O seguinte é uma tradução de material originalmente publicado na edição de 25 de Junho de 2021 da Executive Intelligence Review.
Suíços Votam Contra Suicídio Climático
Quando submetidos, pela primeira vez, ao voto direto de um eleitorado nacional, os ditados do Acordo Climático de Paris foram decisivamente rejeitados, a 13 de Junho, em referendo na Suíça. Sendo a Suíça um dos únicos países da Europa que ainda têm soberania, os seus eleitores rejeitaram a nova lei climática do país, a “Lei do CO2” (CO2 Gesetz), por uma maioria de 51.6%. A lei assim rejeitada viria impor impostos sobre o combustível, e outras medidas restritivas, impostas em nome da redução de emissões de CO2 , para mitigar “alterações climáticas”.
Enquanto aqueles que votaram “Não” abriam as garrafas de champanhe, o lobby climático falava de “um dia negro para proteção climática”, e de um “desastre para proteção climática suíça”, de acordo com um artigo no Cash, o website financeiro e económico suíço. O voto também promete ser “um desastre” para os lobbies climáticos no resto da Europa, e até mesmo nos Estados Unidos e no Canadá.
O impacto na Alemanha, a economia mais verde no continente, foi imediato. O Bild Zeitung, o tabloide de maior circulação no país, editado sob o mote “A Voz do Povo”, avisou:
O referendo na Suíça é também uma lição para a Alemanha. Mostra que nem tudo o que é considerado consensual em conferências partidárias e em talk shows é igualmente consensual junto da população. Nem sequer o tópico quente da proteção climática….
Os cidadãos estão a perguntar-se ansiosamente sobre se vão ter de passar sem as suas férias e sem os seus carros. Sobre se o estado lhes vai realmente dar alguma coisa de volta, após tornar mais cara a gasolina….”
O Bild avisa que, após o voto suíço,
Os políticos alemães devem perguntar-se a si mesmos: ainda sabem realmente o que as pessoas estão a pensar? Ou, será que há muito que se distanciaram da vontade dos eleitores? É perigoso fiar-se na bandeira político-partidária, ao invés de ouvir o que as pessoas estão a dizer. Caso contrário, aqueles que deixam de ser ouvidos voltar-se-ão para os radicais.
Na Suíça, a mensagem é clara e explícita. A escrever para a European Scientist, sob o título “Um Óptimo Flop Democrático para Urgência Climática”, Michel de Rougemont, engenheiro químico suíço, afirmou que,
O voto negativo dos cidadãos suíços é essencialmente indicativo de desconfiança: os suíços não gostam de medidas complexas e caras com baixas probabilidades de eficácia. E, também não gostam de medidas punitivas e de constrangimentos comportamentais. Mas, acima de tudo, não aceitam facilmente a emergência climática, continuamente propalada pela máquina de propaganda, e que a outra metade dos cidadãos credulamente adota. Quantas vezes é que a Humanidade já teria sido extinta, se todas as urgências catastróficas anunciadas se tivessem materializado?
De Rougemont apelou à Suíça para que revertesse a sua política de abandono sequencial da energia nuclear, escrevendo,
Uma vez que já não podemos contar com os vizinhos para compensar perdas de capacidade após o encerramento das centrais nucleares, é agora tempo de planear novas e melhores centrais.
A Lei do CO2 teria causado um aumento acentuado do custo de vida, que de si já é elevado no país. Todos teriam sido afetados por aumentos nos preços de combustível, por taxas, e por custos energéticos mais elevados. Os únicos cantões onde o “Sim” ganhou foram Basel-Stadt, Genebra, Neuchâtel, Vaud, e Zurique. Estes são os maiores centros urbanos, mas de modo algum constituem a maior parte da população, uma vez que o país é descentralizado. A população rural afirmou-se fortemente pelo “Não”, uma vez que também foram a referendo outras propostas polémicas, incluindo uma proposta para a proibição de pesticidas artificiais, que foi derrotada por uma maioria de 61%.
Houve grande apoio político-partidário ao “Não”. O Partido do Povo Suíço (SVP), o maior partido do país, esteve totalmente contra a nova lei. O FDP-Grupo dos Liberais, é um partido de dimensões substanciais, e esteve dividido, com uma facção significativa contra a nova lei. Ambos os lados se mobilizaram fortemente. Todas as associações industriais se mobilizaram contra a Lei do CO2. Isto inclui a associação de distribuidores de combustíveis, de gasolina e de diesel, o Clube Automóvel Nacional, e a Associação dos Aeródromos, que inclui tudo, de pequenos aeródromos aos aeroportos internacionais de Zurique e de Basel. A associação de proprietários domésticos, e as mais pequenas associações empresariais também se mobilizaram fortemente para granjear o apoio de muito das classes médias ao “Não”.
