Este artigo é uma tradução de material originalmente publicado na edição de 31 de Julho de 2020 of Executive Intelligence Review.
O Desenvolvimento das Nações é Cultivado por Infraestrutura, não por Dinheiro
Nota do Editor: Este discurso foi originalmente publicado na Executive Intelligence Review, Vol. 25, No. 17, 24 de Abril de 1998, pp. 26-35, e aparece na edição de 31 de Julho de 2020 da Executive Intelligence Review.
Lyndon LaRouche fez este discurso num seminário privado.
Nós, nos Estados Unidos, temos dois alegados jornais nacionais. E, é típico da nossa condição atual, que os jornais sejam muito maus, a par dos nossos alegados telejornais, na televisão. Um desses jornais sai cinco dias por semana e é o Wall Street Journal—e é um jornal, embora seja um jornal muito mau. É mau no sentido de ser malevolente, e isto é assim especialmente desde cerca de 1970, altura na qual um novo editor assumiu controlo (e estou aqui a falar do atual editor da publicação), uma pessoa que desempenhou um papel fundamental na criação da chamada fação Friedmanita ou monetarista nos Estados Unidos. Por outras palavras, o Wall Street Journal é uma voz do espaço exterior inexistente, e de um mundo que não continuará a existir por muito tempo, no caso de continuar a dar ouvidos ao Journal.
O segundo, que é mais popular, sai sete dias por semana e não é um jornal; limita-se a fingir ser um. Chama-se USA Today. Quem olhar para o mesmo dirá, “Isto não é um jornal. Isto é escrito para pessoas que são estúpidas demais para ler as bandas desenhadas”.
Porém, o que é relevante, e como se sabe, quando se olha para diferentes culturas, às vezes encontram-se certos indícios que dizem o que há de errado nessa cultura... E, olha-se para a televisão popular nacional. Olha-se para os entretenimentos nacionais, para aquilo em que as pessoas gastam dinheiro. Vai-se a livrarias típicas, e isto inclui livrarias universitárias, e olha-se para os temas que têm saída nas livrarias. Depois, olha-se para alguns dos principais jornais, e olha-se para outro entretenimento, já que isto diz mais sobre um povo e a sua condição que qualquer outra coisa. Isto porque, quando estão a trabalhar, as pessoas estão a fazer o que lhes é dito; porém, quando vão para o entretenimento, estão a fazer aquilo que dizem a si mesmas, e revelam o seu eu interior.
Agora, veja-se, esta é uma seção deste jornal, o USA Today. Esta seção é intitulada “Dinheiro”. Em tempos, havia jornais com seções chamadas "Negócios", "Economia" ou até mesmo, no Wall Street Journal, "Finança". Este “Dinheiro." "Dinheiro." "Dinheiro!", diz muito sobre aquilo que está errado, e sobre o porquê de as coisas mais estranhas acontecerem nos Estados Unidos: as pessoas estão a pensar em dinheiro.
Nem sempre fomos assim. Sempre tivemos pessoas gananciosas, mas não tínhamos pessoas que pensassem que o dinheiro era um deus em si mesmo—não muitas delas. Tendia a ser o caso nos Estados Unidos, mesmo no entretenimento, que, quando se apresentava um personagem ficcional que estava interessado apenas em dinheiro, então isso seria tipicamente (por exemplo, num filme) uma pessoa má—o homem que está a pensar apenas em dinheiro, que não tem qualquer outra moralidade. Dinheiro. E isso, infelizmente, tornou-se num fator muito importante na população dos Estados Unidos, em especial nos círculos mais ricos (e, mais influentes, por virtude da riqueza).
Em tempos passados, antes de meados dos 1960s, por exemplo, havia preocupações diferentes entre as pessoas, como seja infraestrutura. Por exemplo, considere-se a questão da educação. Educação, ciência e infraestrutura são as partes mais importantes de uma economia. A educação de qualidade cria nos jovens o potencial para a criatividade, e cria capacidades e competências no adulto. A saúde, é claro, é indispensável; uma família que tem uma alta taxa de mortalidade, de mortalidade precoce, não pode providenciar os cuidados necessários aos filhos. E, quando se tem uma sociedade na qual há uma elevada taxa de mortalidade, não se pode desenvolver as crianças tão bem, economicamente, como numa sociedade com uma maior longevidade.
