Esta é uma tradução do artigo original de Timothy Rush, publicado na edição de 23 de Outubro de 2020 da Executive Intelligence Review.
A Verdadeira História de Colombo:
O Projeto Apolo do Renascimento
Timothy Rush
O seguinte texto é uma adaptação, pelo autor, da sua apresentação de 10 de Outubro de 2020, na Reunião Aberta de Manhattan, um evento semanal organizado pelo Comité de Ação Política LaRouche (LaRouche PAC). Em 1992, o autor contribuiu para o simpósio do Instituto Schiller em comemoração do 500º aniversário da redescoberta da América, e dos avanços tecnológicos que tornaram possível essa redescoberta.
O vídeo da sua apresentação de 10 de Outubro está disponível aqui e, o vídeo da reunião completa de três horas, aqui.
Quero dar alguma substância à profundidade da colaboração, das conexões extraordinárias, entre o Renascimento florentino e os países ibéricos: especialmente Portugal, onde Colombo foi formado. Esta colaboração é uma das jóias escondidas da História, que as pessoas devem hoje reviver. Lança as ideias centrais do Renascimento florentino, mas também abrange círculos mais amplos; por exemplo, a criação do conceito de Estado-nação, dedicado à ideia de bem-estar geral (como na formulação do Cardeal Nicolau de Cusa, quando disse que tem de se ter uma forma de governo que aja com o “consentimento dos governados”). Estes princípios fundamentais interconectam com a ciência que esteve envolvida na construção do Domo de Florença, de Brunelleschi, e com a ciência da astronomia, representada por Paolo dal Pozzo Toscanelli, que foi o maior astrónomo e matemático do seu século. Um círculo muito próximo de pessoas.
Como seria possível comunicar e partilhar estas coisas? Como é que se tornam universalizadas? O que aqui vos quero transmitir, em apenas alguns minutos, é que o Renascimento florentino deu origem aos meios pelos quais levar essas grandes criações e invenções, e essa grande reconstrução da imagem do Homem, a todo o mundo.
O modo como isto realmente aconteceu implicou todos os tipos de ajustes e começos (e, no final, terei algumas palavras a acrescentar sobre isso), mas a forja desse instrumento foi um programa sistemático de três gerações: que, por um lado, identificamos com Henrique, o Navegador e, ao mesmo tempo, com todo este núcleo do Renascimento florentino. Este é o Projeto Apolo da quase totalidade do século XV. E é preciso reconhecer que foi tornado possível através de enormes desenvolvimentos na ciência, na arte de governar, na conceção da Humanidade.
Lyndon LaRouche capta lindamente este princípio num artigo de 14 de Outubro de 1996 intitulado, "Porque Temos de Colonizar Marte" (republicado na edição de 21 de Agosto de 2020 da Executive Intelligence Review):
Qual o princípio económico definidor de um programa de exploração espacial (e, de impulso científico) que possa servir de fator essencial para a recuperação bem-sucedida, a curto prazo, da depressão económica global hoje a aprofundar-se? Chamemos-lhe de “O Princípio de Ciência Económica Cristóvão Colombo”. [ênfase no original]
Primeiras Viagens
O Infante D. Henrique, o Navegador, terceiro filho do Rei D. João I de Portugal, começou a viajar (não pessoalmente, mas a recrutar tripulações e a patrocinar viagens) por volta de 1416. Há que compreender que, embora à época houvesse esforços para navegar o alto mar, o facto é que as capacidades de navegação não incluíam a profundidade logística para que tais viagens fossem sustidas ou bem-sucedidas. O mais perto que se chegou foi expresso na notável frota do almirante chinês Zheng He, no início dos 1400s. Porém, a frota de He não se aventurou muito para além das costas, e um reflexo cultural insular na China abortou explorações posteriores. Na Europa, faziam-se apenas viagens marítimas pelos litorais: tinham-se galés. E, tinham-se embarcações comerciais de fundo largo, que eram impossíveis de manobrar sob condições climáticas adversas ou ventos adversos. O facto é que não se tinham os meios para viajar por alto mar, longe das costas.
