubana dos Mísseis de 1962, e que pode facilmente terminar em uma guerra termonuclear a qual ninguém vencerá, e ninguém sobreviverá.
Considere os fatos como nós os apresentamos na linha do tempo abreviada abaixo. A Rússia, assim como a China, tem sido cada vez mais sujeita às ameaças de ser destruída por dois tipos distintos de “guerra nuclear” pelo belicoso e falido Establishment financeiro RU (Reino Unido) - EUA): (1) “ação nuclear antecipativa”, conforme declarado mais explicitamente pelo demente Sen. Roger Wicker Republicano-Mississípi); e (2) a “opção nuclear” na guerra financeira - medidas tão extremas que poriam um cerco financeiro à Rússia a fim de tentar deixá-la passar fome até se submeter, conforme tem sido feito no Afeganistão.
A Rússia agora anunciou, para que o mundo inteiro ouça, que a sua linha vermelha (“red line”) está para ser cruzada, após o que ela será forçada a responder com “medidas retaliatórias técnicas-militares”. Esta linha vermelha, ela deixa claro, é o posterior avanço das forças militares dos EUA e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) até a fronteira com a Rússia, incluindo o posicionamento de sistemas de mísseis defensivos e ofensivos capazes nuclearmente dentro de um escasso tempo de voo de cinco minutos até Moscou.
A Rússia apresentou duas minutas de documentos - uma, um tratado com os Estados Unidos, a outra, um acordo com a OTAN - que juntas dariam garantias de segurança com vinculação legal que a marcha da OTAN rumo ao leste teria um fim, e que a Ucrânia e a Geórgia em particular não seriam convidadas a se juntar a OTAN, e que sistemas de armamentos avançados não seriam posicionados na porta da Rússia.
Essas não são nem menos e nem mais do que as garantias verbais que foram dadas à União Soviética em 1990 pelos enganosos governos de Bush e de Thatcher, garantias que têm sido sistematicamente violadas desde então. Elas não são nem menos e nem mais do que o que o Presidente John F. Kennedy exigiu do líder soviético Nikita Khrushchev durante a Crise Cubana dos Mísseis de 1962, que foram exitosamente desarmadas pelas hábeis negociações extra-oficiais do enviado pessoal de JFK, o seu irmão e Advogado Geral, Robert Kennedy, fora das vistas do complexo industrial militar pró-guerra.
É urgentemente necessário que os Estados Unidos e a OTAN assinem prontamente esses documentos propostos com a Rússia - e que recuem da beira da extinção termonuclear.
O que nós registramos abaixo em crônica tem acontecido, passo a passo, enquanto a maioria dos americanos dormem no ponto. É hora de acordar, antes de sonambular para a Terceira Guerra termonuclear.
O Componente Militar
O colapso dos estados socialistas da Europa Oriental e então da União Soviética entre 1989-1991 foi um momento de grande esperança, para o fim da guerra fria e para o potencial de as partes da Guerra Fria cooperarem na construção de uma nova ordem mundial baseada na paz por meio do desenvolvimento. Aquele momento foi perdido quando a elite Anglo-Americana escolheu em vez disso declarar a si mesma “o único superpoder” em um mundo unipolar, saqueando a Rússia e os ex-estados soviéticos, com a finalidade ou de assumir o controle sobre a Rússia, ou de esmagá-la
Promessas foram feitas à União Soviética - e então para a Rússia como seu sucessor legalmente reconhecido como uma potência em armamentos nucleares - no início desse período, todas as quais têm sido quebradas ao longo dos últimos trinta anos. Já em fevereiro de 1990 em Moscou, o então Secretário de Estado James Baker prometeu ao líder soviético Mikhail Gorbachev e ao Ministro das Relações Exteriores Eduard Shevardnadze que, no início da reunificação alemã, o que ocorreu posteriormente naquele ano, se as tropas dos EUA permanecessem na Alemanha não haveria expansão da OTAN de nem “um centímetro para o Leste”. (Isso foi confirmado nos arquivos dos EUA que foram liberados ao público em 2017.)
Naquele tempo, a estrutura das forças soviéticas na Alemanha Oriental consistia-se de por volta de 340.000 tropas e extensiva infraestrutura militar, armamentos, e equipamentos. Os termos de suas retiradas (finalmente completadas em 1994) e se ocorreriam ou não baixo reunificação das Alemanhas, eram que as forças da OTAN iriam substituí-las naquelas seções da Alemanha anteriormente de ocupação soviética, era o que estava na mesa. Os outros países da Europa Oriental, localizados à leste da Alemanha Oriental, ainda eram membros do Pacto de Varsóvia (Warsaw Treaty Organization - Warsaw Pact), cuja dissolução não havia sido então esperada; e tal dissolução aconteceu em julho de 1991, no mês anterior a que a própria União Soviética ruísse.
