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O seguinte é uma tradução de material originalmente publicado na edição de 23 de Julho de 2021 da Executive Intelligence Review.

Afeganistão: Terrorismo, Guerra e Drogas
—Ou, Paz Através de Desenvolvimento

Proposta Russa Para Uma Ferrovia Para Desenvolvimento Regional Afegão
O mapa mostra parte da proposta ferroviária russa. As vias férreas já existentes estão a preto, a ferrovia proposta, a laranja. Estas ferrovias são parte de um corredor de desenvolvimento norte-sul (entre Omsk, na Rússia, e Karachi, Paquistão), e intersectam-se ou desenvolvem-se em paralelo com ferrovias planeadas para a Ásia Central e para o Paquistão, sob a égide do Cinturão Económico da Rota da Seda, uma iniciativa chinesa. A proposta russa foi publicada em “A Nova Rota da Seda Torna-se na Ponte Terrestre Global”, o Relatório Especial da Executive Intelligence Review em 2014.

O editorial do número de 16 de Julho da Executive Intelligence Review, por Helga Zepp-LaRouche, coloca a questão que enfrenta a Humanidade na sequência da falha e colapso da guerra de 20 anos da NATO no Afeganistão:

A turbulência estratégica causada pela retirada, do Afeganistão, das tropas da NATO, vem oferecer uma excelente oportunidade para uma reavaliação da situação, para uma correção da direção política, e para uma nova política orientadas para soluções. Há que enterrar de vez, para nunca mais ser reavivada, a longa tradição de manipulação geopolítica nesta região, na qual o Afeganistão representa, de certa forma, o interface, entre o “Grande Jogo” do Império Britânico durante o século 19, e o “arco de crise” de Bernard Lewis e de Zbigniew Brzezinski. Ao invés, todos os vizinhos na região (Rússia, China, Índia, Irão, Paquistão, Arábia Saudita, os Estados do Golfo e a Turquia) têm de ser integrados numa estratégia de desenvolvimento económico que represente um interesse comum entre os mesmos, um interesse comum de ordem mais elevada, que seja mais atrativo que a continuação dos respetivos, supostos, interesses nacionais.

Se, na sequência da retirada das forças da NATO, o Afeganistão for deixado nas mãos de barões das drogas, e dos seus exércitos, então cada homem, mulher e criança no mundo sentirá o impacto dessa ocorrência, dado o fato de que um Afeganistão desestabilizado continuará a servir de fonte para 80% do ópio no mundo, e de santuário para ISIS/Daesh e al-Qaeda.

A única opção que pode prevenir um tal desastre é aquela referenciada por Zepp-LaRouche, e que é também aquela proposta por Lyndon LaRouche (o falecido marido de Zepp-LaRouche), ainda antes de George W. Bush ter lançado a guerra no Afeganistão há 20 anos atrás. E, que é, nomeadamente, a de permitir ao Afeganistão que ponha um ponto final na sua História de “cemitério de impérios”, e que se torne no nexo central para uma Nova Rota da Seda expandida, a incluir ligações entre os países da Ásia Central (desprovidos de litorais e áreas costeiras) e o oceano, através de uma ferrovia norte-sul via Cabul e Paquistão, bem como ligações oriente-ocidente ao longo do trajeto da antiga Rota da Seda.

As propostas de LaRouche começam com a necessidade de que todos os países da região se reúnam e cooperem com os afegãos, de modo tal a integrar o desenvolvimento de toda a região, em benefício de todos. E, ao longo desta passada semana, houve desenvolvimentos que abrem o potencial muito real de que tal cooperação e integração sejam possíveis. A retirada das forças armadas dos EUA, após 20 anos de conflito fútil, destrutivo, e letal, despoletou ações por todas as nações regionais, que se juntaram, esta semana, numa série de conferências largamente focadas na urgência de levar desenvolvimento real ao Afeganistão. Estas conferências incluíram:

