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A transcrição original desta apresentação aparece na edição de 18 de Setembro de 2020 da Executive Intelligence Review.

Jason Ross

O Desenvolvimento de Plataformas Científicas e Tecnológicas Superiores: Chave para o Progresso Humano

Esta é a transcrição editada da apresentação de Jason Ross à conferência do Instituto Schiller em 5 de Setembro. Ross é co-autor do Relatório Especial do Instituto Schiller em 2017: Estender a Nova Rota da Seda à Ásia Ocidental e a África: Visão de um Renascimento Económico. Os subtítulos são do autor.

Schiller Institute
Jason Ross

Ao longo da sua carreira, Lyndon LaRouche foi o mais notório proponente político estadunidense de fusão nuclear, com base na noção de que a mesma é o próximo (e absolutamente essencial) passo no progresso humano.

Em meados dos 1970s, LaRouche fundou a Fusion Energy Foundation (FEF), dedicada a tornar a fusão nuclear numa realidade. A FEF publicava um periódico técnico, o International Journal of Fusion Energy, tal como uma revista, Fusion, e publicou um número de livros. Os seus membros envolveram-se no processo legislativo, e participaram em discussões com o presidente Ronald Reagan, sobre aquilo que Reagan viria a propor numa transmissão televisiva nacional, em 23 de Março de 1983, sob o nome de "Iniciativa Estratégica de Defesa": uma proposta para cooperar com a União Soviética no desenvolvimento de novas tecnologias de defesa (incluindo lasers para destruir armas nucleares) e, dessa forma, prevenir o cenário de extinção nuclear.

LaRouche acreditava que apenas a superação das limitações da ciência e da tecnologia do passado tornaria possível eliminar a pobreza, resolver o problema da escassez de recursos, e possibilitar à Humanidade levar a cabo a próxima geração de experimentações científicas, com vista à descoberta da próxima geração de princípios científicos. Este é um processo interminável de crescimento para a espécie humana, e é um que reflete os desenvolvimentos a que assistimos na biosfera—-com as crescentes complexidade e intensidade energética da vida—-como no universo como um todo, com a formação de complexas estruturas celestiais cujos mistérios apenas agora começamos a explorar.

Abordaremos três tópicos ao longo desta apresentação:

1. O valor económico do progresso científico,

2. A plataforma infraestrutural, industrial, política e cultural pela qual o progresso científico muda as nossas vidas, e

3. O modo como grandes visões para avanço científico e tecnológico nos levam a uma compreensão da universalidade da imortalidade potencial da mente humana individual.


O valor económico do progresso científico

A economia humana existe por conta daquilo que nos distingue em absoluto dos animais: a capacidade da mente humana individual para desenvolver uma hipótese, uma ideia, que incorpora algo que, não sendo percebido pelos sentidos, atua não obstante sobre o mundo percebido—-isto é, princípios físicos universais.

Essas descobertas são como instrumentos, mas não são físicas. Um macaco pode usar um pau para extrair uma refeição de térmitas de um montículo de terra, e uma lontra marinha pode usar pedras para partir as conchas de moluscos que vai comer; mas apenas os seres humanos recorrem a eletromagnetismo, navegação, geometria, poesia, fogo, matemática, e música.

Apenas a nossa encantadora espécie, partilhando a universalidade dos poderes da mente humana, conseguiu (ao contrário de qualquer animal) construir sistemas de irrigação para melhorar a produção de alimentos, tal como transformar outras espécies através de reprodução seletiva (e isso deu-nos cereais, frutas, vegetais e até animais). Também conseguiu libertar o poder do carvão para produzir movimento (com a máquina a vapor), libertando as pessoas de trabalho penoso e ineficiente, e tornando possível a produção de bens para as pessoas comuns. Conseguiu ainda criar redes de transporte para aproximar entre si as nossas sociedades; e até deixar este planeta para colocar um homem na Lua (Lua esta que os animais podem ver, mas que não entendem nem visitam—-a menos que lá levemos animais de estimação!)

As hipóteses científicas, por meio das quais reduzimos a imperfeição da nossa compreensão do mundo em redor, são a fonte última de prosperidade económica, os meios pelos quais melhoramos a produtividade do nosso trabalho, e as rampas de lançamento para o desenvolvimento de ainda melhores hipóteses.