Sem infraestrutura, nenhuma economia pode funcionar. Olhe-se para o Sudeste Asiático, por exemplo, e compare-se a China, por exemplo, com os Estados Unidos e com as principais economias de máquinas-ferramentas da Europa, digamos, a Alemanha como exemplo. O que falta às pessoas no Sudeste Asiático é infraestrutura.
Tem-se a quarta nação mais populosa do mundo, a Indonésia, que tem uma inclinação para a alta tecnologia, como tipificado por um homem que hoje é candidato a vice-presidente, B.J. Habibie. Habibie, educado em ciência aeronáutica na Universidade de Aachen—uma educação muito boa—é o principal magnata industrial da Indonésia, e criou uma indústria aeronáutica de uma ponta à outra. Porém, a Indonésia não funciona, porque tem uma infraestrutura muito insuficiente, e porque a liderança nacional ainda não entendeu como abordar a questão da infraestrutura.
A Indonésia é uma nação insular, uma nação de muitas ilhas, o que significa que há muita água. E, a sua massa terrestre tem uma grande área costeira. Portanto, tem um sistema de transporte que é natural e pré-existente, um sistema de água. A prioridade da Indonésia deve, assim, ser a de desenvolver, nas áreas marítimas, um sistema de transporte aquático que seja eficiente e de alta velocidade, para desenvolver conjuntamente todas as ilhas. Assim (e onde a China tem desenvolvimento territorial a noroeste, no interior e a noroeste), o potencial da Indonésia, para pleno desenvolvimento, é o de desenvolver todas as ilhas, na forma de uma nação integrada a uma economia integrada.
Outro exemplo, outro problema, é o de que o maior obstáculo ao desenvolvimento no Sudeste Asiático, é a escassez de competências em máquinas-ferramentas. Na verdade, ainda são economias coloniais. O chamado fenómeno do Tigre Asiático (com a exceção da Coreia, que é um caso especial), o fenómeno do Tigre do Sudeste Asiático foi uma farsa. Nunca foi verdade! Porque, para ter uma economia a sério, viável, é preciso ter uma economia soberana.
Pense-se em tempos de guerra. Por exemplo, a China desenvolveu-se como nação sob condições de ameaça de guerra. Portanto, na economia, a China também pensa em termos de segurança nacional, e não apenas nas necessidades do povo. “Então e se o mundo se virar contra nós? Podemos sobreviver se o mundo se virar contra nós?” Isto não é apenas bom pensamento militar, é também a forma certa de pensar, sejam quais forem as condições económicas. “Temos a capacidade de sobreviver, se o mundo nos isolar? Poderíamos sobreviver? Poderíamos sustentar o nosso povo?”
Bom, a coisa mais importante é a chamada indústria de máquinas-ferramentas. A indústria de máquinas-ferramentas tem duas vertentes. Uma vertente é a indústria de máquinas-ferramentas que é virtualmente um laboratório científico: as pessoas que inventam modelos de máquinas-ferramentas. Depois, tem-se uma indústria secundária de máquinas-ferramentas, na qual modelos que já foram desenvolvidos como modelos são adaptados a vários usos. Estas também são as indústrias de máquinas-ferramentas que fazem as reparações na indústria de alta tecnologia.
Pense-se apenas: hoje, na Indonésia, ou na Tailândia, ou na Malásia, ou nas Filipinas, pense-se no problema que é se uma máquina, uma máquina moderna, se avariar. Como é que se consegue reparar essa máquina? Quantas milhas têm de se percorrer para trazer um técnico para reparar essa máquina? Estes países não têm capacidade local para suster a sua própria indústria. Na China, é claro, é importante aumentar vastamente a dimensão do setor de máquinas-ferramentas (em particular nas áreas onde os novos desenvolvimentos ocorrerão), de modo a obter capacidades de reparação de máquinas-ferramentas e capacidades de formação técnica, para apoiar as indústrias que operam nestas áreas.
Portanto, estas são características importantes.
O Melhor Exemplo: Exploração Espacial
Uma das melhores maneiras de pensar sobre isto, é pensar em exploração espacial. A exploração espacial é um exemplo perfeito do Princípio da Máquina-Ferramenta levado ao seu nível mais avançado.
