O seguinte é uma tradução de material originalmente publicado na edição de 23 de Julho de 2021 da Executive Intelligence Review.
A Iniciativa do Cinturão e Rota (Nova Rota da Seda) e o Futuro que os Afegãos Querem
Hussein Askary é Coordenador para o Sudoeste Asiático para o Instituto Schiller e para a Executive Intelligence Review. Também é Co-Presidente do Instituto do Cinturão e Rota da Suécia (BRIX), onde atualmente reside. É co-autor, com Jason Ross, de Estender a Nova Rota da Seda para a Ásia Ocidental e para África: Visão de uma Renascença Económica, estudo de 2017 do Instituto Schiller. O seguinte é uma transcrição editada da apresentação de Askary ao webinar de 10 de Julho, 2021, da Organização LaRouche, “Afeganistão, Cemitério de Impérios, Tornar-se-á no Berço da Paz Através de Desenvolvimento?”. Foram adicionados subtítulos e links. O vídeo do webinar está disponível aqui.
O Sr. Askary falou na sequência de uma apresentação por Shakeel Ramay, Diretor do Centro China no Instituto de Políticas de Desenvolvimento do Paquistão, e é um colunista para os jornais paquistaneses The Nation e Express Tribune.
Agradeço ao participante anterior, o meu amigo Shakeel Ramay, pelos excelentes insights que nos providencia, a partir da sua própria posição e ponto de vista. Para agradar a minha amiga e colega, Diane Sare, apresento sempre uma perspectiva otimista das coisas. Não é uma perspectiva de torre de marfim. É um princípio científico que aprendi de Lyndon LaRouche, e que diz que é o futuro que determina o presente: uma vez que, aquilo que fazemos hoje, é determinado pela nossa visão de onde queremos estar no futuro.
Isso é também o que o meu amigo Shakeel diz. Devíamos olhar para o futuro desta região, do Afeganistão, do ponto de vista de uma criança afegã. Qual é o tipo de futuro que esta criança quer ter? E, depois, para concretizar esse sonho, podemos começar a planear e a discutir coisas. Não do ponto de vista do passado, de todas as coisas horríveis que aconteceram; embora precisemos de aprender com o passado, já que isso é importante. Mas precisamos de olhar para o futuro pelos olhos de uma criança afegã, ou de uma criança africana, e assim sucessivamente. Para mim, isto tornou-se num ponto de vista científico. Isto porque, quando me juntei ao Instituto Schiller e ao movimento Larouche em 1995, e quando me encontrei com Lyndon LaRouche e Helga Zepp-LaRouche, já nessa altura estávamos a falar da Nova Rota da Seda, da Ponte Terrestre Eurasiática, e parecia um sonho remoto. Porém, trabalhámos muito arduamente para garantir que é isto que vai ser o futuro da Humanidade, onde todas as nações podem trabalhar em conjunto, e onde nos livramos de geopolítica de uma vez por todas.
E, contemple-se, a crise afegã de hoje, traz consigo, como dizem os chineses, uma oportunidade para mudar as coisas. Para mudar as coisas terríveis que herdámos do passado, e construir coisas bonitas daqui para o futuro. É isso que quero partilhar com vocês hoje, ao invés de entrar em análises. É claro que discordo com todas as notícias horríveis de que os Taliban estão a fazer uma tomada de poder do país, estão a mandar abaixo a bandeira afegã, isto e aquilo. Como o Shakeel disse, o que precisamos agora, para intervir, é de manter cabeça fria. Neste preciso momento, há cabeças frias a intervir na região. É provável que vejamos o fim da geopolítica precisamente no próprio sítio onde a geopolítica teve o seu berço, com o “Grande Jogo” (“Great Game”)..
Harley Schlanger, na sua apresentação, mencionou o livro de Peter Hopkirk, O Grande Jogo: A Luta por Império na Ásia Central, um livro maravilhoso que recebi de prenda do nosso colega mútuo Michael Billington. Toda a gente devia lê-lo. É um muito bom registo histórico do modo como os britânicos usaram o Afeganistão como tampão estratégico contra o Império Russo. E, fizeram-no como um jogo. O próprio homem que cunhou a expressão “O Grande Jogo”, o Capitão Arthur Connolly [da Companhia das Índias Orientais]—foi decapitado em Bukhara pelo emir local. Portanto, esse é um aspeto anedótico muito engraçado.