O partido SVP, que promoveu fortemente o voto pelo “Não”, argumentou que a proposta “Lei do CO2” não só custaria mais, como, e seja como for, a sua eficácia seria questionável. E, aparentemente, o SVP granjeou eleitores bem além da sua base normal de apoio.
Porém, ainda existe o perigo de que o lobby climático suíço consiga, através de referendo, introduzir uma cláusula de emissões zero na Constituição suíça. Uma tal cláusula forçará o governo a implementar políticas de redução do CO2, e, para além do mais, assim que esteja transposta para a Constituição, será difícil de remover, mesmo com um novo referendo.
Repercussões na Alemanha
O primeiro país a sentir as repercussões do voto suíço será a Alemanha, que tem eleições nacionais em Setembro, e onde o Partido Verde está a organizar uma captura de poder para meter a líder partidária, Annalena Baerbock (formada pela LSE, a Escola de Economia de Londres), no cargo de Chanceler. Em Maio, as sondagens eleitorais estavam a dar 30% do voto ao Partido Verde. Porém, e por alturas de 6 de Junho, o Dia do Partido do Partido Verde este ano, as intenções de voto pelos mesmos tinham colapsado para 20%.
Escrevendo a 16 de Junho, Sebastian Viehmann, Editor Chefe da FOCUS Online, um dos maiores semanários na Alemanha, avisava das repercussões suíças na eleição alemã,
Enquanto que o Tribunal Constitucional Federal subordina tudo ao clima, as pessoas na Suíça decidiram de modo diferente, e rejeitaram uma lei de CO2. E, também na Alemanha, e como demonstrado pela disputa à volta dos preços da gasolina, não se ganham necessariamente eleições com alvoroço climático.
Depois, Viehmann avisa que os políticos não deveriam referir-se tão prontamente a “nós” quando se trata das políticas climáticas agora a serem promovidas.
Não fomos “nós” (ou seja, a população) a assinar quaisquer acordos climáticos. Em nenhum lado nos foi dado um voto sobre se queremos ou não subordinar as nossas vidas, os nossos empregos, os nossos tempos de lazer, ou a economia, ao que o governo federal define como proteção climática, e ao que assina neste ou naquele acordo. Quando se pergunta a opinião das pessoas (veja-se o atual exemplo suíço), isso pode criar um boomerang político.
A questão essencial é se os Democratas Cristãos e os Sociais Democratas, que, em seu próprio detrimento, têm tentado fazer-se mais verdes que os Verdes, vão aprender com este episódio, e se vão mudar as suas estratégias, para começar a dar resposta às preocupações reais da população: em particular, a crise económica. Será que os partidos políticos darão resposta à necessidade por reorganização financeira: pela separação entre banca comercial solvente, de um lado, e, do outro, bailouts e especulação? Os partidos lidarão com a deterioração das infraestruturas energéticas, hídricas, de saúde, e de transportes, e, da mesma forma, com a deterioração da base agroindustrial da Alemanha? Adotarão um programa de recuperação económica centrado em reconstrução e expansão de infraestrutura? Isso ganhará eleições, por contraste com suicídio climático.
O Green Deal da União Europeia Colapsará?
O “Não” suíço é comparável aos votos populares dos 2000s sobre a desastrosa Constituição Europeia, onde, em cada país onde a mesma foi referendada, incluindo França, Holanda, e Irlanda, os eleitores disseram-lhe não; embora, na Irlanda, um segundo referendo tenha “corrigido” o “voto errado”.
A E&T magazine (Engineering and Technology), baseada no Reino Unido, avisou recentemente a União Europeia de que
opinião pública à solta é a bête noire dos policy-makers climáticos, uma vez que pode possibilitar ou inviabilizar iniciativas essenciais como o Green Deal da UE, que está repleto de linguagem como “transição justa”, e “empregos verdes”, e “ninguém deixado para trás”.
