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O seguinte é uma tradução de material originalmente publicado na edição de 16 de Julho de 2021 da Executive Intelligence Review.

Porque é que o Universo Precisa de Mais Pessoas

Megan Dobrodt é a Presidente do Instituto Schiller nos EUA. Dobrodt trabalhou diretamente com Lyndon LaRouche em projetos de investigação científica e económica. Esta é uma transcrição editada de “A Real Ciência das Alterações Climáticas: Porque é que o Mundo Precisa de Muitos Mais Terawatts de Energia”, a apresentação introdutória de Dobrodt ao segundo painel da conferência do Instituto Schiller a 26-27 de Junho de 2021, “O Bem Comum de Todos, por Oposição a Regras em Prol dos Poucos!”

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Instituto Schiller
Megan Dobrodt

A ideia de que o mundo, o universo, precisa de mais pessoas para a sua existência continuada, é uma que me foi inicialmente apresentada por Lyndon LaRouche. Não é uma opinião. É uma conclusão derivada do estudo rigoroso da História do nosso planeta, e da ciência de economia física. Porém, nem toda a gente concorda com essa afirmação. Talvez já tenham ouvido isto:

O crescimento populacional humano é, provavelmente, a maior ameaça de longo termo à sobrevivência. Encaminhamo-nos para um enorme desastre se esse crescimento não for revertido… Não temos opção.

Demasiados carros, demasiadas fábricas, demasiado detergente, demasiados pesticidas, crescente poluição atmosférica, falta de centrais de tratamento de esgotos, falta de água, demasiado dióxido de carbono—tudo isto é facilmente atribuível a, demasiadas pessoas.

Somos uma praga na Terra. Vamos pagar a fatura ao longo dos próximos 50 anos, ou assim. Ou limitamos o nosso crescimento populacional, ou o mundo natural tratará disso por nós.

A boa notícia é a de que a História do nosso universo, e da própria biosfera, mostra o exato oposto. Não há qualquer “estase” que estejamos a perturbar. Não há “A Terra em Equilíbrio”*. Ao invés, o que vemos é um processo de mudança anti-entrópica, de transformação continuamente mais intensa do mundo natural. Este processo criou as condições para o aparecimento de vida cognitiva, e requer, na verdade, mais pessoas para a sua continuidade.

Para obter um relance deste processo, olharemos brevemente, em primeiro lugar, para o trabalho de Vladimir Vernadsky e, depois, para o de Lyndon LaRouche.

Primeiro, tomem em consideração as falácias hoje prevalentes sobre a “natureza”, o “mundo natural”, aos quais a atividade humana está supostamente em oposição. Um dos argumentos essenciais de hoje, e que já terão ouvido, é o de que estamos a destruir a biodiversidade, e de que estamos a extinguir espécies a uma velocidade 1,000 vezes mais rápida do que o que é considerado “natural”.

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Esquerda: Academia de Ciências da URSS, 1934; direita: NSIPS/Stuart Lewis

Vernadsky: A Moção Incessante da Matéria na Biosfera

Façamos uso das descobertas de Vernadsky para corrigir esse ponto de vista, começando pela noção do que uma espécie viva é. Não existe algo como uma criatura viva, aparte da biosfera, ou seja, fora do ambiente material e energético no qual vive. Tira-se uma criatura viva da biosfera, e essa criatura morre. Esta interconexão está presente no fato de que o corpo de um organismo vivo, do mais pequeno microorganismo às maiores plantas e animais, não é feito do mesmo material de que era feito no último ano, no último mês, ou até ontem. Um corpo vivo é um processo incessante de movimento—de intercâmbios materiais com o ambiente circundante, através de nutrição e respiração. Até vocês próprios: perto de 98% dos átomos nos vossos corpos serão substituídos por novos átomos ao longo do próximo ano.

Isto levou o naturalista Georges Cuvier a dizer que um organismo vivo é uma “corrente incessante”, um turbilhão de átomos que vêm do exterior, e ao exterior regressam.

Portanto, e com essa ideia, temos uma nova perspetiva das espécies vivas: não como uma coleção de coisas, objetos, com pêlo e pés, e asas, mas como algo similar a um mineral vivo. Vernadsky descobriu que, se tomarmos a totalidade dos indivíduos de uma qualquer espécie ao longo do globo, essa espécie pode ser caracterizada por uma massa média, mas, e mais interessante, por uma distribuição muito precisa dos elementos e isótopos químicos que compõem o seu corpo, uma distribuição que é específica a essa espécie viva, como se fosse uma assinatura ou impressão digital química.