A 'Nova Rota para a Paz'
O Afeganistão é literalmente um pedaço de rocha (ver Figura 1). Mais tarde, descrevê-lo-ei como um lugar onde humanos estão a viver, mas o Afeganistão é um pedaço de rocha. É uma extensão das Montanhas do Hindu Kush e dos Himalaias. Separa a Ásia Central do Sul Asiático, e esse era o propósito do Império Britânico. Podem ver a Província Badakhshan, com o corredor Wakhan a formar a extensão afilada para oriente. Isto foi criado pelos britânicos através de tratados com os líderes tribais locais, mas os russos também aceitaram o arranjo. Esta é a linha divisória entre o Império Russo e o Império Britânico. Olhem à volta do Afeganistão. Vão ver todas estas grandes nações, muitas das quais são planas, mas o Afeganistão é uma enorme rocha. É um território muito irregular; e também é muito seco. Os britânicos perderam três guerras lá. É por isso que é chamado Cemitério de Impérios. Os soviéticos também perderam lá e, finalmente, os Estados Unidos e a NATO têm agora de retirar.
O propósito de invadir o Afeganistão, então e agora, tem sido o de usar o Afeganistão para desestabilizar os países circundantes e dividir a Eurásia. Esse era o propósito. Não o de controlar o Afeganistão, mas o de usar o Afeganistão como tampão estratégico, e como granada, para atacar outras nações. Sabemos que a situação no Afeganistão, em termos de terrorismo, afetou todos os países da região. Há grupos terroristas no Paquistão, no Irão, no Turquemenistão, no Uzbequistão, no Tajiquistão, e na China, e estes grupos nasceram do “Grande Jogo” de Brzezinski, Bernard Lewis, britânicos, anglo-americanos, durante a Guerra Afegã contra os soviéticos. E, no Afeganistão, também temos o crescimento da produção de ópio desde 2001, e isto tem sido usado como uma “Guerra do Ópio” contra Irão, Paquistão, as nações da Ásia Central e, acima de todos os outros, Rússia. Em 2019, por exemplo, 18,000 russos morreram de overdoses.
O Afeganistão pode agora tornar-se subitamente num berço para paz para toda a Eurásia. A condição para isto é o abandono de geopolítica, e a integração do Afeganistão naquilo a que chamo a Nova Rota para a Paz, e o meu amigo Shakeel concorda comigo. Se olharem para os países à volta do Afeganistão, têm o Irão, o Paquistão, a Índia. Têm a China, a segunda maior economia do mundo, e a impulsionadora da Iniciativa do Cinturão e Rota. Têm o Tajiquistão, o Uzbequistão e o Turquemenistão. Então, mais adiante para além deles, têm a Rússia, e assim sucessivamente.
Temos de abraçar o Afeganistão, e de o envolver não com força militar, não pelo envio de drones para bombardear festas de casamento e funerais, como a OTAN e os Estados Unidos têm feito ao longo destes últimos 20 anos. Mas sim para lhes enviar uma mensagem: “Queremos ajudar-vos a reconstruir o vosso país”. Essa devia ser a mensagem.
Há muitas estruturas que podem ser usadas para concretizar esse propósito. Como foi dito por Helga Zepp-LaRouche, presidente do Instituto Schiller, se não envolvermos as maiores potências, em especial os Cinco Permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas, não podemos ter paz onde quer que seja no mundo. Portanto, se tivermos um mecanismo que envolva o Afeganistão, esse mecanismo não inclui os Estados Unidos. Porém, se os Estados Unidos quiserem desempenhar um papel positivo, então podem providenciar, a essas nações, paz através de desenvolvimento económico.
A Organização de Cooperação de Shanghai (OCS) foi criada após a queda da União Soviética. É uma organização de segurança. Porém, e se olharem para as nações que estão envolvidas na OCS (ver Figura 2), a OCS inclui quase metade da população do planeta, numa área muito sensível. China, Rússia, e Índia: três das quatro principais potências. Toda a Ásia Central, e o Paquistão e a Índia (supostos inimigos, membros da mesma organização). A verde, o Afeganistão e o Irão são observadores na OCS. E, temos a Mongólia.
O Ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, está a visitar em pessoa (a quebrar as regras de COVID) as nações-membro na Ásia Central e em todas as nações da Organização de Cooperação de Shanghai, para discutir como lidar com o Afeganistão.
Ao contrário da histeria e do absurdo geopolítico que ouvimos nos média, os antigos rivais estão, na prática, a trabalhar em conjunto para estabilizar a situação no Afeganistão. O Irão, como mencionei anteriormente, está a ser anfitrião para uma conferência entre o governo afegão e os Taliban. Ao longo de muitos anos, os Taliban foram o pior inimigo do Irão, já que, quando os Taliban assumiram controlo do Afeganistão, entraram no consulado iraniano em Mazar-i-Sharif, em 1998, e massacraram todos os diplomatas. Os iranianos nunca se esqueceram disso, mas agora, dizem, deixaram o assunto para trás, em prol da concretização de paz e estabilidade no Afeganistão.
Irão e Paquistão têm acordos de alto nível para manter a estabilidade. A Índia está envolvida tanto com Rússia como com Irão para criar um debate de ideias. Estão a ter lugar todos os tipos de movimentações diplomáticas para estabilizar a situação, e garantir que os Taliban são trazidos à mesa de negociações. Como o meu amigo Shakeel disse, os Taliban não são como a ISIS ou a al Qaeda. Têm uma certa ideia deles próprios como grupo patriótico e, para além do mais, contam com apoio no seio da população. O que é importante é que o que venha a acontecer no Afeganistão não desestabilize o resto.
Rússia, Tajiquistão, Quirguistão, e assim sucessivamente, têm um arranjo coletivo de segurança militar via tratado. Mas ninguém está a pensar em usar força militar. Nem a Rússia; nem a China; nem o Iraque. Ninguém tem a intenção de usar força militar no Afeganistão. Aprenderam a lição que os britânicos, os soviéticos, e agora os estadunidenses, aprenderam da forma difícil. O que quero dizer é, há certas estruturas que podem ser usadas para mudar a situação, e certas estruturas que não podem ser usadas para tal.
Corredores de Desenvolvimento, um Papel Positivo para EUA
O futuro reside no debate de soluções para as coisas. Ainda em 1996, estive envolvido com outros membros do movimento LaRouche, e do Instituto Schiller, na organização do primeiro relatório abrangente sobre a Nova Rota da Seda, a Ponte Terrestre Eurasiática. Nesse ponto no tempo, a Sra. Helga Zepp-LaRouche estava na China, a discutir isto. Os chineses aceitaram a Nova Rota da Seda como estratégia económica logo em 1996, mas, nessa altura, a ideia ainda não estava madura. Porém, e em 2013, o Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou a Iniciativa do Cinturão e Rota. E, fê-lo a partir do Cazaquistão, que é um país da Ásia Central. E também da Indonésia.
Em 2014, elaborámos o relatório A Nova Rota da Seda Torna-se na Ponte Terrestre Eurasiática. O capítulo 5 deste relatório contém uma secção intitulada “Ásia Central: Colocando um Fim a Geopolítica”. Lá, temos uma delineação abrangente de todos os tipos de conectividade: energia, água, agricultura, projetos industriais no Afeganistão (já que todos os países da Ásia Central foram afetados pela situação no Afeganistão). Também nessa secção do relatório, um apêndice, pelo Instituto Russo para Demografia, Migração, e Desenvolvimento Regional, uma organização não-governamental baseada em Moscovo, e ligada à Academia Russa de Ciências. Neste apêndice, o Instituto oferece a sua perspetiva sobre desenvolvimentos no Afeganistão, e sobre a integração do país na esfera mais alargada da Ásia Central e do Sul Asiático, pela construção de corredores de desenvolvimento. Isto inclui ferrovias, redes elétricas, gasodutos e oleodutos, pipelines para o transporte de água, e todos os tipos de coisas, descritas muito a fundo no documento. Esse apêndice percorre aquilo que os russos já sabem; os russos têm muito bons levantamentos geológicos de muitas partes da Eurásia. Assim, o apêndice aponta a localização dos minérios no Afeganistão, e os pontos onde intersectam os corredores de desenvolvimento para o país.