Por exemplo, em meados dos 1980s, desenvolvi um projeto para um programa de 40 anos para dar início à colonização de Marte. Porque é que demoraria 40 anos? Eu trabalhei a questão passo a passo. Porque, para levar a cabo cada etapa, é preciso concluir uma etapa anterior. Antes de mais, tem de se mudar a maneira como se vai para o espaço. Um foguetão da Terra para o espaço não é eficiente. Não é eficiente! É um desperdício de combustível. Primeiro, pega-se num avião, num avião de alta estratosfera, um jato que vai até alta altitude e leva um foguetão nas costas. Coloca-se uma estação de baixa altitude, e então constrói-se outro avião-foguetão nesse nível, que entra no que é chamado de órbita geoestacionária. Este é o nível da plataforma espacial.
Então, tem de se colonizar a Lua, não tanto com pessoas, mas com indústrias, para construir naves para ir a Marte. Naves desse tipo são grandes. Quer-se transportar todo esse peso da Terra para o espaço? Demasiado caro. Vá-se para a Lua. Há matérias-primas na Lua. Use-se tecnologia nuclear para indústria automatizada na Lua, para fabricar peças para grandes naves espaciais.
Então, envia-se todo o equipamento espacial para Marte. Coloca-se o mesmo em órbita ao redor de Marte. Desenvolve-se tecnologia de alta velocidade, para poder chegar a Marte numa questão de dias, e não de meses: aceleração constante. Por outras palavras, trajetória balística para Marte é demasiado lenta, leva meses. Só se consegue fazer uma boa viagem a Marte duas vezes por ano. Quando se quer viajar constantemente para Marte, tem de se ter potência constante, um voo com potência constante. Depois, estaciona-se tudo em redor de Marte. E, deixa-se aterrar tudo na superfície de Marte, e começa-se a construir um habitat para seres humanos.
Com um bom programa, levar a cabo cada uma destas etapas em sequência, levaria 40 anos. Portanto, podemos conquistar o espaço com tecnologia, mas também com infraestrutura. A capacidade para desenvolver a infraestrutura para a existência humana é a pré-condição para a existência e para a produção humanas. E, estas tecnologias que usaríamos para Marte, são as mesmas tecnologias que usaríamos para tornar o deserto habitável na Terra. Se conseguirmos construir uma cidade em Marte, conseguimos construir uma cidade em qualquer deserto. Se conseguirmos transformar Marte de modo a torná-lo mais habitável, então conseguimos transformar qualquer parte da Terra para a tornar mais habitável.
Tudo isto requer tecnologia, tecnologia de máquinas-ferramentas. Portanto, se concebermos exploração espacial como a fronteira da infraestrutura, e depois olharmos de novo para a Terra, teremos uma melhor compreensão de como é que infraestrutura funciona na Terra. Portanto, pense-se em nós próprios como visitantes do espaço, a colonizar a Terra. Temos de tornar a Terra habitável para os seres humanos, e para os tipos de produção de que os seres humanos dependem. Portanto, pensemos em nós próprios como o homem no universo, e na Terra como a nossa primeira colónia. E aí estaremos a pensar da forma certa.
Portanto, tudo o que se diz sobre infraestrutura, deve ser guiado por essa visão mental. Estamos a conquistar o espaço, começando pela Terra. E, isto exige o ímpeto constante para melhoramento tecnológico, para o melhoramento que nos permita fazer as coisas necessárias para a criação da infraestrutura para conquistar a Terra. Isto é válido para infraestrutura soft, como seja educação, a ciência em si mesma, saúde. Temos que melhorar as condições da vida do ser humano, a mente humana, o corpo humano, protegê-lo. Ciência para desenvolver o conhecimento da sociedade. Infraestrutura. Precondições para desenvolvimento.