Estes “minerais vivos”, enquanto estão no processo de trocar material com o seu ambiente circundante, deixam para trás (tanto nas suas excreções como nos seus corpos, quando morrem), deixam para trás um ambiente geoquimicamente mudado, transformado.

O meu exemplo favorito para oferecer aqui é o Grande Evento de Oxigenação, que ocorreu algures entre 2 e 2.4 biliões de anos atrás, pouco após a biosfera desenvolver uma nova tecnologia chamada fotossíntese. Nesta altura, estes pequenos microorganismos, as cianobactérias, começaram a libertar enormes quantidades de oxigénio para o ambiente. Esse oxigénio era tóxico à larga maioria da vida no planeta. Isto resultou numa extinção em massa, durante a qual uns aproximadamente 99% de toda a vida na Terra morreu!

Porém, e depois, o que emergiu? Bom, o que sobreviveu, essencialmente, foram as formas de vida que tinham a capacidade de metabolizar oxigénio. Isto revolucionou a “energia livre” que estava disponível à matéria viva. A partir de certo ponto, permitiu o desenvolvimento de mitocôndrias e de vida multicelular. Ao mesmo tempo, a geologia do próprio planeta foi dramaticamente impactada. Começaram a aparecer novos tipos de minerais, minerais que se formavam na presença de oxigénio, incluindo as formações ferríferas bandadas.

A Vida Transforma a Geoquímica da Terra

Portanto, a matéria viva transformou radicalmente a composição geoquímica da Terra, perturbando a natureza não-viva, a “estase” à volta da mesma. Devido a isto (a este trabalho, a esta atividade desempenhada pela vida), Vernadsky chamou aos organismos vivos “os portadores de, e os criadores de energia livre” na biosfera.

As décadas de trabalho de Vernadsky levaram-no a duas conclusões muito importantes: 1) que a ação da matéria viva na reorganização do material não-vivo do ambiente tinha vindo a ocorrer desde o primeiro aparecimento de vida na Terra, e que nunca tinha cessado; e, 2) que a taxa à qual isso tinha estado a acontecer tinha aumentado ao longo do tempo. A vida tinha acelerado o seu processo de transformação da natureza. Isto era algo que, notou Vernadsky, tinha sido alcançado através da mudança do conjunto das espécies que tinham, em qualquer ponto no tempo, existido no planeta. Por outras palavras, isto tinha ocorrido através de um processo de extinção e evolução.

Figura 1

FIGURA 1
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Cortesia of Megan Dobrodt
O evento de extinção K-T levou à dominância de organismos de mais elevada intensidade metabólica, sobre organismos de menor intensidade metabólica.

Olhemos brevemente para uma indicação disso. A Figura 1 mostra a biodiversidade ao longo do tempo. No topo, os animais tetrápodes, e, no fundo, as plantas. A linha vertical entre os dois gráficos indica a altura da extinção K-T (Cretáceo-Terciário), há cerca de 65 milhões de anos atrás, quando os dinossauros foram extintos. Antes dessa altura, as classes dominantes de organismos eram aquelas com intensidade metabólica mais reduzida: os répteis, no caso dos animais, e as gimnospérmicas, no caso das plantas. Após esse evento de extinção, aquelas classes (à esquerda) declinam, e um conjunto de organismos de ordem energética mais elevada, os mamíferos e as angiospérmicas, emergem e tornam-se prevalentes.

Uma Direção para a Evolução

Vernadsky concluiu, a partir de evidências como esta, que há uma direção concreta para a evolução, que é a do aumento de intensidade daquilo a que chamou “migração biogénica de átomos”. Por outras palavras, a intensidade da transformação da Terra por ação da matéria viva. Vernadsky disse que isto progride, ao longo do período evolutivo, na direção da sua manifestação máxima, tanto que, se um organismo tivesse evoluído aleatoriamente, só sobreviveria se conseguisse manter-se a par da, e contribuir para o aumento da intensidade da biosfera.

Lá se vai a “natureza pristina”, lá se vai “A Terra em Equilíbrio”. A natureza está constantemente a mudar, e está a mudar de tal maneira que se está a tornar mais capacitada para mudança futura. Desta maneira, a biosfera, a matéria viva, agiu para melhorar a Terra, para maximizar o trabalho que é feito. Concentrou materiais em formas que são mais utilizáveis, e de maior potência do que aquilo que seriam, fora da ação da vida. Isso é natural!

Porém, há um limite à biosfera. A evolução permitiu aos organismos vivos que penetrassem fundo na crosta terrestre, e que ascendessem alto, aos auges da troposfera. Porém, a tecnologia biológica foi constrangida à orla do espaço, onde o ambiente da biosfera acaba. Porém, e ao longo dos últimos poucos milhões de anos, a biosfera desenvolveu-se a um ponto no qual se tornou possível a emergência de um tipo diferente de criatura viva, de uma criatura viva não limitada da mesma forma. E essa é a vida cognitiva.