Estamos a falar de minérios, de recursos naturais, e do papel dos Estados Unidos. Penso que os Estados Unidos podem desempenhar um papel na concretização de paz no Afeganistão e em toda a Eurásia. Podem fazê-lo não pelo uso de força militar, mas sim pelo emprego das suas capacidades científicas, tecnológicas e industriais, que são também parte da tradição militar dos Estados Unidos. Ao invés de todas estas guerras que não beneficiam ninguém, podemos ter uma situação win-win, onde todos ganham.
Há um estudo (isto é a melhor coisa que os Estados Unidos fizeram no Afeganistão) que foi conduzido pelos geólogos e engenheiros do Serviço Geológico dos EUA, e publicado em 2011 sob o título “Sumários de Áreas Importantes para Investimento Mineral, e Oportunidades de Produção para Minérios no Afeganistão”. Eu até que conheço algumas das pessoas que trabalharam nesse projeto, do lado europeu, porque foi um projeto enorme. Todo o território do Afeganistão foi explorado, para descobrir depósitos de minérios que possam ser usados para desenvolvimento económico.
Fizeram um estudo fantástico, profundo. Li o estudo quando saiu. Mais tarde, foi desenvolvido um pouco mais. Ao reportarem o estudo, os média disseram, “Oh, eles no Afeganistão têm $2 triliões em minérios.” É isso que está errado em geopolítica: pensam apenas em termos de dinheiro, não em termos de como esta riqueza mineral poderia beneficiar o povo afegão e ainda outros.
Este estudo está disponível no website do Serviço Geológico dos Estados Unidos, e foi atualizado várias vezes. É um estudo fantástico; é muito útil. Mostra como o Afeganistão tem não apenas algumas das maiores reservas de cobre e minérios de ferro na Ásia, mas também que tem os, assim chamados, minerais de terras raras, e, em especial, minérios como lítio, crómio, tântalo (que são cruciais para a indústria moderna, em particular para eletrónica, telecomunicações), e assim sucessivamente.
O Serviço Geológico dos EUA fez um fantástico levantamento das localizações destes minérios. Porém, e como é óbvio, não delinearam o modo como estes minérios podem ser usados, uma vez que os decision-makers nos Estados Unidos não são engenheiros, nem agricultores, nem professores: são geopolíticos, como Zbigniew Brzezinski, que segue um modelo geopolítico britânico, pelo qual o mundo é uma luta de todos contra todos. “Se não assumirmos controlo destes minérios, esse controlo é assumido pelos chineses, ou pelos russos, ou pelos indianos. Vamos garantir que ninguém usa estes minérios”. Portanto, a riqueza mineral afegã nunca foi explorada.
Integração em Desenvolvimento Eurasiático
Os chineses apareceram em 2017, e o governo do Afeganistão disse, “Nós temos toda esta riqueza mineral, e queremos usá-la”. Portanto, fizeram uma licitação internacional, e duas companhias chinesas ganharam a concessão, ao fazerem a oferta mais barata para investir na maior mina de cobre em toda a Ásia Central. Esta mina é chamada Mes Aynak, por razões históricas que são interessantes. Mes Aynak está localizada na Província de Logar, na parte oriental do Afeganistão. Mas também há o depósito de minérios de ferro em Hajigak, na Província de Bamyan, 130 km a ocidente de Cabul, e que o Serviço Geológico dos EUA também identificou.
O projeto nunca saiu do papel, porque o pessoal da companhia chinesa foi atacado por grupos terroristas quando estava a fazer o levantamento da região. Porém, também houve problemas técnicos, porque, de modo a extrair o cobre da rocha, foi preciso construir uma central energética de 400MW, para derreter os minérios, e foi também preciso construir ferrovias, para trazer carvão da parte ocidental do país, para alimentar essa central energética, e para exportar o cobre extraído.