Henrique envia uma missão por ano, começando pela costa atlântica de África. E, junta esforços à volta da ilha da Madeira, que recoloniza. Os seus capitães vão à descoberta e, cerca de 10 anos depois, chegam aos Açores, que estão a 850 milhas do continente, no meio do Atlântico—não é um salto pequeno. E, vinham a desenvolver muitos esforços para tentar contornar a área do noroeste de África onde o Deserto do Sahara alcança o oceano; é um trecho muito inóspito, de 1.200 a 1.500 milhas. Durante uns 15 anos, mal fizeram avanços por aí além, mas a intenção era a de dominar a navegação de alto mar.
Para Florença
Onde isto vem realmente a tomar toda a sua dimensão é com o irmão de Henrique, Pedro. O irmão mais velho, Duarte, está a ser preparado para suceder ao pai como rei, o que faz em 1432. Pedro faz uma viagem pela Europa de 1425 a 1428, e o ponto alto é quando vai a Florença em Abril-Maio de 1428. Durante estes dois meses em Florença, Pedro mantém contatos ininterruptos com um círculo de notáveis florentinos, chefiados por Paolo dal Pozzo Toscanelli, e por outro líder do Renascimento florentino, Ambrogio Traversari.
Traversari é, a par de Cusa, o pai do grande Concílio de Florença (1438-1441). Traversari é o mais renomado estudioso helénico da época, e é general da Ordem dos Camaldulenses, uma subordem dos Beneditinos. O grupo de estudo de Traversari, que se reúne nos quartos do mesmo na casa religiosa de Santa Maria degli Angeli, interage com a família Médici, com Filippo Brunelleschi, arquiteto da catedral do Domo de Florença, e assim sucessivamente. O grupo acolhe Pedro durante estes dois meses; têm lugar debates profundos.
O dinheiro para isto provém de um fundo especial criado pelo pai de Henrique, o Rei João I, para fomentar relações entre Florença e Portugal. A figura essencial que faz os arranjos é o Abade Gomes Eanes, que administra o fundo. Eanes é o número dois para Ambrogio Traversari na Ordem dos Camaldulenses, para a criação do Conselho de Florença. Transmitia todo o material erudito do Conselho para Portugal e, quando Traversari morre, no ano da assinatura do pacto que une as Igrejas Oriental e Ocidental em 1439 (a assinatura de Eanes junta-se à de Traversari no Decreto da União), quem substitui Traversari como chefe da Ordem dos Camaldulenses é precisamente o Abade Gomes Eanes de Portugal.
Quando Nicolau de Cusa viaja para Constantinopla em 1437 para recrutar a delegação ortodoxa oriental para o Conselho de Florença, acompanha-o Antão Martins de Portugal. Mais à frente veremos a significância deste ponto.
Numa visita a Florença há três anos, tive a grande sorte de ter acesso à Biblioteca Laurentiana, que foi fundada por Lorenzo, o Magnífico, e onde estão arquivados todos os documentos e correspondências relevantes entre as figuras portuguesas e florentinas do Renascimento. Na Figura 1, vê-se a página de rosto de um dos volumes do manuscrito. Pode-se ler “Tom: I. Epistolarum” —Volume I das Cartas — do Rei, da Rainha, dos oficiais, bispos, barões e vários outros da Lusitânia—isto é, Portugal—para, e do, Abade Gomes, da Abadia de Santa Maria, Florença.