Entretanto, o Departamento de Defesa dos EUA estava tramando a expansão da OTAN em direção ao leste já em outubro de 1990. E ainda que houvesse diferentes políticas sendo debatidas no interior da liderança política dos EUA, o planejamento para a expansão ia avançando por trás das cenas.
Na superfície, as relações russas com as potências transatlânticas permaneceram como entre não adversários durante a maior parte da década de 1990. Na esfera econômica, no entanto, a “tomada hostil” prosseguiu em ritmo acelerado, com a adoção das reformas econômicas planejadas por Londres e Wall Street que resultaram na desindustrialização em larga escala da Rússia, e que poderia ter levado à aniquilação de seu poderio militar. Havia alguns desarmes planejados de armamentos nucleares tanto no Leste quanto no Oeste, com especialistas norte americanos dando assistência no local na transferência de armas nucleares da Ucrânia, da Bielorússia e de outras áreas antigamente soviéticas e que agora são independentes de volta para a Rússia, assim como o descarte de algumas armas da própria Rússia.
Em 27 de maio de 1997, o Acordo de Fundação entre a Rússia e a Otan foi assinado[nota 1] , estabelecendo o Conselho Rússia - OTAN e outros mecanismos de consulta. Dentre outras coisas, o documento declarou que “A OTAN e a Rússia não se consideram mutuamente como adversários.” (Sec. 2, Pár. 2) A OTAN descreveu o documento como a “expressão de um compromisso permanente, assumido no mais alto nível político, para construir, juntos, uma paz duradoura e inclusiva na área Euro-Atlântica.” (Sec. 2, Pár. 2)
No entanto, uma mudança começou a ocorrer no fim dos anos 1990, conduzida por diversos acontecimentos. Um foi que as reformas econômicas importadas, que promoviam enorme especulação financeira e o saque dos recursos russos, levaram a uma explosão em agosto de 1998 do mercado de títulos governamentais russos (quase engatilhando um derretimento do sistema financeiro global em razão de apostas ruins feitas nos securities (títulos de valores mobiliários) russos por Wall Street e outros hedge funds, como posteriormente reconheceu o ex-diretor do Fundo Monetário Internacional Michel Camdessus.
Na esteira daquele colapso, os “jovens reformistas” russos treinados por Londres e Chicago foram trocados por um governo sob a liderança do ex-Ministro das Relações Exteriores Yevgeny Primakov e o planejador industrial-militar Yuri Maslyukov, que atuaram habilmente para conter o colapso do que remanescer da indústria russa.
Um segundo fator nos problemas russos foi que naquele tempo havia a escalada de movimentos terroristas separatistas na região norte do cáucaso russo, que os serviços de inteligência russos solidamente identificaram como sendo suportados e estimulados não apenas por fundamentalistas islâmicos Wahabitas da Arábia Saudita, mas também pelas agências de inteligência dos EUA e do RU diretamente. No verão de 1999, essas redes tentaram dividir e separar todo o norte do Cáucaso fora da Rússia.
Também no final dos anos 1990, a OTAN impulsionou o seu envolvimento na Guerra da Bósnia e em outros conflitos da Península Balcânica entre os antigos componentes da Iugoslávia, que haviam se separado. Esta interferência chegou ao seu auge com o bombardeamento pela OTAN de Belgrado, a capital da Sérvia, entre março e junho de 1999 sem que houvesse autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta ação chocou Moscou que percebeu que a OTAN estava preparada para agir unilateralmente, conforme sua vontade, e sem que precisasse haver consenso internacional.
Em julho de 1997, em uma cimeira da OTAN em Madri, a Polônia, a Hungria e a República Checa foram convidadas a se unirem à OTAN, o que formalmente fizeram em 1999. Esta havia sido a primeira de cinco rodadas de expansão da OTAN. Em 2004, todos os três países bálticos (antigas repúblicas dentro da União Soviética), e a Bulgária, a Romênia, a Eslováquia e a Eslovênia foram admitidos. Mais quatro países balcânicos se uniram nos anos seguintes, fazendo com que o número de países membros da OTAN chegasse ao seu número atual de 30 países.
Vladimir Putin, em seu discurso de 21 de dezembro de 2021, proferido para uma conferência expandida da diretoria do Ministério da Defesa, expressou o ponto de vista de Moscou sobre a importância do Acordo de Fundação entre a Rússia e a Otan e sua posterior traição pela OTAN:
Levando em conta o passado recente, no final dos anos de 1980 e no início dos anos 1990, quando nos disseram que nossas preocupações sobre a potencial expansão da OTAN para o leste não tinham fundamento algum. E então nós vimos cinco ondas do bloco se expandindo para o leste. Vocês se lembram como que isso aconteceu? Todos vocês são adultos. Isso aconteceu num momento em que as relações da Rússia com os Estados Unidos e os principais membros da OTAN eram limpas, se é que não se pode dizer de aliados completos.