Esta área também é interessante porque tem povoados da Idade do Bronze, pré-históricos, mas também povoados Budistas. Algumas pessoas usaram esta área para criar uma mobilização contra as companhias chinesas. Portanto, foi lançada uma enorme campanha internacional, apoiada por EUA e UE, para salvar os artefactos históricos nessa área onde estavam localizados os minérios. Temos, como é evidente, de preservar estes artefactos históricos. Porém, isto foi usado como forma de atacar e fazer cessar o projeto chinês. Os próprios chineses tiveram problemas técnicos, pelo que o projeto nunca saiu do papel.
No que diz respeito à integração do Afeganistão na Iniciativa do Cinturão e Rota, a Nova Rota da Seda, o Afeganistão está localizado entre dois dos mais importantes corredores da Nova Rota da Seda, ou Cinturão e Rota (Ver Figura 3). Um é o Corredor Económico China-Paquistão, marcado B no mapa. Depois, há a rota China-Ásia Central-Ásia Ocidental, a Rota da Seda, que parte da Região Autónoma Uyghur de Xinjiang na China, prossegue ao longo de Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, e também de Turquemenistão e Irão, até chegar ao seu término na Turquia. Esta rota está assinalada com F. O Afeganistão é a peça que falta em toda esta situação. Não está conectado. Como eu disse há pouco, o Afeganistão é um pedaço de rocha; é muito difícil construir coisas lá. Mas não é impossível, porque os chineses já construíram uma ferrovia de alta velocidade, de 435km, a ligar Nyingchi, no Tibete, à capital tibetana, Lhasa, nos Montes Himalaias, através das áreas mais acidentadas da China. É possível ultrapassar estas dificuldades.
A população do Afeganistão está concentrada na parte oriental do país, e também no ocidente. Há muito pouca população nos territórios centrais. Tanto a população como os recursos minerais estão concentrados em certas áreas, o que torna necessário ligar estas áreas com corredores de desenvolvimento, infraestrutura.
E, de modo interessante, quando olhei para a demografia do Afeganistão, é fantástica. É o motivo pelo qual disse, mais cedo, que o futuro determina o que acontece no presente. Dos 37 milhões de habitantes do Afeganistão, 3 milhões estão refugiados fora do Afeganistão, mas 34 milhões vivem no país, e 46% desses 34 milhões têm menos de 15 anos de idade. Acima dos 65, apenas 2.4% da população. Portanto, 97-98% da população estão abaixo dos 65 anos de idade, e a maioria destes, 80%, estão abaixo dos 30 anos de idade. Portanto, têm o futuro à sua frente. O que é necessário é dar a estes jovens os meios para que sucedam, para que usem o seu potencial criativo, e construam a sua economia, e entrem no futuro, integrados com o resto da economia global, ao longo das linhas da Nova Rota da Seda, ou da Iniciativa do Cinturão e Rota.
Como o meu amigo Shakeel disse, não se podem apresentar ideias aos afegãos, porque são um povo muito teimoso, nacionalístico e anti-estrangeiro, pelas razões óbvias. Têm passado o tempo todo a ser atacados. Tem de se perguntar aos afegãos a sua opinião sobre estas ideias. Quais as suas aspirações?
Portanto, eu trouxe este documento (ver Figura 4) do Ministério afegão das Relações Exteriores, que tem um instituto especial de planeamento chamado Conferência de Cooperação Económica Regional sobre o Afeganistão (CCERA). Neste documento, eles delinearam um número de projetos, e integraram ideias regionais na reconstrução do Afeganistão, por exemplo, pela construção da assim chamada ferrovia Anel à volta do Afeganistão. Há ferrovias construídas ao longo de todos os países à volta do Afeganistão, até à fronteira afegã, mas, e dentro do próprio Afeganistão, nada. A razão é, tivemos a OTAN dentro do país; a OTAN não constrói ferrovias. Como Susan Rice, a Conselheira de Segurança Nacional de Obama, disse aos embaixadores africanos, “A nossa onda não é infraestrutura”. Portanto, e ao longo dos últimos 20 anos de ocupação anglo-americana, o Afeganistão é, de todos os países na região, aquele que nunca construiu infraestrutura.