A 13-14 de Julho, em Dushanbe, Tajiquistão, houve o encontro dos ministros das relações exteriores da Organização de Cooperação de Shanghai (SCO), que inclui China, Rússia, Índia, Paquistão, e quatro dos “istões” da Ásia Central, tal como dez outras nações, na qualidade de Observadores ou Parceiros de Diálogo. No centro das discussões (incluindo as discussões à margem do encontro), a ideia de que o Corredor Económico China-Paquistão (CPEC) pode ser estendido, a partir de ramificações da ferrovia que se desenvolve entre a China e o território paquistanês, até ao Porto de Gwadar, no Mar Arábico. De Islamabad, a ligação estender-se-ia para ocidente, através de Peshawar e do Khyber Pass, até Cabul, Afeganistão e, depois, para norte, para Tashkent, Uzbequistão, e, daí, continuaria a desenvolver-se até, eventualmente, vir a estabelecer ligação com as ferrovias da Ponte Terrestre Eurasiática, a conectar a China à Europa.

Este plano foi lançado em Fevereiro, num encontro de Paquistão, Afeganistão e Uzbequistão; o encontro chamou ao plano o Corredor Económico do Khyber Pass. Foi submetida uma proposta ao Banco Mundial, embora também seja possível o envolvimento do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) e de outras instituições de crédito asiáticas. A essa luz, e durante esta semana, o Paquistão propôs a criação de um banco de investimento da SCO. Paquistão e Afeganistão também acordaram a construção de uma autoestrada a ligar Cabul a Dushanbe, Tajiquistão.

Ainda antes do fórum da SCO, o Ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, visitou o Turquemenistão, que, não sendo um membro da SCO, tem uma fronteira com o Afeganistão, para consolidar segurança e cooperação energética. O Turquemenistão é o maior fornecedor de gás natural da China, através de uma série de gasodutos a atravessar Uzbequistão e Cazaquistão.

A 15-16 de Julho, o Primeiro-Ministro paquistanês, Imran Khan, viajou para o Uzbequistão para se reunir com o Presidente Shavkat Mirziyoyev. A Declaração Conjunta que emanou do encontro declarava que “integração regional e conectividade” é a “pedra basilar de desenvolvimento económico e progresso”, e reiterou apoio ao projeto do Corredor Económico do Khyber Pass.

Também a 15-16 de Julho, a “Conferência Internacional sobre Conectividade, Desafios e Oportunidades Regionais para a Ásia Central e do Sul”. A conferência foi organizada em Tashkent, com a participação de representantes de 40 governos da esfera regional e internacional. O Uzbequistão começou a organizar este evento na sequência do lançamento do Corredor Económico do Khyber Pass, em Fevereiro. Dilshod Saidjanov, oficial uzbeque, disse à ANI, da Índia: “Desenvolvimento económico é a forma pela qual o Afeganistão será tornado mais forte e, provavelmente, mais pacífico. Toda a gente quer melhor desenvolvimento no Afeganistão”.

O Desenvolvimento Vem Antes da Política

Também estão a ter lugar esforços diplomáticos para a resolução da crise política. Estes esforços estão orientados para a criação de um acordo para resolução pacífica da guerra, e para a criação de alguma forma de poder partilhado, entre os Taliban e o governo afegão (hoje liderado por uma liderança partilhada entre Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah). É auto-evidente para todos que um tal acordo político fracassará na ausência de um programa de desenvolvimento que eleve o nível de vida de toda a população.

Em 2018, começaram a ter lugar, no Qatar, encontros (patrocinados pelos EUA) entre os Taliban e o governo afegão, com os EUA a serem representados pelo ex-embaixador dos EUA às Nações Unidas, Zalmay Khalilzad, um afegão-americano.

Até aqui, houve poucos progressos, se é que alguns. A 17 de Julho, começou uma nova ronda de conversações, motivada pelas atuais, dramaticamente mudadas, circunstâncias. Abdullah Abdullah apelou a esforços sérios para o estabelecimento de um acordo, afirmando que “Não podemos pagar o preço por isto em sangue, e não podemos escapar à responsabilidade por isto”. O líder adjunto e negociador dos Taliban, Mullah Abdul Ghani Baradar, comprometeu-se a que “os Taliban empenhar-se-ão a que as conversações tenham um resultado positivo”.