Eu já disse isso em público e irei relembrá-los novamente: os especialistas americanos estiveram permanentemente presentes nas instalações de armamentos nucleares da Federação Russa. Eles estavam em seus escritórios todos os dias, e tinham mesas próprias e com bandeiras americanas. Isso tudo não era o bastante? O quê mais queriam? Os assessores dos EUA trabalhavam no governo russo - oficiais de carreira da CIA, (que) davam a sua assessoria. O quê mais queriam? Qual era a finalidade de apoiar o separatismo no norte do cáucaso, com a ajuda até mesmo do ISIS - bem, se não fosse o ISIS, houveram outros grupos terroristas. Eles obviamente apoiavam os terroristas. E pra quê? Qual era a finalidade de expandir a OTAN e de se retirar do Tratado ABM?
Como Putin notou, sob a Administração de George W. Bush, os EUA iniciaram o desmantelamento do sistema de controle de armamentos estratégicos durante a Guerra Fria, tendo início em 2002 com a retirada dos EUA do Tratado de Mísseis Anti-Balísticos (Anti-Ballistic Missile - ABM Treaty) de 1972, logo há poucos meses após Putin ter estendido uma oferta de cooperação estratégica com os Estados Unidos posteriormente aos ataques de 11 de setembro.
A Administração dos EUA rapidamente começou o planejamento do um sistema global de mísseis defensivos balísticos (ballistic missile defense system - BMDS) na Europa e na Ásia, o que na Europa levou à primeira navegação de um destroyer americano (o USS Arleigh Burke) equipado com os mísseis antimísseis Aegis (Aegis anti-missile missiles) no Mar Negro na primavera de 2012. Em 2016 seria inaugurada a instalação “Aegis Ashore” - o mesmo sistema, mas em terra firme - na Romênia, e a construção de um local similar na Polônia.
Em uma conferência em Moscou em maio de 2012, o então vice-Chefe do Estado-Maior geral da Rússia o Gen. Valery Gerasimov forneceu extensa documentação, com animações via vídeo, sobre o fato de que o BMDS não mirava primeiramente por sobre o Irã, mas representou, em suas fases posteriores pretendidas, uma ameaça à dissuasão estratégica russa. Putin e outros oficiais também enfatizaram a possibilidade dos sistemas defensivos (antimísseis) serem rapidamente reconfigurados como lançadores de mísseis para ataque direto.
As respostas cada vez mais afiadas da Rússia para a busca dos EUA/ OTAN desses programas e às rejeições das ofertas da Rússia de cooperação ficaram também evidentes no contraste entre dois discursos que o Presidente Putin deu na Alemanha; ante o Bundestag (Parlamento) em 25 de setembro de 2001, e na Conferência de Segurança de Munique (Munich Security Conference) em 2007.
Putin falou ao Bundestag, na Alemanha, duas semanas após os ataques terroristas contra os Estados Unidos de 11 de setembro. Ele havia ligado para o Presidente George Bush horas após o ataque - ele foi o primeiro líder estrangeiro a fazer ligações - oferecendo pleno apoio da Rússia aos EUA no momento da crise. Ele disse aos alemães: “A Guerra Fria acabou”, e apresentou uma visão de cooperação global na construção de um novo paradigma baseado na colaboração das nações do mundo.
E então em 10 de fevereiro de 2007, Putin fez um discurso marcante na Conferência Anual de Segurança de Munique: A mídia Ocidental e algumas pessoas que estavam presentes, incluindo o belicista Senador dos EUA John McCain, denunciaram-no como beligerante, e isso se tornou um ponto de partida para a subsequente demonização de Putin. No entanto, o discurso não foi agressivo. Putin simplesmente deixou claro que a Rússia não seria pisoteada, como uma nação subjugada em um mundo imperial unipolar.
Quase toda a mídia internacional ignorou como ele abriu o discurso, com uma citação cuidadosamente escolhida do discurso “Fireside Chat” (bate-papo à beira da lareira; i.e. conversa informal) de Franklin Delano Roosevelt (FDR) de 3 de setembro de 1939, dois dias após a invasão Nazi da Polónia que marcou o início da Segunda Guerra Mundial. FDR disse, e Putin o citou, “Em qualquer lugar onde ocorra o rompimento da paz, em todos os países a paz estará em perigo”. Esse discurso foi o sinal de que, falando em termos estratégicos, a Rússia estava “de volta”.