Então, e quando Pedro volta a Portugal depois disto, e convoca o abade Gomes Eanes para voltar também, um pouco após 1440, há uma grande expansão do projeto de exploração, o Empreendimento Atlântico. Onde antes havia uma viagem por ano, agora há três ou quatro viagens por ano. Por volta de 1434, os navegadores de Henrique contornam o que é chamado de Cabo Bojador, que era um pequeno promontório na costa da Mauritânia. É insignificante nos mapas hoje, mas é onde os ventos do Deserto do Sahara empurram tanta areia para o Oceano Atlântico que, na altura, se pensa que era o fim do mundo. E, psicologicamente, os marinheiros recusam-se simplesmente a ir além disso.
Três Avanços Fundamentais
Contornam finalmente o Bojador, passam a costa desértica; chegam às terras verdejantes do Rio Senegal e, em seguida, ao golfo do Benim.
Concretizam três avanços fundamentais para a expansão das suas explorações, e estes avanços são, como se verá, cruciais para Colombo.
Primeiro, desenvolvem a caravela (ver Figura 2). Antes disso, como mencionei, havia galés, e uma espécie de navio mercante achatado. A caravela é esguia (tem uma proporção largura-comprimento de 1:3 ou 1:4, em vez de 1:2), tem velas latinas que estão em ângulo e, portanto, podem ser manobradas para navegar mais perto do vento quando é preciso variar o rumo. Isto é uma invenção fundamental, que foi indispensável para a navegação em alto mar naquela época.
O segundo grande avanço que Henrique, o Navegador e o seu povo criam, é o que podemos chamar de “volta pelo largo”. A questão é que os ventos e as correntes predominantes, que são o espelho um do outro, circulam no sentido horário no Hemisfério Norte (no lado esquerdo do mapa vêem-se os Alísios de Nordeste), e no sentido anti-horário no Hemisfério Sul (ver Figura 3). É o chamado Efeito de Coriolis, para as correntes como para os ventos. Significa que se pode navegar de Portugal e descer ao longo da costa africana até chegar ao Senegal, ou ao que hoje é a Serra Leoa, e ter os ventos a soprar no mesmo sentido, vai-se com muita eficiência. Porém, voltar é um inferno. Pode ser 20 dias para ir e 3 meses para voltar.
Os ajustes e variações de rumo, e assim sucessivamente, são muito difíceis. Os Portugueses começam o que chamam de “volta pelo largo” onde, na viagem de volta, vão até aos Açores (que fica a 850 milhas a oeste de Portugal continental), e apanham boleia destes ventos e correntes de sentido horário, de volta ao continente. Ainda que seja o dobro da distância, é muito menos tempo, e há um princípio de economia de esforços embutido nisto, o que é de facto uma grande descoberta.
Mais tarde, isto é reproduzido a uma escala ainda maior. À medida que os Portugueses chegam muito mais a sul ao longo da costa africana, navegam -- e é isso que Vasco da Gama faz em 1498, quando percorre toda a distância à volta de África até à India: navega de Portugal (ver Figura 4 para as rotas), desce ao longo de África e então atravessa o Atlântico com os ventos no sentido anti-horário até basicamente à costa do Brasil. Em seguida, apanha o fluxo em sentido anti-horário dos Alísios de Sudeste ao longo de todo o Atlântico Sul, e chega ao Cabo da Boa Esperança.
Esta é uma viagem em mar aberto, quase três vezes mais demorada que a de Colombo, e duas vezes mais longa na distância; no entanto, leva Vasco da Gama ao Cabo da Boa Esperança muito mais depressa que se ele tivesse tentado descer ao longo da costa africana. No regresso, Vasco da Gama segue a inversa volta pelo largo atlântico, para os Açores, e depois para leste para Portugal continental.
Portanto, estas são as longas voltas pelo largo oceânico, para tirar proveito das correntes e dos ventos. E pode-se imaginar a quantidade de investigação e de trabalho que Henrique teve de reunir, na sua sede num promontório atlântico denominado Sagres, para conseguir integrar tudo isto.