Como é que estas descobertas são feitas? E qual o grau de certeza que podemos ter sobre o nosso conhecimento? Considere-se o problema da indução. Se eu vir algo a acontecer 100 vezes sem falhar, posso ter a certeza de que isso voltará a acontecer na 101ª vez? Imagine-se um perú que está a ser engordado para o Dia de Ação de Graças. A cada dia que passa é bem alimentado e bem tratado e, portanto, cada dia dá ao Sr. Perú mais provas de que a vida é boa... até à chegada do Dia de Ação de Graças! A experiência repetitiva não é a base do conhecimento.

A fuga do problema da indução é o conceito da experiência crucial, na qual alguém usa uma causa hipotetizada para criar um efeito que nunca aconteceu antes. Quantas vezes é preciso observar um motor elétrico a trabalhar para saber que existe uma relação entre eletricidade e magnetismo? Não são precisas 100 experiências para chegar à conclusão de que o teorema de Pitágoras é válido, se já se demonstrou geometricamente porque é que tem sempre de ser verdadeiro. Quantas bombas de hidrogénio é preciso detonar para validar os entendimentos básicos que a elas deram origem?

Como Einstein lembrou ao mundo há pouco mais de um século, o nosso conhecimento nunca é perfeito, mas é aperfeiçoável. O universo recompensa o nosso conhecimento (menos imperfeito hoje que o que costumava ser) através de poder aumentado para remodelar o mundo físico, de modo a melhorar o nosso nível de vida e a concretizar ainda mais descobertas. Ao contrário do que acontece com os animais, a capacidade de suporte das populações humanas não é limitada nem pré-determinada. O progresso permite à espécie humana aumentos contínuos em níveis populacionais e em densidade populacional potencial.

Isto leva-nos ao segundo tópico.

Plataformas e produtividade

Como é que uma descoberta se torna efetiva na sociedade? Como é que um pensamento se manifesta na melhoria das condições de vida?

LaRouche discutiu a relação entre descobertas, infraestrutura e produção no seu artigo de 2005, “Ciência, o Poder para Prosperar”:

Todas as noções válidas de qualquer princípio físico universal que até aqui foram descobertas, definem implicitamente um campo, um campo que é a noção funcional da extensão da eficácia desse princípio ao longo do universo em geral. É a ação expressa pelo impacto do potencial que é expresso por um campo, sobre o contexto em que ocorre a produção, que é o foco das nossas preocupações neste relatório como um todo.

 

Por exemplo, a aplicação do Princípio de Dirichlet a qualquer campo de ação, eleva o ponto de vista experimental de uma coleção de cálculos a um simples e único ato de pensamento conceptual, uma conceção que (e tome-se aqui como exemplo a noção Kepleriana de gravitação universal) subsume eficientemente, implicitamente, todos os cálculos detalhados relevantes. É impossível desenvolver qualquer insight competente sobre a forma como uma economia moderna funciona, fisicamente, exceto pelo emprego da maneira de olhar para um campo através da forma que é aplicada pelo tratamento de Riemman daquilo a que ele chama de Princípio de Dirichlet.

 

A compreensão deste ponto que estou aqui a desenvolver, permite-nos entender porque é que a deslocalização da produção de um produto (mesmo quando é empregue a mesma tecnologia de design e produção), de uma economia desenvolvida para uma economia menos desenvolvida, geralmente resultou, ao longo do último quarto de século, num colapso agregado do nível da taxa de geração de produtividade per capita no mundo como um todo! A deslocalização de produção, de uma nação com desenvolvimento infraestrutural avançado, para uma nação onde as pessoas são comparativamente pobres, e onde há um fraco desenvolvimento da infraestrutura geral, tende a produzir um colapso da economia física do planeta como um todo. O papel do campo representado pela infraestrutura económica básica foi ignorado, o que tende a levar a resultados económicos que são ultimamente fatais para todos os envolvidos.

 

Ao escolher um campo de aplicação que, por si, representa uma zona de menor potencial, a produtividade efetiva do trabalho, per capita e por quilómetro quadrado, é comparativamente reduzida.

Vamos usar a introdução da eletricidade nas áreas rurais dos Estados Unidos como um estudo de caso, para ver como a melhoria na plataforma infraestrutural transforma a sociedade e a produtividade.