Em julho de 2007, Putin tentou prevenir o cruzamento de uma linha que Moscou havia definido como uma ameaça fundamental à segurança russa, isto é, a instalação do BMDS americano diretamente nas fronteiras da Rússia. Visitando o Presidente George W. Bush em Kennebunkport, Maine, ele propôs o desenvolvimento e o emprego em conjunto de sistemas anti mísseis russo-americanos, incluindo uma oferta à Administração dos EUA para a utilização do radar de advertência antecipada em Gabala, Azerbaijão, como parte de um sistema de mísseis defensivos russo-americanos para a Europa, em vez do BMDS americano planejado para ser instalado na Polónia e na República Tcheca (este último foi alterado para a Romênia). Putin ofereceu também dar aos EUA acesso a uma base de radares no sul da Rússia, e de pôr a coordenação do processo dentro do Conselho OTAN-Rússia.
Sergei Ivanov, então vice-primeiro ministro, disse que as propostas russas significavam uma mudança fundamental nas relações internacionais, e que poderiam resultar no fim das conversas sobre uma nova Guerra Fria:
Se nossas propostas forem aceitas, a Rússia não irá mais precisar colocar novos armamentos, incluindo mísseis, na parte europeia do país, incluindo Kaliningrado.
As negociações entre os oficiais russos e americanos sobre a proposta russa foram conduzidas durante 2008, antes de serem esgotadas e de não darem em nada. A chave para o fracasso foi a veemência da recusa de Washington de abandonar a construção dos BMDS. Nas palavras do então Assistente Interino do Secretário de Estado para Assuntos Políticos Militares Stephen Mull:
O quê nós não aceitamos é que Gabala seja um substituto para os planos que nós já estamos em busca com os nossos aliados tchecos e poloneses. Nós cremos que estas instalações são necessárias para a segurança de nossos interesses na Europa.
Claramente, o alvo não era o Irã, mas a Rússia, e a oportunidade para um novo paradigma foi perdida.
Na cimeira da OTAN de abril de 2008 em Bucareste, à Geórgia e à Ucrânia foi prometido futura filiação como membros da OTAN, embora não tenha sido oferecido formalmente à elas Planos de Ação dos Membros (Membership Action Plans - MAP). As suas tentativas, mesmo assim, foram bem vindas por muitos e elas ficaram com a esperança dos MAPs no futuro, talvez no futuro próximo - o bastante tanto que os georgianos declararam:
A decisão de aceitar que nós avançaremos para aderir à OTAN foi tomada e nós consideramos isso um sucesso histórico.
Em agosto de 2008, enquanto o Presidente Dmitri Medvedev estava de férias e o então Primeiro Ministro Putin estava na abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing, Mikheil Saakashvili da Geórgia fez um ataque aos peacekeepers (forças de paz) da Rússia em relação à província separatista georgiana da Ossétia do Sul, o que levou a uma guerra curta porém feroz, a qual a Geórgia perdeu. O fato de que Saakashvili atuou na presunção de que ele teria pleno suporte da OTAN, embora tenha sido comprovado o contrário no evento, não deixou de escapar das vistas de Moscou e influenciou a subsequente reflexão russa sobre o quê aconteceria com a Geórgia e a Ucrânia ao se tornarem membros plenos da OTAN.
Ucrânia
Em dezembro de 2008, na esteira do confronto da Geórgia com a Rússia, Carl Bildt e Radek Sikorski, os ministros exteriores da Suécia e da Polónia, respectivamente, deram início à “Parceria Oriental” da União Europeia. Que teve como alvo seis países que foram anteriormente repúblicas dentro da União Soviética: três na região do Cáucaso (Armênia, Azerbaijão, e a Geórgia) e três na Europa Oriental Central (Bielorússia, Moldávia e Ucrânia). Eles não seriam convidados para filiação plena como membros da UE, mas foram no entanto colocados num torno através da assim chamada Acordos Associativos da União Europeia (European Union Association Agreements - EUAA), cada um centrado em um Acordo de livre Comércio Profundo e Compreensivo (Deep and Comprehensive Free Trade Agreement - DCFTA).
O principal alvo do esforço foi a Ucrânia. Sob o EUAA negociado com a Ucrânia, mas não imediatamente assinado, a economia industrial do país seria desmantelada, o comércio com a Rússia seria atacado ferozmente (com a Rússia pondo fim em seu regime de livre comércio com a Ucrânia a fim de prevenir seus próprios mercados de serem inundados via Ucrânia), e os atores baseados no mercado europeu tomariam o controle das exportações agrícolas e de matérias primas.