Navegação
O terceiro elemento da expansão portuguesa do Atlântico são os avanços na navegação celestial, envolvendo o quadrante, o astrolábio, as formas pelas quais fazer a leitura dos céus. A questão não é apenas a de determinar latitudes pela medição da Estrela Polar no Hemisfério Norte. À medida que os Portugueses vão descendo a costa de África, começam a perder a Estrela Polar, e pelo Equador, já não têm ponto de referência. Os céus do Sul não têm nenhuma Estrela Polar. Os Portugueses têm de começar a determinar latitudes pelo Sol, e completam um extraordinário compêndio (coligindo todo o conhecimento disponível sobre a altitude do Sol em diferentes épocas do ano, em diferentes latitudes), numa obra de 1480 chamada Regimento do Astrolabio e do Quadrante, o Manual do Astrolábio. Isto estabelece o standard para 400 anos de guias de navegação.
A descoberta aqui envolvida é ilustrada em dois medalhões embutidos na base do Campanile di Giotto, que faz parte do complexo do Domo de Florença. Na verdade, os medalhões foram criados pelos irmãos Pisano nos 1330s. São uma bela evocação do génio do Renascimento florentino; embora esse florescimento tenha ocorrido 100 anos depois, já lá estava, em forma embrionária.
Os medalhões estão colocados quase no nível dos olhos e, ao longo dos 26 relevos hexagonais, ilustram todas as esferas de aplicação dos poderes criativos do Homem à economia, às artes, às ciências. Isto diz algo sobre a ideia de Homem e a imagem de Deus que o Renascimento florentino representa. A Figura 5 mostra o painel que ilustra a Navegação; o homem atrás está a usar uma bússola e os outros dois estão a remar. A Figura 6 ilustra a Astronomia, e o homem está a usar um quadrante; está a fazer uma observação das estrelas.
Veja-se o que estava a acontecer nos tribunais, nas várias maneiras pelas quais a astrologia, bem como a astronomia, eram praticadas; onde se precisavam de pessoas que conseguissem marcar as posições das estrelas, e todos os tipos de previsões de ocultações, e assim sucessivamente, as posições dos planetas. Isto era feito nas cortes, e depois havia os marinheiros, que usavam cartas e bússolas muito rudimentares. Os dois mundos não se intersectavam.
O que Henrique faz, é juntar tudo, para que marinheiros comuns e grandes capitães como Colombo levem os quadrantes e um astrolábio redesenhado para o mar, e possam obter uma navegação muito, muito melhor do que antes. E, quando se pensa em Brunelleschi a formar os pedreiros do Domo de Florença em técnicas que nunca antes tinham existido (formar pedreiros comuns para que se tornem parte do conjunto de inovações embutido no Domo de Florença), bem, isso é o equivalente à instrução dos navegadores portugueses nas inovações em navegação dos mares.
‘Provar a Devoção a Deus Pelo Tornar os Mares Navegáveis’
Pegue-se agora noutro momento essencial, 1455: Nicolau V, que é o primeiro de três grandes Papas da Renascença daquela época, muito íntimo de Cusa e de Toscanelli (que são ainda mais próximos de um Papa posterior, Eneias Silvius Piccolomini, Pio II). Nicolau emite uma bula papal a afirmar que o mundo cristão está a olhar para os Portugueses e, em especial, para Henrique o Navegador. Apelida Henrique de “meu querido filho, apóstolo e soldado de Cristo”. Nicolau fala de Henrique (e aqui quero citar particularmente), explica que quer que louvar de Henrique e dos seus “esforços para provar devoção a Deus pelo tornar os mares navegáveis”. Isto acontece dois anos depois do evento cataclísmico daquele período, a queda de Constantinopla para os Turcos Otomanos em 1453, com conivência veneziana.
Portanto, há os Papas do Renascimento e as figuras que saem do Renascimento em Florença, e todos estes dizem diretamente a Portugal, estamos a delegar-vos que levem a cabo ações de flanqueamento para levar as nossas ideias ao mundo, agora que o Mediterrâneo oriental é trancado e estamos presos.