A Transformação da Natureza pelo Homem
Quando se quer ter uma indústria, é preciso transportar materiais para ela e a partir dela. Portanto, precisa-se de um sistema de transporte que seja eficiente, e que tenha um baixo custo físico de transporte por tonelada de peso. O mais eficiente, claro, é o ferroviário—ferroviário ou levitação magnética—o de custos mais reduzidos, custo físico por tonelada por milha. As estradas são muito ineficientes, e só se usam estradas quando é ineficiente construir ferrovias. E tenta-se usá-las apenas para distâncias muito reduzidas, porque são muito caras, por tonelada e por milha, em relação a caminhos-de-ferro. O transporte ferroviário é muito mais barato. A água é o mais barato, mas aí não se está em terra. E, a água é lenta.
Logo, quando se quer transportar cargas, e não se quer ter grandes tonelagens no sistema, não se quer produzir um inventário demasiado grande, vai-se precisar de transporte de alta velocidade, de modo a reduzir custos de inventário. Porém, quando se tem carvão ou minério de ferro, é preferível movê-los por água, já que a água é tão barata. E, portanto, mesmo que se vá mais lentamente, isso não importa, já que o baixo custo do transporte por água é uma vantagem.
Também se precisa de energia. Agora, energia tem qualidade, tal como tem quantidade. A medida genericamente mais fácil de eficiência energética é aquilo que é chamado de densidade de fluxo energético. Por outras palavras, pega-se num centímetro quadrado de uma área de superfície. Tem-se algo a fluir, tal como água, ou eletricidade, ou qualquer outra coisa, a fluir ao longo de um tubo. Quer-se saber quanta energia está a atravessar uma dada secção transversal, um centímetro, nesse fluxo, e aqui energia é representada pelo movimento da água, ou é representada pela energia elétrica, ou pelo que quer que seja. E, tem-se densidade de fluxo energético.
Certas fontes de energia têm muito elevada densidade de fluxo. Outras, muito baixa, como seja a força muscular, a força animal. Ou, a mera e simples combustão de lenha. Ou, luz solar, muito fraca. A luz solar é muito pobre. Não se consegue obter energia eficiente da luz solar, apenas em pequenas quantidades, e apenas para usos especiais. Deixe-se a luz solar para as plantas, elas sabem usá-la eficientemente!...
Hoje temos energia química mais eficiente, reações químicas. Eles são mais eficientes do que combustão, mera combustão. Por exemplo, uma das mais eficientes fontes químicas de energia é a pura e simples combustão de oxigénio e hidrogénio. É muito melhor, por exemplo, usar metano—que gasolina ou querosene—para aviões. Portanto, de modo geral, o que faríamos em muitos casos, para obter energia química (e, quando se usa uma central nuclear ou termonuclear), seria converter água em hidrogénio e oxigénio, por dissociação. Pode-se depois usar o hidrogénio como combustível de uso local, ou pode-se criar metano, o assim chamado gás natural, e pode-se usar isso como combustível, e é muito mais eficiente que gasolina. Para além do mais, quando se usa combustão de oxigénio e hidrogénio, o produto residual é água, o que não é um mau resultado. Não é um poluente.
Logo, esses são os mais avançados. Olhe-se para a Tabela Periódica. A partir da Tabela Periódica de Elementos Químicos, pode-se genericamente ter uma ideia de qual o mais eficiente processo químico para a criação de energia. Mas isso não é bom o suficiente.
Vai-se mais além. Vai-se para o nível nuclear atómico. A densidade de fluxo energético é 100 a 1.000 vezes mais eficiente para a energia nuclear que para a química. A energia termonuclear é 100 vezes (ou mais) mais eficiente que a energia nuclear. Há ainda outra reação que conhecemos, uma reação física que conhecemos, que é cerca de 1.000 vezes mais eficiente do que a fusão termonuclear. É chamada de reações matéria-antimatéria. Estas reações acontecem no laboratório. Conseguimos medí-las, mas ainda não sabemos como controlá-las. Um dos meus objetivos no meu programa Marte, é dizer: “Temos 100 anos para desenvolver esta tecnologia. Temos de descobrir, em 100 anos, como controlá-la. Porque é mil vezes mais eficiente que a fusão termonuclear.”
Portanto, energia; uma vez mais, infraestrutura. Se queremos criar um habitat para os seres humanos, criar um habitat para a indústria e para a agricultura, temos de transformar a natureza, torná-la favorável, por quilómetro quadrado, aos seres humanos e às indústrias. Isto inclui em transporte, desenvolvimento dos solos, gestão de águas, energia, comunicações. E, também, lugares de habitação para as pessoas, o que significa educação, saúde, serviços científicos.