A solução da E&T é a de que a UE seja mais esperta na promoção da sua política. Para além do mais,
A lição essencial que a UE terá de aprender do caso suíço (não que tal lição precisasse de ser reaprendida), é a de que decisões políticas complexas não devem ser submetidas a voto popular. [itálico adicionado]
O pacote “Fit for 55” (“Prontos para 55”) da UE, que exige um corte de 55% em emissões de CO2 até 2030, já causou divisão entre os líderes da cimeira da UE em Maio, e será novamente trazido à discussão na cimeira de Julho. Os ministros do ambiente de Bulgária, República Checa, Hungria, Polónia, Roménia e Eslováquia assinaram uma carta, a ser apresentada na cimeira, e apelando a alvos “realistas”, e a tomada em consideração dos “reais custos sociais, ambientais e económicos” do abandono dos combustíveis fósseis.
Todos estes países têm substanciais reservas de carvão, tal como dependem de centrais energéticas a carvão, e não podem dar-se ao luxo de infestar as suas áreas rurais com moinhos de vento e painéis solares, e de gastar capitais necessários em importações de gás. A Polónia está na linha da frente da luta contra a insanidade da UE, dado o fato de que não menos de 65% da sua energia é derivada das suas enormes reservas de carvão.
Milhares de trabalhadores mineiros e energéticos da Polónia, de 16 organizações sindicais, incluindo a Solidariedade (Solidarność), protestaram, a 9 de Junho, em Varsóvia, em frente do edifício da Representação da Comissão Europeia. Ostentaram cartazes com slogans como “Tirem as Mãos de Turów”. Isto refere-se à central energética e à mina de carvão de lignite, que o Tribunal Europeu decidiu, tem de ser encerrada—uma decisão que o governo polaco se recusa a implementar, e que está a desafiar legalmente.
Na linha da frente da ação sindical esteve a Solidariedade, a NSZZ Solidarność. Se nos anos 80, a Solidariedade liderava a luta contra dominação Soviética, hoje está a combater a dominação das opressivas políticas da União Europeia, que ignoram as vidas das pessoas trabalhadoras. O Green Deal está a ser comparado às infames políticas de terapia de choque que foram implementadas após a queda do comunismo, e pelas quais dezenas de milhares perderam os empregos de um dia para o outro. A política da “saída do carvão” está a repetir essas políticas brutais.
Jarosław Grzesik, chefe do Secretariado Nacional das Minas e da Energia do sindicato NSZZ Solidarność explicou à estação de rádio polaca TOK-FM, que a política da Comissão Europeia para abandono sequencial do carvão ameaça nada menos que 105,000 empregos na Polónia e noutros estados-membro da UE no Leste europeu, onde até 80% da eletricidade é baseada em carvão.
Manifestações similares estão a tomar lugar na Roménia, o país mais pobre da UE, onde a União Europeia está a levar artificialmente à falência companhias energéticas no setor do carvão, pelo forçá-las a comprar certificados de emissões de carbono. Isto está a acontecer sob o sistema de “cap and trade”, que está no centro do Green Deal. Apenas os especuladores beneficiam. Os ditados da UE impõem despesas proibitivas a companhias energéticas já afetadas por grandes dificuldades financeiras. E, outros tipos de companhias estão a perder subsídios estatais, agora considerados ilegais sob as novas regulações da UE. O carvão é a fonte de 20-30% da energia romena, e emprega dezenas de milhares de cidadãos romenos.
Só passou uma semana desde o voto suíço, e as repercussões prometem continuar a fazer-se sentir.
É suposto que a cimeira de Julho dos líderes da União Europeia reveja, e possivelmente aprove, nova legislação europeia para a implementação da “Fit for 55”. A legislação está a ser esboçada pela própria Comissão Europeia de uma forma totalmente utopiana, pela simples postulação de que há que cortar 55% em emissões de CO2, até 2030, sem sequer considerar um estudo de impactos económicos. A legislação europeia promete ser pior que a Lei do CO2 que foi rejeitada pelos suíços. Aumentará os custos para famílias individuais como para países inteiros, em especial na Europa central e de leste, onde o carvão é a principal fonte de energia, e onde os governos não têm os recursos para financiar as alegadas renováveis, que são demasiado dispendiosas. O próprio Viktor Orbán, Primeiro Ministro da Hungria, anunciou em Maio que não apoiará uma tal política, os custos da qual serão suportados pela população.
Com o voto suíço em pano de fundo, a cimeira da UE em Julho pode tornar-se num ponto de corte para a insanidade do Green Deal.
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Tradução: Rui Miguel Garrido
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