Com a Humanidade, vemos pela primeira vez a evolução de uma espécie através de algo mais que a sua biologia. E, Vernadsky faz questão de notar que a infraestrutura biológica e neurológica do organismo humano não mudou apreciavelmente ao longo dos últimos dez mil anos.

E, porém, veja-se o quanto a nossa espécie mudou. Através da evolução das nossas mentes, um tipo de migração biogénica de átomos, um tipo de intercâmbio e transformação da química da Terra emergiu como um fator significativo, e esta é a migração biogénica causada pela tecnologia; devida ao labor organizado, ao trabalho social de uma espécie.

Deixem-me dar-vos uns poucos exemplos rápidos.

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Créditos das imagens, da esquerda para a direita: CC/CIMMYT/Thomas Lumpkin; CC BY 2.5/John Doebley; Wikimedia Commons

Um dos mais significativos na nossa História é a agricultura, que começou há cerca de 10,000 anos atrás, quando os seres humanos começaram a selecionar, a cultivar, a concentrar e a mudar a vida vegetal e animal, para que melhor se adaptasse às necessidades humanas. Esta nova fiabilidade, e também expansão, das fontes de alimentos, e também do trabalho (no caso do gado), abriu a possibilidade de populações mais expandidas, de sedentarismo, de uma cultura urbana. E, levou também a um aumento na produtividade de várias espécies vegetais e animais, que as mesmas não teriam alcançado por si mesmas, sem nós.

Outro exemplo é o da aplicação do fogo à metalurgia: a extração de metais da rocha e a transformação dos mesmos em ferramentas. Ao longo da História humana, criámos novas coisas, que, de outra forma, não podiam e não teriam existido à face da Terra. Tornámos eletricidade em movimento. Enriquecemos o urânio. Super-aquecemos e contivemos plasmas. Aplicámos de novas formas o poder destas coisas, assim expandindo o mundo natural.

Esta capacidade única do Homem permitiu-nos superar limites prévios à nossa população. E, notou Vernadsky nos 1930s, o limite superior da população humana à altura estava, provavelmente, à volta dos 3 triliões. Vernadsky adicionou que, com o conhecimento do núcleo atómico a chegar à prática tecnológica, esse limite tornar-se-ia provavelmente muitas vezes mais elevado.

Assim, e com a aplicação da razão na forma de tecnologias ao longo dos últimos 100 anos, a noosfera, o domínio da atividade humana, começou a superiorizar-se na sua intensidade à biosfera, tal como a biosfera tinha, antes, superado a taxa de atividade do não-vivo.

E, portanto, o desenvolvimento do nosso pequeno planeta foi apontado na direção de, e está agora a ser cultivado para refletir a dominância do poder da razão.

Desta forma, temos, mesmo com este pequeno relance, o fato de que a natureza é dirigida por um princípio criativo. Tudo participa nela, incluindo os processos da biosfera, que o fazem por instinto. Os seres humanos participam conscientemente nela.

Lyndon LaRouche: Um Princípio Criativo Conscientemente

E é aqui que olhamos para as descobertas de Lyndon LaRouche em economia física, que assentam firmemente no fato de que a vida humana incorpora um princípio de existência mais elevado que o dos meros animais.

LaRouche, no seu livro de 1983, Não Há Limites ao Crescimento, escreve que:

O Homem é fundamentalmente diferente dos animais. O Homem não é meramente uma criatura de potencialidades instintivas, uma mera criatura de percepções animalescas de prazer e dor. De alguma forma, o Homem é muito diferente. O Homem tem o potencial da Razão, o poder para fazer descobertas criativas que avançam o seu conhecimento científico, e o poder para converter tais avanços científicos em avanços tecnológicos. Temos a capacidade de descobrir, com perfeição crescente, os princípios universais que ordenam a criação universal, e de comandar a natureza com poder crescente, através de auto-direção para a mudança das nossas formas de comportamento, de modo a que as mesmas estejam de acordo com leis universais.

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Créditos das imagens: esquerda acima: CC/Robert M. Lavinsky; esquerda abaixo: CC/Arlin Finney Nybø; direita: CC/Morgan Riley
O minério de malaquite, quando reduzido pelo fogo, produz cobre, que pode depois ser usado para a criação de produtos de utilidade ou de estética, como seja o anel Viking aqui mostrado.