A Administração de Eletrificação Rural (REA), criada em 1935 por uma Ordem Executiva de Franklin Roosevelt, e financiada através da Lei de Eletrificação Rural de 1936, foi criada numa altura em que a eletricidade estava a generalizar-se nas cidades estadunidenses, mas na qual quase 90% das quintas estadunidenses não tinham acesso à mesma. Os custos de extensão de cabos a essas quintas eram considerados proibitivos, com base no baixo uso de energia elétrica por domicílio que era então previsto pelas companhias elétricas. Com base na sua compreensão do passado, estas companhias achavam que não valia a pena gastar dinheiro para levar energia às quintas dos EUA.

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A CRIADEIRA ELÉTRICA—É possível criar toda uma ninhada sob uma criadeira moderna por apenas ½ de 1 quilowatt-hora por pintainho.
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A BOMBA ELÉTRICA—Coleta água sem resmungar, e consegue satisfazer todas as necessidades da quinta e do lar por cerca de 25 quilowatts-hora por mês.
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O REFRIGERADOR ELÉTRICO DE LEITE—O leite preserva a sua doçura num moderno refrigerador regulado de laticínios; 1 quilowatt-hora refrigerará 10 galões de leite por dia.

A REA avançou empréstimos a cooperativas agrícolas para que construíssem as suas próprias linhas de tensão, e até para que comprassem maquinaria e equipamento.

Os resultados foram espantosos.

A eletricidade não era simplesmente inserida numa geometria de resto inalterada, ou seja, usada apenas para alimentar os rádios, as máquinas de lavar e as lâmpadas dos moradores rurais. Em vez disso, foi usada de modo a transformar o potencial produtivo das quintas.

Por exemplo. A refrigeração veio reduzir as doenças causadas por intoxicações alimentares, e garantiu que mais produtos agrícolas pudessem ser consumidos, em vez de serem desperdiçados. A iluminação em galinheiros veio aumentar significativamente a produção de ovos, em particular nos meses frios e escuros do Inverno. As galinhas não foram alteradas, mas o seu ambiente—-o campo no qual viviam—-foi modificado. O bombeamento elétrico da água permitiu economizar dúzias de horas por família por ano, por comparação com o trabalho árduo de usar uma bomba de água manual.

O projeto foi um sucesso. Em 1951, tinha havido uma inversão na proporção: se antes 90% das quintas estadunidenses não tinham eletricidade, agora 90% estavam na rede.

Isto representou uma incrível transição na produtividade potencial, quando uma plataforma infraestrutural mais avançada existe para a suportar—-e este tipo de transição pode ser realizado novamente, de várias maneiras.

Considere-se o que a fusão nuclear significará para o mundo. Não se trata apenas de energia elétrica mais barata, ou de fazer o que já fazemos de forma mais fácil ou barata—-pense-se nas novas coisas que podemos fazer:

• Uma tocha de fusão pode vaporizar e dissociar resíduos, separando-os nos seus átomos constituintes. Isso sim é reciclagem!

• Hoje em dia, essencialmente toda a produção de metal novo (não-reciclado) a partir de minérios rochosos requer a extração de carvão, não apenas pelo seu conteúdo energético, mas também pela sua atividade química no carbono, extraindo-se o oxigénio. Este método antigo pode ser substituído pelas energias que a fusão pode trazer.

• As viagens espaciais deixarão de ser limitadas pela densidade energética dos combustíveis químicos, que não são suscetíveis de melhorias significativas além dos seus níveis atuais. Em vez de passar nove meses a viajar para Marte, podemos ir para lá em apenas algumas semanas, pelo deixar o motor ligado durante a viagem, em vez de apenas o usar no início e daí deixar o foguetão derivar até ao destino, que é o que agora fazemos. Mesmo com essa deriva, a maior parte da massa de um foguetão a viajar para a Lua é combustível. É enorme. Veja-se a Figura 1. Num certo sentido, o combustível químico mal tem a capacidade de nos levar a outros corpos celestes. Precisamos de algo melhor.

• A escassez de água está a tornar-se num problema crescente ao longo de todo o mundo, onde as reservas de água subterrânea estão a ser esgotadas mais depressa que o que são reabastecidas. Porém, há muita água nos oceanos. A fusão nuclear tornará económica a dessalinização em larga escala de água oceânica e de outras águas salobras, para uso agrícola; e, permitirá superar em muito os pequenos projetos que hoje existem, primariamente orientados para uso urbano.

• Processos de manufatura com uso intensivo de energia, usando amplas correntes elétricas ou lasers de alta potência, darão início a uma nova geração de técnicas de produção.

