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O seguinte é uma tradução de material originalmente publicado na edição de 4 de Junho de 2021 da Executive Intelligence Review.

Uma Política de Décadas

El Salvador Marcado para Guerra de Depopulação, pelos Maltusianos

Numa entrevista de 20 de Fevereiro de 1981, à qual a Executive Intelligence Review (EIR) deu bastante destaque na altura, Thomas Ferguson, então oficial responsável pela América Latina para o Gabinete de Assuntos Populacionais (OPA), do Departamento de Estado dos EUA, discutiu o caso de El Salvador, fria e calmamente advogando políticas de depopulação em massa, por quaisquer meios necessários. À altura, El Salvador já estava a ser desfeito por uma guerra civil mas, argumentou Ferguson, para “dar conta do recado, em matérias de população”, havia que matar mais mulheres em idade reprodutiva; tal como era necessária escassez de alimentos, e a deslocalização de populações. Seguem-se extratos dessa entrevista, publicada pela edição de 10 de Março de 1981 da EIR:

“Todos os lugares problemáticos no Terceiro Mundo são, na verdade, um resultado de política populacional falhada… El Salvador é um exemplo do modo como a nossa incapacidade para reduzir população através de programas populacionais eficazes veio a criar a base para uma crise de segurança nacional. O governo de El Salvador não usou eficazmente os nossos programas para reduzir a sua própria população. Agora, levam com uma guerra civil em cima por causa disso. Só por si, isso talvez não faça nada à população, mas haverá deslocalizações, talvez até falta de comida. Ainda têm demasiadas pessoas lá.

“Existe um único tema a subjazer a todo o nosso trabalho—temos de reduzir os níveis populacionais. Ou os governos fazem isso à nossa maneira, com métodos simpáticos e limpos, ou apanham com o tipo de caos que temos agora em El Salvador, ou no Irão, ou em Beirute. A população é um problema político. Assim que a população sai de controlo, é preciso governo autoritário, até fascismo, para a reduzir.

“Não é por motivos humanitários que os profissionais estão interessados em reduzir população. Motivos humanitários é só algo que soa bem. Nós olhamos para constrangimentos em recursos e ambiente, olhamos para as nossas necessidades estratégicas, e dizemos que este país tem de reduzir a sua população, caso contrário vamos ter problemas. Portanto, são tomados passos.

“O nosso programa em El Salvador não funcionou. Não havia infraestrutura de suporte. Havia simplesmente demasiadas malditas pessoas. Quando se quer controlar politicamente um país, é preciso manter a população reduzida. Demasiadas pessoas proliferam comunismo e agitação social… Não há espaço para essas pessoas em El Salvador—ponto final. Não há espaço.


O problema de El Salvador não é reforma de terras, industrialização, ou sequer os russos. É que está sobrepopulado. Aquilo que veremos em El Salvador será uma ditadura militar após a outra, até que a população tenha sido reduzida a metade.”

Para reduzir realmente a população, depressa, é preciso envolver todos os machos no conflito, e matar números significativos de mulheres em idade reprodutiva.”


“Olhe para o Vietname. Estudámos a coisa. A área também estava sobrepopulada e era um problema. Acreditámos que a guerra iria reduzir as taxas e estávamos enganados. Para reduzir realmente a população, depressa, é preciso envolver todos os machos no conflito, e matar números significativos de mulheres em idade reprodutiva. Está a ver, enquanto houver um número elevado de mulheres férteis, vai-se ter um problema. Um macho pode emprenhar um número significativo de fêmeas, em especial nesses países, onde a coesão familiar é fraca.

“Em El Salvador, está-se a matar um número reduzido de machos, e menos mulheres que o que é preciso, para fazer o serviço com a população. Se a guerra durasse uns 30 ou 40 anos, então aí sim, dava para alcançar alguma coisa. Infelizmente, não temos muitos casos desse tipo para estudar. Seria diferente porque haveria violência política numa base contínua.

“A forma mais rápida de reduzir a população é através de fome, como em África, ou através de doença, como a Peste Negra. O que pode vir a acontecer em El Salvador, é a guerra complicar a distribuição de comida. A população tornar-se-ia enfraquecida, haveria doença e fome, como o que aconteceu no Bangladesh ou no Biafra. Aí sim, cria-se uma tendência para declínio rápido de taxas populacionais. Isto pode vir a acontecer em El Salvador. Quando isso começa a acontecer, tem-se caos político durante um tempo. Portanto, é preciso ter um programa político para lidar com isso. Não consigo propriamente estimar quantas pessoas morreriam desta forma, indiretamente, mas talvez fossem muitas, dependendo do que aconteça. As pessoas procriam como animais.