E, ao longo dos nove anos seguintes, Cusa, Toscanelli e um cónego e médico português, chamado Fernão Martins, são amigos íntimos. Fernão Martins é primo do Antão Martins que acompanha Cusa a Constantinopla em 1437. Durante estes anos, Cusa torna-se Vigário Geral da Igreja Católica, braço direito do Papa Pio II em Roma. São colaboradores tão íntimos, em filosofia, ciência, e nestes projetos de exploração, que Cusa inscreve Fernão Martins num dos seus maiores diálogos tardios, Sobre o Não-Outro. Toscanelli e Martins são os executores do testamento de Cusa quando Cusa morre em 1464. E, há indícios tantalizantes de que, ainda na década de 1450, Toscanelli já estava a escrever a amigos sobre a ideia de ir tanto para oeste como para leste, para tentar lidar com a crise pós-1453, após a Queda de Constantinopla.
O próximo momento crucial é 1474, e há um choque esmagador. Os Portugueses têm ido com sucesso ao longo da costa (olhe-se novamente para aqueles mapas). Depois de contornarem o Senegal e a área ao redor do que é hoje o Gana, e em direção ao que é agora a Nigéria, a Baía do Benim, acham que lograram suceder; pensam que estão a ir diretamente para leste, e que estão prestes a circum-navegar a África, e a emergir no Oceano Indico. E eis que, de repente, a costa começa a seguir para sul, sul e sul; é preciso compreender que são 8,000 milhas para ir de Portugal até ao Cabo da Boa Esperança!
É precisamente nesse ano que Fernão Martins, o cónego de Lisboa (e, o íntimo de Toscanelli, e o íntimo de Cusa), regressado a Portugal, escreve a Toscanelli e diz, precisamos de o envolver, Toscanelli, na conceção da fase seguinte desta iniciativa. E é aí que Toscanelli envia o famoso mapa que é mais tarde dado a Colombo (ver Figura 7), e manda cartas de um lado para o outro para Martins, explorando a ideia de “navegar para Oeste para chegar ao Oriente”.
Colombo Entra em Cena
Colombo entra em cena em 1476. Colombo naufraga. É um marinheiro genovês, naufraga na costa de Portugal e, em 1476, dá consigo no meio de um inacreditável viveiro de expansão do Projeto Atlântico de colaboração Luso-Florentina. Viaja para a Guiné, a sul do Senegal, numa viagem portuguesa; viaja para norte nalgumas viagens portuguesas; casa-se com a filha de Bartolomeu Perestrello, o primeiro Governador-Geral da ilha da Madeira, quando Henrique ordena que a ilha seja recolonizada em 1420, na fase inicial da expansão de Henrique. E, obtém todo um arquivo de materiais, a partir dessa ligação.
Colombo é atirado para o meio desta fermentação, com os Portugueses a considerarem seriamente ir para oeste, ao mesmo tempo que continuam a navegar ao redor da África. Seja por iniciativa própria ou por ter sido escolhido para o efeito pelos Portugueses, Colombo vê o mapa de Toscanelli, e há indícios de que entra em correspondência direta com o mesmo Toscanelli. Que bênção para o futuro que Toscanelli, nascido em 1397, viva até 1482 (sobrevivendo a Henrique, o Navegador, a Cusa e ao Papa Pio II, em quase 20 anos), e seja capaz de moldar diretamente toda uma nova geração que, além de Colombo, inclui Amerigo Vespucci e Leonardo da Vinci.