Como delineado pelo governo afegão, e agora, como o nosso amigo Shakeel diz, os Taliban agora aceitam a integração dos projetos infraestruturais do Afeganistão na região geográfica mais alargada, de modo tal que todos beneficiam. Ferrovias, os projetos de petróleo e gás, do Turquemenistão para o Afeganistão, e daí para o Paquistão e para a Índia, a dita linha PATI (da qual os Estados Unidos e o Reino Unido têm estado a falar ao longo de três décadas, mas que nunca foi construída), pode agora ser conectada. Irão, Afeganistão e Paquistão podem agora ser integrados. O Corredor Económico China-Paquistão, provindo da China, pode agora ser feito chegar ao Afeganistão.
Todos estes países disseram (eu tenho documentos, não tenho tempo para os ler a todos) que há encontros a decorrer entre China e países da Ásia Central. Estão a falar da Iniciativa do Cinturão e Rota e da integração do Afeganistão. Os ministros das relações exteriores do Irão, do Paquistão, e da China, que se encontraram ainda no mês passado, concordaram que cooperação no Cinturão e Rota deveria ser intensificada, e que o Afeganistão deve ser incluído no quadro geral.
Isto, portanto, é o tipo de coisa que é necessária para fazer com que o povo afegão e a sua liderança (quem quer que sejam) vejam o futuro do ponto de vista dos seus filhos, para ver qual será o futuro do seu país se aceitarem esta oferta. Mas alguém tem de fazer a oferta. Há movimentações intensas a decorrer neste exato momento; como eu disse há pouco. O Ministro chinês das Relações Exteriores está na Ásia Central, e vai visitar todos os países que circundam o Afeganistão. O Paquistão está em conversações avançadas com os afegãos, e com o Irão e com a China, sobre as possibilidades para paz e estabilidade no Afeganistão.
Desenvolvimento Económico Vem Primeiro
Porém, e como LaRouche avisou, sobre o processo de paz Israelo-Árabe. Se não começarem por pôr na mesa, desde o início, o desenvolvimento económico que estão a pensar criar, nunca se envolvam em debates sobre questões religiosas, políticas, e outras “soluções”, Ou democracia, nem declarem que tipo de governo querem. Comecem com o desenvolvimento económico. Mostrem ao povo afegão e aos seus líderes como é que o país deles vai ser no futuro. Mostrem-lhes a vossa disponibilidade para os ajudar a criar esse futuro. Depois, eles dirão, “Aceitamos o acordo”. Talvez haja alguma gente insana que diz “Não”, mas a maioria vai dizer, “Esse é o tipo de futuro com que sonhamos, esse é o tipo de futuro que queremos”.
Penso que os Estados Unidos e a Europa podem ser parte disto.
Só para vos avisar, há pessoas que serão contra isto. O Banco Mundial; não envolvam o Banco Mundial nisto. Não envolvam a UE nisto. Não envolvam os EUA e o Reino Unido nisto, a não ser que eles descartem primeiro todos os livros de economia de onde aprenderam, como LaRouche nos disse.
Acabei de deparar com este estudo do Banco Mundial, por um grupo de estadunidenses que são alegados “economistas”; idiotas certificados, nas palavras de Lyndon LaRouche. O estudo é sobre a construção de ferrovias no Afeganistão. Eles dizem ao Banco Mundial, “É improvável que a maioria deles [os projetos de construção de ferrovias] possam, ou sequer devam, ser levados a cabo. Muitos, mesmo se concretizáveis, podem não ser financeiramente viáveis. Ao invés, a construção dessas ferrovias teria um impacto deficitário na economia nacional afegã”.
Portanto, a ideologia aqui no Ocidente é, se não tiveres dinheiro, não podes construir ferrovias, não podes construir hospitais, não podes construir escolas, não podes construir estradas, não podes construir barragens, não podes construir centrais energéticas. Esta ideologia deveria ser atirada para o caixote de lixo da História, a par e passo com geopolítica.
A economia tem de (uma vez mais, como identificado por LaRouche) voltar ao seu berço humano, à sua origem humana, a de que todos os recursos começam nas mentes de seres humanos que são criativos e pensam sobre o futuro. Quando se olha para este problema no Afeganistão, olhe-se sempre pelos olhos da criança afegã que está a pensar, “Qual vai ser o meu futuro?”
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Tradução: Rui Miguel Garrido
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