Quando se cria indústria, a próxima coisa de que se precisa a par da indústria, é a indústria de máquinas-ferramentas. Quando se quer ter uma fábrica, têm de se ter serviços de reparação que consigam fazer a manutenção das máquinas. A indústria de máquinas-ferramentas é a primeira, a mais importante, a mãe de todas as outras indústrias. A indústria de máquinas-ferramentas.
A Ponte Terrestre Eurasiática
Como é que se faz isto? Bom, peguemos na Ponte Terrestre [ver Figura 1: Eurásia, Rotas Principais e Rotas Secundárias Selecionadas da Ponte Terrestre da Eurásia]. Vocês estão muito familiarizados com a China, mais do que eu, portanto não preciso de lhes falar da China. Mas, em geral, olhe-se para a condição da China. Temos o problema das áreas interiores, que são economicamente pouco desenvolvidas (e onde pessoas vivem), mas que são pouco desenvolvidas; onde as pessoas são pobres. Problema número um.
Problema número dois: não há suficiente área terrestre desenvolvida para suster crescimento populacional. Como é que se lida com isso? O noroeste, áreas que hoje são desérticas ou semidesérticas: tem de se abrir o deserto. Bom, o problema é muito similar à questão que estudámos no Sahara: como é que lidamos com o norte de África?
O que se faz é pegar na área desértica e conceber uma Rota da Seda. Mas não apenas uma Rota da Seda, uma mera rota de transporte. Ao longo da rota de transporte, distribuem-se gasodutos, pipelines de água, estações energéticas, tudo. Desenvolve-se a área terrestre a cada lado, 50, 100 quilómetros a cada lado da ferrovia, e conquista-se essa extensão de deserto. Quer-se lidar com mais, mais deserto? Cria-se outra linha de desenvolvimento, outra linha de transporte, a mesma coisa, fora da linha principal.
E, neste processo, pode-se controlar o deserto. É como conquistar o deserto. É como uma operação militar de flanqueamento contra o deserto. Agora vamos derrotar o deserto! Talvez nos leve 50 anos, mas vamos derrotar o deserto. No tempo dos nossos filhos, dos nossos netos, o deserto terá sido conquistado.
Portanto, o que fazemos é passar por essas áreas. Dizemos: “Há pessoas aqui?” Bom, há pessoas no interior da China—não na área do deserto, não tantas quanto isso. “Quantas pessoas podemos empregar nestas áreas? Que recursos estão disponíveis para esta infraestrutura, nestas áreas?” Tudo certo. Os agricultores produzirão alimentos. Logo, alimentaremos as pessoas que trabalham neste projeto nesta área. E isto representará novo rendimento para os agricultores, um novo mercado para os agricultores.
Há pessoas desempregadas? Elas não precisam de ir para as cidades costeiras para arranjar trabalho; o trabalho irá até elas. Porém, elas não têm competências. Portanto, teremos que enviar pessoas qualificadas para lhes dar formação, para as orientar no novo emprego, e para desenvolver as suas competências. Mais professores. Vai-se precisar de mais educação. Mais saúde, mais serviços, de modo a integrar psicologicamente a população local, com os benefícios do trabalho.
Ou seja, a coisa começa com o projeto de infraestrutura, com o projeto de desenvolvimento. Depois, pode-se trazer o suporte de máquinas-ferramentas, o ramo local da indústria de máquinas-ferramentas, o que significa que se pode trazer qualquer indústria que se ajuste a essa área.
Desenvolvimento Infraestrutural na Europa
Isto é verdade ao longo de todo o mundo, com a construção de projetos de transporte em larga escala. Na Europa, costumavam ser canais. Do tempo de Carlos Magno em diante, canais; há mais de 1.200 anos atrás. Depois, mais tarde, passaram a ser estradas e ferrovias; e, em tempos modernos, ferrovias.