Além disso, o EUAA impunha “convergência” em questões relacionadas à segurança, com a integração junto aos sistemas defensivos europeus. Sob tal arranjo, os tratados e acordos de longa data sobre o uso da Marinha Russa de seus portos cruciais do Mar Negro na Península da Criméia - uma área russa desde o século 18, mas que havia sido administrativamente designada à Ucrânia quando estava dentro da URSS no início dos anos de 1950 - iriam chegar a um término, tendo como resultado eventual a entrega de bases avançadas nas fronteiras imediatas russas à OTAN.
Voltar a Ucrânia contra a Rússia tem sido um objetivo de longa data dos planejadores estratégicos anglo-amercanos da Guerra Fria, assim como era anteriormente pelas agências de inteligência do império austro-húngaro durante a Primeira Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, e até a metade dos anos de 1950, os EUA e o RU apoiaram uma insurgência contra a União Soviética, uma guerra civil que continuou no terreno por muito tempo após a paz ter sido assinada em 1945.
Os insurgentes eram da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (Organization of Ukrainian Nationalists - OUN) e remanescentes do Exército Insurgente Ucraniano (Ukrainian Insurgent Army - UPA). A OUN foi fundado em 1929 a partir de um modelo similar ao que produziu os movimentos fascistas da Itália e o de outros países europeus. O seu líder, Stepan Bandera, era um aliado intermitente dos Nazis, e o OUN-UPA, sob uma ideologia étnico-purista, cometeu assassinatos em massa de poloneses étnicos e de judeus no oeste da Ucrânia até o final da Segunda Guerra Mundial. Na Europa do pós-Guerra, Bandera foi patrocinado pelo MI6 (inteligência) britânico, enquanto o Gen. Mykola Lebed (pastoreado pelo fundador da CIA Allen Dulles), outro líder da OUN, recebeu abrigo nos EUA, apesar de forte oposição da Inteligência do Exército dos EUA, com base nos registros de Lebed de ter colaborado com os Nazis e o crimes de guerra.
A próxima geração de seguidores de Lebed, cuja base de operações - a Corporação de Pesquisa Prolog (Prolog Research Corporation) na Cidade de Nova Iorque - recebeu fundos da CIA de Dulles para coleta de inteligência e a distribuição de literatura nacionaista e de outros tipos dentro da URSS, forneceu o pessoal da U.S. Radio Liberty em Munique, Alemanha, para transmissão dentro da Ucrânia, até os anos de 1980[nota 2].
Quando a URSS ruiu em agosto de 1991, líderes chaves banderitas correram em disparada para Lviv, no extremo oeste da Ucrânia - a meros 1.240 km de Munique, 12 horas de carro - e iniciaram reconstruir o seu movimento. A região de Lviv, que por muitos anos foi parte do Império Austro-Húngaro, e não do Russo, era o reduto dos herdeiros da OUN.
A influência dos banderitas ganhou impulso após a Revolução Laranja de 2004 em Kiev. Apoiadas pelo Fundo Nacional para a Democracia dos Estados Unidos (U. S. National Endowment for Democracy) e as fundações privadas do financista George Soros, isso recebeu o nome de “revolução colorida”, que atrapalharam e puseram de pernas para o ar os resultados de uma eleição presidencial e, no segundo turno, instalaram o banqueiro Victor Yushchenko como presidente. Ele perdeu as eleições em 2010 por causa da oposição popular às suas políticas de austeridade brutais (geradas pelas fórmulas ditadas pelo FMI para a privatização e a desregularização), mas não antes de ter supervisionado a revisão da história oficial das relações da Ucrânia com a Rússia em favor de um nacionalismo radical, e anti-russo (enquanto que, historicamente, tem existido uma forte tendência entre os patriotas ucranianos e os defensores da independência de preferirem uma aliança de longa duração com a Rússia).
Os banderitas baseados em Lviv, enquanto isso, fizeram recrutamentos e fortaleceram o seu movimento, e realizaram acampamentos de verão paramilitares para os jovens no interior ucraniano e por outros lugares da Europa Oriental. Às vezes, os instrutores incluíram oficiais militares dos países da OTAN que estavam fora de serviço. Em 2008, Yushchenko submeteu pela primeira vez para a OTAN a candidatura para ser concedido à Ucrânia um Plano de Ação do Membro (Membership Action Plan - MAP).
O ponto de virada para o status da Ucrânia como potencial engatilhador do atual perigo de guerra veio em 2004. Os contínuos esforços para fazer com que a Ucrânia finalizasse seu EUAA foram rejeitados como insustentáveis pelo governo de Viktor Yanukovych em novembro de 2013, quando ficou claro que as provisões de livre comércio que davam às mercadorias europeias acesso ilimitado ao mercado russo via Ucrânia acarretariam em medidas retaliatórias pelo maior parceiro comercial da Ucrânia, a Rússia, para combater este assalto aos próprios produtores russos, e que assim produziriam efeitos negativos contrários à economia ucraniana. Quando Yanukovych em 21 de novembro anunciou o adiamento do acordo da UE, os planos banderitas que há muito tempo aguardavam à espreita para tornarem a Ucrânia em uma ferramenta para isolar e demonizar a Rússia foram ativados.