Será que os EUA se juntarão aos esforços para desenvolvimento? Lyndon LaRouche, argumentou, celebremente, que a resolução de conflitos intratáveis tem de colocar o desenvolvimento real à frente dos acordos políticos: para que um acordo político possa ser sustido, há primeiro que dar resposta às necessidades de bem-estar económico que são comuns a ambos os lados. A Iniciativa do Cinturão e Rota, chinesa, que é uma evolução da proposta de LaRouche (na sequência do colapso da União Soviética) para uma “Nova Rota da Seda”, a unir as nações da Eurásia em desenvolvimento partilhado, é baseada nesse princípio.

Porém, os britânicos e o “partido bélico” nos EUA (que abrange muito de ambos os partidos políticos) estão a trabalhar a todo o vapor para prevenir qualquer envolvimento positivo dos EUA com esta política de desenvolvimento regional. Ao invés, têm vindo a escalar a histeria anti-chinesa, arbitrariamente acusando a China de genocídio, e declarando o Cinturão e Rota como sendo uma conspiração malevolente para assumir controlo sobre o mundo.

Existe, porém, uma réstia de esperança de que a Administração Biden venha a tomar a abordagem sã de cooperação em desenvolvimento. A 16 de Julho, o State Department dos EUA publicava um press release intitulado “Anunciando Apoio Regional EUA-Afeganistão-Uzbequistão-Paquistão para o Processo de Paz e para a Pós-Resolução no Afeganistão”. As nações citadas são, com efeito, as nações através das quais o Corredor Económico do Khyber Pass passará. O anúncio afirma que “as partes pretendem cooperar para expandir o comércio, construir ligações de circulação, e fortalecer laços negócio-a-negócio”. E, é um fato que os EUA enviaram representantes significativos à supracitada Conferência de Tashkent de 15-16 de Julho: tanto Zalmay Khalilzad, como a Assistente de Segurança Interna para o Presidente, a Dra. Elizabeth Sherwood-Randall. Porém, não dá para saber se estão a seguir a política do State Department de demonização da China e do Cinturão e Rota, ou se estão a ouvir os apelos das nações da região à transformação efetiva do Afeganistão.

De acordo com a CGTN, durante o encontro de Ministros das Relações Exteriores da SCO, o Ministro Wang Yi, pressionou (durante as suas apresentações, como durante as suas reuniões em privado) o grupo a encorajar os EUA a juntar-se à reconstrução do Afeganistão. Yi notou que os EUA expressaram recentemente a sua prontidão para (na sequência da retirada dos EUA e da NATO) ajudar o Afeganistão a manter estabilidade e a conduzir uma reconstrução pacífica, pelo que deviam ser encorajados a honrar tais compromissos pelos estados-membro da SCO.

Um tal desvio, pelos EUA, das agora-normais políticas de sanções, guerras e subversão para mudanças de regime, deve ser fortemente encorajado. O envolvimento do Presidente Joe Biden com o Presidente Vladimir Putin, da Rússia (não obstante as denúncias e sanções igualmente vitriólicas do Congresso, e de dentro da própria Administração Biden, contra a Rússia como contra a China) pode e deve ser repetida com a China e com o Presidente Xi Jinping. O Embaixador afegão à China, Javid Ahmad Qaem, foi citado no Global Times de 17 de Julho:

O único lugar onde os EUA, a China e a Índia podem realmente cooperar (ou, ao menos, pode ser um ponto de partida para cooperação entre estes rivais, se lhes posso chamar assim), é o Afeganistão.

Um acordo internacional de cooperação com o Afeganistão e com os seus vizinhos para transformar a região num nexo central para o processo global do Cinturão e Rota, serviria também de modelo para outros cenários de crise, incluindo as nações, arruinadas por conflito, do Iraque, da Líbia, da Síria, e do Iémen. Este é o princípio da “Coincidência de Opostos” do Instituto Schiller: colocar um ponto final a conflitos aparentemente irreconciliáveis pela oferta de resposta ao princípio de ordem mais elevada, relacionado com os interesses comuns de todos, para paz através de desenvolvimento. Uma abordagem tão otimista como esta pode parecer impossível; porém, a alternativa é impensável. A Humanidade ascendeu da Idade das Trevas no passado, criando uma Renascença quando nada menos que isso funcionaria. Os dias de hoje têm de encontrar pessoas armadas com nada menos que a vontade criativa necessária à construção de uma nova Renascença.

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Tradução: Rui Miguel Garrido

 

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