Os Portugueses não sabem que caminho tomar. Durante os 1480s, chegam a licenciar cerca de oito pequenos esforços para fazer o tipo de coisa que Colombo mais tarde concretiza. Os Portugueses claramente não rejeitam essa opção. Porém, o que acontece é que, em 1488, Bartolomeu Dias, um dos grandes capitães portugueses, regressa a Lisboa com a notícia de que chegou ao Cabo da Boa Esperança. Dias torneou a África! E assim, os Portugueses têm uma forma certa de chegar às Índias pela circum-navegação de África. Portanto, e embora nunca descartem a opção de ir para oeste, decidem ficar com o que têm agora em mãos.
É neste ponto que Colombo entra em ação. Como os Portugueses não vão continuar a patrocinar as viagens para oeste a que a ousadia e a imaginação o impelem, o navegador vai para Espanha.
Porém, um dos segredos essenciais desta época (e aqui tenho que agradecer ao meu colega, Robert Ingraham, por escrever isso num belo artigo há quatro anos, chamado “A Agonia da Confrontação do Antigo e do Novo: O Imperativo do Novo Mundo”, na Executive Intelligence Review de 5 de Agosto de 2016) é que, em Sevilha, não é a Coroa Espanhola que arca com a maior parte do financiamento das viagens de Colombo (dá a aprovação política). Isso são, pelo contrário, as filiais dos bancos florentinos, especialmente o banco Médici em Sevilha e, em particular, Amerigo Vespucci, que era o gerente residente do banco Médici durante vários anos, antes e depois das viagens de Colombo. Foram estas partes que avançaram o dinheiro.
Portanto, há uma continuidade total do papel desses gigantes do Renascimento florentino (e, do patrocínio íntimo e direto que disponibilizam), com a brilhante missão de três gerações que os Portugueses adotam.
A Viagem de 1492
A viagem de Colombo faz uso de todos os três grandes avanços alcançados nos 75 anos anteriores. Dois dos três navios são caravelas. Colombo usa uma variante da volta longa pelo largo oceânico: desce a costa de África, passa as Ilhas Canárias e apanha os ventos a sul (aqui convém voltar a olhar para o mapa, Figura 3). Apanha os Alísios de Nordeste a sul, e vai com eles para as Caraíbas. Para a viagem de regresso, Colombo dispara para o norte (não se limita a refazer os seus passos), dispara para norte, e apanha os ventos e correntes correspondentes, que o levam de volta a Portugal através dos Açores nas latitudes mais altas. E, Colombo recorre ao astrolábio e ao quadrante, e faz algumas descobertas extraordinárias relativamente à diferença entre norte magnético e norte geográfico.
Com este precursor do Projeto Apolo em foco, em Fevereiro de 1992, o ano do 500º Aniversário da chegada de Colombo ao Novo Mundo, o ex-Vice-Diretor da NASA, Hans Mark, falou, numa reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), sobre o tema Henrique o Navegador e os primeiros dias da exploração:
O Príncipe Henrique de Portugal sempre ocupou uma posição especial para quem, como eu, está envolvido em exploração espacial há 20 anos. Henrique foi o instigador e o patrocinador das primeiras viagens oceânicas de longo curso por Europeus, e estas viagens resultaram na sustida e sistemática exploração do mundo. ...
Devo confessar que sempre senti que o fantasma do Príncipe Henrique estava por detrás de sucessivos administradores da NASA em Washington, enquanto eu trabalhava para eles. Tenho certeza de que Henrique guiou os seus pensamentos, consciente ou inconscientemente.
Aqueles de nós que realizaram o trabalho da NASA no campo eram como os capitães que navegaram a costa de África há 500 anos atrás e que, ao fazê-lo, abriram o panorama mais importante que a cultura europeia proporcionou ao mundo.
Muitos leitores estão provavelmente a perguntar-se, por conta de todo o odioso lançado sobre Colombo, como é que este Projeto Apolo do século XV se coaduna com as posteriores exploração humana e escravatura. Este é um tema amplo e só posso oferecer algumas linhas gerais de visão. É uma questão muito complicada, a de como se poderia realmente conseguir veículos nas Américas para expressar a intenção que as figuras do Renascimento florentino (como Cusa) tinham. A Igreja opôs-se de modo geral aos esforços para escravizar os Índios. Houve esforços notáveis, como os do Bispo Vasco de Quiroga em Michoacan, México, e o valente esforço de 70 anos de uma administração humanista portuguesa no Kongo, para transmitir o melhor dos conhecimentos agrícolas e artesanais europeus ao Reino do Kongo.