Manifestantes contrários à decisão de Yanukovych pelo adiamento do EUAA imediatamente começaram a se reunir na Maidan de Kiev (praça central). Grande número de pessoas comuns apareceram, agitando bandeiras da UE, em razão da destruição da economia ucraniana sob o “choque” da desregulação nos anos de 1990 e pelas políticas ditadas pelo FMI para a privatização e a austeridade durante os anos da Revolução Laranja. Muitos acreditaram desesperadamente, como a economista ucraniana Natalia Vitrenko uma vez colocou, que o EUAA traria para eles “salários alemães e pacotes de benefícios franceses”. Um número desproporcionalmente alto de manifestantes saudaram desde o extremo oeste da Ucrânia, e a violência premeditada pelo grupo paramilitar banderita Setor Direita (“Right Sector”) foi então usado para o agravamento sistemático do Maidan.
Banho de sangue e vítimas, tudo atribuído ao regime, foi usado então para manter o fervor do Maidan e a afronta até fevereiro de 2014[nota 3]. Símbolos Neo-Nazi e de outras vertentes do facismo foram postos nas frentes dos edifícios e outdoors no Maidan, mas eles não diminuiram o apoio público dos EUA neste processo. O Sen. John McCain discursou para a multidão em dezembro de 2013, enquanto que a Secretária Assistente de Estado Victoria Nuland distribuiu cupcackes e negociou com o embaixador americano na Ucrânia Geoffrey Pyatt em relação a quem seria posto no cargo assim que Yanukovych fosse destituído. Uma conversação telefônica escandalosa entre Nuland e Pyatt foi pega e gravada e circulou pelo mundo afora.
Em 18 de fevereiro de 2014, os líderes do Maidan anunciaram uma “marcha pacífica” pela Rada Suprema (parlamento), que terminou em ataques e incitou ação violenta por três dias de lutas nas ruas. Chegando ao pico em 20 de fevereiro - um dia de disparos de snipers do alto de prédios elevados que mataram tanto manifestantes quanto policiais - esses enfrentamentos mataram mais de 100. Pesquisa cuidadosa realizada pelo Prof. Ivan Katchanovski na Universidade de Ottawa, fazendo uso de gravações de vídeo e de outras evidências diretas desses eventos, demonstrou convincentemente que a maioria dos disparos de snipers vieram das posições paramilitares do Maidan, e não das forças especiais policiais do governo de Berkut[nota 4].
Em 21 de fevereiro de 2014, um trio de líderes do Maidan, incluindo Arseniy Yatsenyuk, o homem que havia sido escolhido a dedo por Nuland para ser o próximo primeiro ministro da Ucrânia, assinaram um acordo com o presidente Yanukovych, comprometendo ambos os lados a uma transição pacífica do poder: reformas constitucionais até setembro, eleições presidenciais até o término do ano, e o abandono das armas. Os ministros das relações exteriores da França e da Alemanha ajudaram nas negociações, com um representante de Moscou como observador. Quando este documento foi levado até o Maidan, um jovem militante banderita tomou o microfone e assumiu o palco para liderar a sua rejeição pela multidão, e ameaçou a vida de Yanukovych caso ele não renunciasse até a próxima manhã. Yanukovych deixou Kiev naquela noite. A Rada inconstitucionalmente instalou um presidente interino.
Dentre as primeiras medidas do novo governo estava que a Rada retiraria o russo e outras línguas “minoritárias” de seus status de línguas oficiais regionais. (Conforme o censo de 2001, o russo era falado por todo o país e era considerado como língua “nativa” por um terço da população.) Isso, com outras medidas anunciadas por Kiev, atiçou grande oposição ao golpe, centrado na parte oriental da Ucrânia - as regiões de Donetsk e Lugansk (o Donbass) e a Criméia. Conflitos civis surgiram em ambas áreas, com grupos locais tomando prédios do governo.
Na Criméia, a insurgência contra o regime instalado pelo golpe de Kiev prevaleceu. Um referendo realizado em 16 de março de 2014 na República Autônoma da Criméia e na cidade de Sevastopol (uma jurisdição separada na península), perguntou aos votantes se eles queriam se juntar à Federação Russa ou se queriam que o status da Criméia fosse mantido como parte da Ucrânia. Na Criméia, 97% dos 83% eleitores qualificados (votos válidos) que compareceram votaram pela integração com a Federação Russa; Em Sebastopol, o resultado foi similar com 97% pela integração, enquanto que o comparecimento de pessoas foi ainda maior, chegando aos 89%.