Como Lyndon LaRouche muitas vezes disse, nenhum animal alguma vez fez uma descoberta de princípio. Só os seres humanos. Isto faz parte da virtude da Humanidade. As nossas mentes são capazes de “ver”, por assim dizer: pela geração de uma hipótese criativa dentro dos limites dos nossos próprios processos de pensamento, “vemos” princípios do universo: gravitação universal, eletromagnetismo, os poderes do núcleo atómico. Estas coisas nunca podiam ter sido vistas ou percebidas com os sentidos animais. Quanto brandimos estas ideias, estes princípios como ideias incorporadas na tecnologia, somos recompensados com novo e eficiente poder para mudar o universo.

Aí está o segredo da economia.

Num escrito de 2005, As Criações Originais do Homem, LaRouche diz que:

Um economista tolo mede o desempenho de uma economia pela riqueza financeira, ou monetária, ou (muito menos tolamente) pela riqueza física, que é usufruída, ou por alguns, ou por todos, os membros dessa sociedade. O economista competente mede a riqueza da economia pelo grau, pela mesma economia permitido, de auto-melhoramento da qualidade dos membros dessa sociedade, como seres humanos. Fazendo o mesmo ponto mais incisivamente, foi dito que a missão económica da sociedade é a de tornar as pessoas da nação melhores que aquilo que são hoje. Isto tem de ser feito através de meios empregando o processo de desenvolvimento das pessoas para a obtenção de níveis mais elevados, per capita, de poder na natureza, e sobre a natureza. Ou, poderíamos antes dizer, “A maior riqueza que uma geração, já falecida, deixa aos seus herdeiros, é uma sociedade com uma melhor qualidade de pessoas vivas”.

Transcendendo a Fronteira do Espaço

Portanto, qual o input primário a um ciclo económico físico? Pessoas—o trabalho e as tecnologias de suporte da sociedade. E, qual é o output primário? Pessoas! Mas uma melhor qualidade de pessoas. Mais pessoas, vivendo vidas mais longas, melhor situadas para fazer as próximas descobertas e contribuições para a Humanidade. Isto é um processo auto-perpetuado. O universo sinaliza a sua “aprovação” desse processo pelo permitir-nos (e, num sentido, pelo exigir-nos), que nos envolvamos crescentemente mais no mesmo.

Com base neste princípio, Lyndon LaRouche desenvolveu uma medida de progresso físico económico ao qual chamou de “densidade populacional relativa potencial”. Quantas pessoas poderiam ser suportadas numa dada área territorial, no caso de as tecnologias disponíveis e os melhoramentos tecnológicos serem aplicados a esse território e ao trabalho da população? Numa economia saudável, há uma taxa crescente de aumento desta métrica.

Portanto, voltemos à biosfera, que está constrangida às orlas do espaço. Nós somos a única espécie com a capacidade de transcender essa fronteira, e de estender a biosfera a outros corpos planetários. Quando fizermos isso, levaremos o mesmo processo anti-entrópico de desenvolvimento que o nosso planeta teve o privilégio de experienciar, mais e mais longe ao longo do sistema solar; e, a partir de certo ponto, para outros sistemas estrelares. Sem nós, a vida não consegue fazer isso, e talvez essa seja uma das razões pelas quais o universo nos criou.

Portanto, quero deixar-vos duas ideias. Primeiro, a ideia aqui sugerida por LaRouche, do potencial da Humanidade para progresso ilimitado e incessante. Em 2013, LaRouche escreveu:

As capacidades físicas da Humanidade são, por elas próprias, limitadas; as fronteiras do poder da mente humana para imaginar eficazmente, a partir de dentro, os processos de desenvolvimento, não do “cérebro” humano, mas (e contrariamente a opiniões populares), da mente humana, não têm fronteiras presentemente proponíveis.

Segundo, o fato de que, ao contrário do domínio biótico, que responde automaticamente, por instinto, aos seus papéis criativos, a Humanidade tem de escolher fazer o bom. Para Gottfried Leibniz, o fato de que isto tinha de ser uma escolha de livre arbítrio, é aquilo que a tornava boa.

Hoje, peço-vos que imaginem o bem que viria aos biliões de atuais seres humanos vivos, e aos triliões que esperam para nascer, se eliminássemos, para sempre, da cultura humana, a maldição de maltusianismo. Podemos nós, como Humanidade, finalmente crescer e colocar o nosso comportamento em harmonia com a nossa verdadeira característica enquanto espécie? Que grande bem virá, quando as nações finalmente brandirem, como opção política consciente, as descobertas de economia física de Lyndon LaRouche, de modo a moldar os próximos 100, 1,000 anos?

Obrigada.

* “A Terra em Equilíbrio”, ou “Earth in the Balance”, é uma obra publicada por Al Gore em 1992 (N. do T.)

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Tradução: Rui Miguel Garrido

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