O facto de, por muitos anos, esses esforços terem sido exceções, e não a regra, ilumina uma verdade crucial: o problema não foram as descobertas, mas sim o oligarquismo—o oligarquismo que afligiu a Europa na forma de 160 anos de guerra religiosa (que veio paralisar a consolidação dos avanços do Renascimento), e que chegou até a facções que estavam a colonizar as Américas. Isso, e a ascensão de novos pilares do comércio, como o açúcar, que inclinou as disputas internas nas cortes da Espanha e Portugal em prol de interesses ligados à escravatura.
É no desembarque de Plymouth, e depois na Colónia da Baía de Massachusetts que é retomado o caminho que leva à eventual fundação de uma República representando as aspirações do Renascimento. Veja-se o extraordinário vídeo de 12 minutos que o LaRouche PAC produziu sobre o assunto, intitulado simplesmente “1620”. A partir daí é uma História tão rica que temos de a celebrar. Colombo é um ponto de entrada para a celebrar.
No artigo que mencionei, "Porque Temos de Colonizar Marte", LaRouche sumarizou as lições que temos hoje de aprender:
Levar ao limite a taxa de realização de descobertas científicas, e mobilizar os recursos materiais, educacionais e de saúde necessários para permitir que os modernos “Cristóvãos Colombos” tenham sucesso nas suas viagens de descoberta além de novas fronteiras.
Como nota final, um episódio pessoal que considero bastante irónico, dado o atual ataque ao legado do "projeto Apolo" de 75 anos que levou às descobertas e explorações de que se está aqui a falar. No final dos anos 60 e início dos 70, passei vários Verões como estudante de antropologia no sul do México, entre um grupo moderno de Índios Maia, os Zinacantecos. Em 20 de Julho de 1969, o dia da aterragem na Lua, o meu grupo de estudantes de antropologia (já infetado por desconfiança para com a ciência, e alienado de um senso de propósito nacional pela combinação da guerra no Vietnam e da crescente contracultura sexo, drogas, rock n'roll), bem, muitos de nós, inclusive eu, não prestámos atenção, e digo isto com vergonha. Mas vários Índios dessas aldeias nas terras altas de Chiapas viajaram até à cidade mais próxima, San Cristóbal de la Casas, e concentraram-se à frente da vitrina da única loja de televisões da cidade, que tinha a televisão sintonizada na aterragem na Lua, e estes Índios ficaram maravilhados com esta façanha da Humanidade.
Falo disto porque temos realmente de reconhecer o arco de erosão cultural nos Estados Unidos. Porém, temos agora um momento magnífico para trazer de volta uma perspetiva culturalmente otimista, com o propósito, pelo programa Artemis, de voltar à Lua e prosseguir para Marte, e a perspetiva de uma nova onda de avanços científicos fundamentais, liderados pelo desenvolvimento de fusão nuclear. O que espero ter conseguido apresentar aqui (esta questão de celebrar o projeto que Colombo representou) é um modelo geral da missão que temos agora diante de nós.
Colombo apresentou uma "prova de princípio"—a de que a missão conjunta da Florença de Toscanelli e do Portugal de Henrique, o Navegador, a de "mostrar devoção a Deus tornando os mares navegáveis", tinha sido bem-sucedida. Implícito estava que, daquela época em diante, o mundo inteiro podia tornar-se num campo de aplicação da ciência, e dos princípios de governo e da imagem do Homem avançados no Renascimento, e que os habitantes do mundo podiam emergir como uma só Humanidade.
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