Não houve “invasão militar russa na Ucrânia”. Em primeiro de março o presidente Putin buscou e obteve autorização da Assembleia Federal (a Legislatura) para desdobrar forças russas em território ucraniano, citando ameaças às vidas dos cidadãos russos e dos russos por etnia que residiam na Criméia; as tropas vieram das instalaçõoes russas no Mar Negro de dentro e de fora de Sebastopol, já estacionadas na Criméia.
O destino das duas autodeclaradas repúblicas de Donbass nos oblasts (regiões) de Donetsk e Lugansk, não se estabeleceu tão rapidamente. O apoio de dentro da Rússia para esses insurgentes era extra-oficial, incluindo o envolvimento de militares veteranos russos de forma voluntária. O conflito de Donbass virou uma luta pesada entre 2014 e 2015, e permanece em nível menor até o presente momento; mais de 13.000 pessoas foram mortas nos últimos sete anos. As derrotas das forças de Kiev pelas milícias de Donbass, incluindo a obtenção destes do controle pleno do Aeroporto Internacional de Donetsk em janeiro de 2015, estabeleceu o cenário para Kiev assinar um acordo de cessar-fogo.
Após um início equivocado - o assim chamado Protocolo de Minsk de 2014 - um estado de coisas interino foi chegado a um acordo em Donbass em fevereiro de 20015 pelo segundo acordo “Minsk II” entre o regime de Kiev, então sob a presidência de Peter Poroshenko, e de representantes das autodeclaradas repúblicas de Donbass, o que foi negociado por Kiev, pela França, pela Alemanha e pela Rússia com o suporte da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Organization for Security and Co-operation in Europe - OSCE). Foi estipulado o cessar-fogo, abandono de armamentos, trocas de prisioneiros, e apoio humanitário, assim como uma composição política dentro da Ucrânia. Isso visava um status especial para Donbass, com extensiva autonomia regional incluindo o “direito de autodeterminação linguística”. O restabelecimento do “controle pleno” da Ucrânia sobre a sua fronteira com a Rússia no Donbass era para ocorrer após a concessão do status especial e posteriormente às eleições locais. O status especial era para ter sido consagrado na Constituição da Ucrânia até o término de 2015.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas endossou o Minsk II em 17 de fevereiro de 2015. Ele permanece não implementado, pois Kiev quase que imediatamente recusou realizar eleições ou a legalizar plenamente o status especial, até que primeiramente tivesse sido dado controle sobre a fronteira Donbass-Rússia. Atualmente, o governo do presidente Volodymyr Zelensky em Kiev se recusa até mesmo a se encontrar com os líderes de Donbass para negociações, e continua a reclamar que o Donbass está sob “ocupação” russa, e que portanto Kiev deveria se comunicar apenas com a Rússia, e não com os líderes de Donbass. Enfrentamentos esporádicos continuaram, com o agravamento dos bombardeios cruzando a “linha de contato” entre as entidades de Donbass e o resto da Ucrânia.
Uma Nova Postura de Guerra dos EUA
A Administração Trump acelerou a derrubada de toda a arquitetura dos acordos internacionais de controle de armamentos ao retirar os EUA do Tratado das Forças Nucleares de Médio Alcance (Intermediate-Range Nuclear Forces - INF Treaty), assinado pelo presidente Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov em 1987, e o Tratado Céu Aberto (Open Skies Treaty), negociado pela OTAN e as nações do Pacto de Varsóvia em 1992. Isso deixou o Tratado Novo COMEÇO (New START Treaty) (Medidas para Posterior Redução e Limitação de Armamentos Ofensivos Estratégicos -Measures for the Further Reduction and Limitation of Strategic Offensive Arms), assinado pelos EUA e pela Federação Russa em 2010, como o último dos acordos de controle de armamentos existente - o que cobre mísseis intercontinentais pesados. Ao assumir o cargo neste ano, o presidente Joe Biden estendeu o Tratado Novo COMEÇO (New START Treaty) por mais cinco anos, uma decisão que foi bem recebida por Moscou.
Em 19 de janeiro de 2018, o Departamento de Defesa dos EUA tornou público a sua nova Estratégia de Defesa Nacional. “A competição entre as grandes potências - e não o terrorismo - é agora o foco primário da segurança nacional dos EUA”, disse o então Secretário de Defesa James Mattis em um discurso descrevendo o documento:
Nós enfrentamos crescentes ameaças de poderes revisionistas tão diferentes quanto a China e a Rússia, nações essas que buscam a criação de um mundo consistente com os seus modelos autoritários - buscando autoridade de veto sobre as decisões relacionadas à economia, à diplomacia e à segurança das outras nações.