“Durante muito tempo, as pessoas aqui foram muito tímidas. Ouviam os argumentos dos líderes de Terceiro Mundo, que diziam que o melhor contracetivo era desenvolvimento económico. Portanto, começámos a promover assistência para desenvolvimento. Olhe-se para o que conseguimos com isso. Melhorámos sistemas hídricos e de sanitação, reduzimos doença, e ajudámos a criar uma bomba-relógio populacional. Reduzimos as taxas de mortalidade, e não fizemos nada sobre reduzir as taxas de natalidade. Na maior parte dos países, isto torna desenvolvimento económico impossível. Agora, estamos a reverter essa política. Estamos a dizer, com “Global 2000” [Relatório Global 2000 ao Presidente, comissionado pelo Presidente Jimmy Carter e publicado em 1980 na forma de livro para circulação em massa; que apelava à redução da população mundial em dois biliões de pessoas—N. do Ed.] e, na política do dia-a-dia, que temos de reduzir as taxas populacionais. A ideia é a de meter números populacionais sob controlo, como questão primária—reduzir a população para que possa haver desenvolvimento.

“A maior parte da gente do Reagan, incluindo [o Secretário de Estado Alexander] Haig partilham deste ponto de vista. Quando vão a um país, dizem, ‘Onde está o vosso plano de desenvolvimento? Atirem-no pela janela fora! Comecem por olhar para a vossa população, e descubram o que tem de ser feito para a reduzir. Se não gostarem disso, se não quiserem fazer isso através de planeamento, então vão ter um El Salvador, ou um Irão, ou, pior, um Cambodja.’ É isso que lhes dizemos.

“Haig é um iluminado nestas matérias. Temos muitos apoiantes aqui no Departamento de Estado e no resto da Administração. Cap Weinberger [na época secretário de Defesa] é um defensor de longa data para doutrina populacional.

A brutalidade monstruosa da perspetiva maltusiana de Ferguson é chocante, mas o fato é que Ferguson não está sozinho. Uma semana depois desta entrevista com Ferguson, surge William Paddock. Paddock é um porta-voz essencial para a Crescimento Populacional Zero [i.e. Zero Population Growth, ou ZPG], e foi denunciado por Lyndon LaRouche em plena televisão nacional, em 1976, pela sua advocacia de genocídio de estilo Nazi contra o México. Uma semana após Ferguson ser entrevistado pela EIR, Paddock veio argumentar, num fórum público, no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos [Center for Strategic and International Studies, ou CSIS], de Washington D.C., que, de forma a garantir suficiente redução populacional em El Salvador, os EUA têm de estar preparados para fomentar conflito interminável nessa nação.

A dica de que Paddock iria falar no CSIS foi dada à EIR por um jornalista que tinha entrevistado Paddock enquanto o mesmo preparava a sua apresentação. Nessa entrevista, disponibilizada à EIR, Paddock declarou que o futuro de El Salvador era um de “caos total, de anarquia de um tipo ou outro. Continuar com governo militar, talvez de direita talvez de esquerda, mas o importante é que seja militar.” Porquê? Porque o país tinha demasiadas pessoas, em especial pessoas jovens. Paddock citou o “teorema sombrio” de Thomas Malthus de que “o único contrabalanço a crescimento populacional é fome e miséria,” para justificar a sua oposição à disponibilização de melhorias tecnológicas e de assistência alimentar a países em vias de desenvolvimento, uma vez que essas coisas propiciam crescimento populacional, o que por sua vez só leva a “fome e miséria”.

A apresentação de Paddock no CSIS foi reportada na coluna “Washington em foco” da edição de 17 de Março de 1981 da EIR:

Na manhã de 27 de Fevereiro, o centro [CSIS] deu o palco ao Prof. William Paddock. Geralmente representado como especialista populacional, Paddock falou de, entre outras coisas, El Salvador. Não obstante Paddock apresentar o aspeto exterior de um agricultor do Midwest, a sua mensagem tem mais a ver com Pol Pot. Paddock disse à audiência que:

“O problema de El Salvador não é reforma de terras, industrialização, ou sequer os russos. É que está sobrepopulado. Aquilo que veremos em El Salvador será uma ditadura militar após a outra, até que a população tenha sido reduzida a metade.”

“Tecnologia não é a solução, é o problema: mais tecnologia significa mais miséria”.

Quando desafiado para apresentar uma solução, por pessoas ligadas à AFL-CIO, que estavam presentes na apresentação, e que estão envolvidas na operação da união sindical para reforma de terras em El Salvador, Paddock respondeu que:

“Não há nada a fazer. A terra determina qual é o uso que se lhe pode dar, e nunca houve uma reforma de terras com sucesso na História humana”.

Quando membros da audiência falaram de exemplos de países em vias de desenvolvimento, como Taiwan e Coreia do Sul, cujas populações cresceram com industrialização e, daí em diante, mantiveram-se relativamente estáveis, Paddock retorquiu:

“Oh, essa não é a minha área. Sou um especialista em agronomia tropical”.

Depois, adicionou:

“Para aqueles que estão preocupados com a situação política [em El Salvador], eu sugiro que a melhor coisa seria apoiar os militares e, ao mesmo tempo, começar de imediato a trabalhar com a oposição; e, depois, começar a trabalhar com a oposição da oposição”.

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Tradução: Rui Miguel Garrido

 

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