Em suma, a energia de fusão, como plataforma, possibilitará enormes melhorias nos poderes produtivos do trabalho. Temos de procurar um progresso que possa criar uma melhoria de 10 fatores, por oposição a pequenos ganhos marginais.

Figura 1
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NASA
O foguetão Saturn V (O peso do módulo de comando e serviço é designado CSM)

Aqui está Lyndon LaRouche, a escrever sobre este tópico em 2010, “O Que O Seu Contabilista Nunca Entendeu: A Economia Secreta”:

Temos então de reconhecer que o desenvolvimento de infraestrutura económica básica sempre foi uma criação necessária do que é requerido como um desenvolvimento “habitável” de um ambiente “sintético” (em vez de um ambiente presumivelmente "natural") para o melhoramento, ou até a possibilidade de vida e atividade humana, em qualquer fase na existência da espécie humana... O Homem como um criador à imagem e semelhança do grande Criador, é expresso na criação humana de "ambientes artificiais" (aos quais por vezes chamamos de "infraestrutura"), dos quais tanto o progresso quanto a mera existência continuada da sociedade civilizada dependem.

Além das novas plataformas que são tornadas possíveis por energia de fusão, a atual pandemia de COVID-19 deve-nos lembrar da importância de fazer avanços pioneiros em biologia.

Qual o efeito de viver numa sociedade comprometida com o progresso, na qual cada década traz consigo uma vida melhor que a anterior? Claramente, grande felicidade por poder viver mais libertamente, mas também uma conexão cultural ao encantador potencial da própria espécie humana—-o terceiro e último tópico desta palestra.

Imortalidade

Em 2004, Lyndon LaRouche escreveu que,

“A falha conspícua do que, de resto, são líderes talentosos entre nós, é que nos tornámos numa nação que, não obstante todas as suas atuais delongas sobre religião, não tem uma conceção verdadeira de uma forma real de imortalidade. Na cidadania de hoje, embebida como está em entretenimento e na mentalidade "O que é que eu posso ganhar com isto?", há poucos Jeanne d'Arcs, Abraham Lincolns ou Rev. Martin Luther Kings, que estejam preparados para colocar tudo o que em si é mortal, como tributo no altar do serviço ao bem futuro da Humanidade...”

Um grande líder, como os mencionados nesta citação, age no presente para mudar o futuro, isso é certo, mas também o passado. As contribuições daqueles que alcançaram a vitória na Revolução Americana sobre a principal fonte do mal do mundo—o Império Britânico—, assumiram um significado renovado através do sucesso de Abraham Lincoln na defesa da União, e nas conquistas do Dr. King, quando liderou o país para maior coerência com as ideias de igualdade e de procura da felicidade que motivaram a criação inicial da nação.

Nos dias de hoje, com política identitária a atingir proporções febris, e as pessoas a serem divididas entre si sob um interseccionalismo microscópico de hereditariedade, religião, background geográfico, orientação sexual, e aquilo que é chamado de raça, é mais importante do que nunca trazer às pessoas o desafio de agir com base na nossa universalidade.

As descobertas de um grande pensador permanecem válidas mesmo após a sua morte. Louis Pasteur está morto, mas as suas descobertas permanecem vivas e continuam a salvaguardar as nossas saúdes. Marie Curie já não existe, mas as suas descobertas continuam a animar a nossa procura pela verdade. Albert Einstein já faleceu, mas a sua reconceptualização épica de espaço, tempo, energia e matéria continua a oferecer novos enigmas para estimular as nossas imaginações a descobrir continuamente mais sobre o universo. O Dr. King foi assassinado, mas a sua devoção ao seu entendimento iluminado da condição humana continua a inspirar-nos.

Uma imortalidade funcional não tem nada a ver com morte e martírio. Estar disposto a morrer para defender (ou incendiar) o consultório de um dentista, um restaurante, ou uma loja de móveis, falha o alvo.

Será que vamos erradicar a pobreza ao longo de todo este planeta? Será que vamos desenvolver defesas contra cometas e coronavírus? Será que criaremos, para os nossos filhos e para os nossos netos, um futuro no qual eles terão a oportunidade de direcionar as suas mentes para novas questões científicas, e uma cultura que fomente essa procura—-assim criando um mundo meritório da dignidade do indivíduo humano, aqui na Terra e acima dela?

Ou, será que nos vamos acorrentar a fontes obsoletas de energia, como o vento, e dessa forma condenar-nos a nós próprios a destituição, por comparação com aquela abundância que poderia ser nossa?

A resposta está connosco.

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