Horas depois, o Ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov disse, em resposta à publicação da nova estratégia do Pentágono:
Nós lamentamos que, em vez de conduzir um diálogo normal, e em vez de se escorar na lei internacional, os Estados Unidos busquem atestar a sua liderança mediante conceitos e estratégias conflitantes.
Durante todo este período, Moscou manifestou-se contra estas ações conflitantes, mas de nada valeu. “Apesar de nossas inúmeras manifestações e apelos, a máquina americana foi posta em movimento, e a correia transportadora está movendo adiante”, disse o presidente russo Vladimir Putin em seu discurso dramático em primeiro de março de 2018, dirigido à Assembleia Federal, no qual ele anuncia em público a nova geração de armamentos estratégicos que a Rússia estava desenvolvendo, e pelo menos dois dos quais, o veículo planador hipersônico vanguarda (Avangard hypersonic glide vehicle) para MBIC (míssil balístico intercontinental) (Intercontinental Ballistic Missile - ICBM) e o míssil aerobalístico Kinzhal (Kinzhal aeroballistic missile), tem sido desde então postos em serviço.
O Componente Econômico
Tendo início em março de 2014, logo após o golpe de fevereiro de 2014 em Kiev, os Estados Unidos impuseram sanções econômicas e financeiras sobre a Rússia, supostamente sobre a Crimeia e as Repúblicas de Donbass. Estas sanções incluíram cinco Atos do Congresso, seis Ordens Presidenciais Executivas, dez “Diretivas de acordo com as Ordens Executivas” e duas “Determinações” presidenciais adicionais. Isso, de acordo com a lista de sanções do Departamento do Tesouro. Ocorreram naturalmente outras sanções, bloqueio de bens e propriedades, e expulsões diplomáticas por outras supostas razões, assim como outras formas de guerra econômica. Todas as sanções relacionadas à Ucrânia e à Crimeia permanecem vigentes; nenhuma foi suspensa. A última nova rodada de sanções foi imposta em 2018 pelo Ato CAATSA (Ato de Contenção dos Adversários da América Mediante Sanções) (Countering America’s Adversaries Through Sanctions Act), coincidindo com as novas sanções sobre o caso do envenenamento de Sergei Skripal.
De acordo com várias estimativas, o custo resultante para a economia da Rússia de todas estas sanções (contabilizados em PIB) tem chegado ao alcance de 250-400 bilhões de dólares americanos, com perdas comparáveis impostas sobre as economias europeias.
Além disso, em 2016 e 2017, o Presidente Putin acusou a Administração Barack Obama de ter conspirado com a Arábia Saudita a redução do preço do petróleo e o consequente dano à economia russa. Durante a Administração Trump, aparentemente isso não teve continuidade, já que a Rússia e a Arábia Saudita fizeram dois acordos significativos de precificação da produção de petróleo, o segundo em 2019 com alguma participação da Administração Trump.
Em 2021, a crise veio à tona. Ver detalhes da linha de tempo aqui.
Traduzido por Mario Braga
[nota 1]: O Ato Fundamental acerca das Relações Mútuas, da Cooperação e da Segurança entre a OTAN e a Federação Russa. 27 de maio de 1997. nato. int/cps/ en/natohq/ official_texts_25470.htm?selectedLocale=en [voltar ao texto]
[nota 2]: Taras Kuzio, “Apoio americano à libertação da Ucrânia durante a Guerra Fria” (“U.S. Support for Ukraine’s Liberation During the Cold War”), um estudo da Corporação Editorial de Pesquisa Prolog (Prolog Research and Publishing Corporation), Estudos sobre o comunismo e sua posteridade (Communist and Post-Communist Studies) Vol. 45, Fascículo 1-2, junho de 2012, págs. 51-64. [voltar ao texto]
[nota 3]: A ficha técnica da EIR, “O projeto imperial britânico na Ucrânia: golpes violentos, axiomas fascistas, e os neo-nazis” (“British Imperial Project in Ukraine: Violent Coup, Fascist Axioms, Neo-Nazis”) documenta o pré-planejamento e o agravamento passo à passo. EIR, Vol. 41, No. 20, 16 de maio de 2014, págs. 21-38. larouchepub. com/other/ 2014/ 4120fact_sheet_brits_ukr.html [voltar ao texto]
[nota 4]: Ler Ivan Katchanovski, “O massacre dos “snipers” no Maidan da Ucrânia” (“The ‘Snipers’ Massacre’ on the Maidan in Ukraine”) Social Science Research Network, 9 de setembro de 2015, 79 páginas. papers.ssrn. com/sol3/ papers.cfm?abstract_id=2658245 [voltar ao texto]
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