Depois, o desenvolvimento da distribuição em massa de energia. Tivemos a combustão de combustível. A descoberta do carvão como combustível, para substituir a madeira, foi uma grande vantagem na Europa, e para resolver as consequências da combustão de madeira, nos séculos XVI e XVII. Porque estávamos a destruir florestas. Uma floresta é um recurso ecológico. Não pode ser usado apenas para combustível. Ajuda a controlar o ambiente. A floresta é a transformação mais eficiente da luz solar em biomassa. É um recurso muito útil para madeira, e para muitas outras coisas que obtemos da floresta e dos arredores florestais. Ajuda na gestão das águas. Têm-se florestas, tem-se uma bacia hidrográfica.
Portanto, estes desenvolvimentos ocorreram de forma natural. Continuámos a adicionar novas tecnologias. Cada etapa começou com duas coisas, infraestrutura e infraestrutura soft: por outras palavras, educação, saúde, ciência, transporte, energia, desenvolvimento de terras, gestão de terras. Essas coisas tornaram-se no impulsionador e na pré-condição para a criação de novos tipos de indústrias.
Quando se olha para a importância de desenvolvimento fluvial na Europa, por exemplo... Considere-se o Rio Reno, o Elba, e assim sucessivamente—estes foram cruciais nas fases iniciais de desenvolvimento de regiões da Alemanha. Por exemplo, em tempos medievais, desenvolveu-se aquilo que era chamado da Hansa. Estes eram os consórcios de navegação que atravessavam o Mar do Norte e o Mar Báltico. Aqui, também se tem o sistema do Reno, que fica a sul na Baviera, e assim sucessivamente [ver Figura 2: Hidrovias Existentes e Novas Hidrovias Propostas na Europa]. E aqui também se tem o sistema do Elba, e por aí em diante.
Ou seja, os rios eram estradas naturais de comunicação. Logo, ter-se-ia as áreas da Alemanha, em particular nas áreas montanhosas, digamos na Baviera (o que é hoje a Baviera), ou o que era a área da Montanha Hartz, e outras áreas. Tinha-se a Saxónia. Tinham-se áreas onde havia montanhas com vastos recursos minerais. Tinham-se tipos primitivos da indústria metalúrgica. E, estes tornar-se-iam nos recursos ao longo do sistema do Reno, do sistema do Elba e assim sucessivamente, que agora surgiriam conectados ao mar, que então seria conectado a este transporte marítimo ao longo da costa, entre várias partes da Europa.
Portanto, as etapas precoces de desenvolvimento económico utilizaram uma infraestrutura natural, os rios. Para melhorar os rios, criámos canais para ligar rios entre si. Isso melhorou a densidade na Europa. Olhe-se para o sistema de canais, o desenvolvimento do sistema de canais na Europa, do tempo de Carlos Magno em diante, e olhe-se para os planos que foram criados no tempo de Carlos Magno, alguns dos quais foram apenas recentemente concluídos. Por exemplo, o canal a ligar o Reno ao Danúbio, para transportes, que é a ligação do Mar do Norte ao Mar Negro, e que só recentemente foi concluído. E este é um projeto que foi concebido há mais de mil anos atrás.
Desta forma, o desenvolvimento da Europa antes das ferrovias foi largamente baseado em transporte aquático barato, ao longo de rios, e no aumento da utilidade dos rios através da adição de canais, como aconteceu na China. A mesma questão, de como usar um canal para desenvolver a China. Como não usar, como usar.
Isto era uma combinação de rios e canais. Ao ligar os canais de um sistema fluvial ao outro, pega-se agora na estrada natural das estradas aquáticas, e adicionam-se a elas as autoestradas artificiais, e daí obtém-se o mais baixo custo por tonelada para transporte de cargas. Quando se têm cargas em escala, como cargas pesadas; como seja combustível (por exemplo, petróleo, óleo), querem-se custos muito baixos. Para baixos custos, tem de se pagar o preço do transporte lento. Portanto, o transporte aquático é perfeito. Cereais, carvão, minério, muitos outros tipos de coisas, que são baratas—para baixo custo por tonelada, é melhor transportá-las mais devagar.
O que acontece é, naturalmente, quando se cria desenvolvimento infraestrutural, onde se vai genericamente desenvolver novas terras, que podem ter sido habitadas antes, mas que não são economicamente úteis (é demasiado caro produzir em tais locais), tornam-se essas terras potencialmente, economicamente, mais produtivas, pelo desenvolvimento de infraestrutura.
Por exemplo, pode-se acabar por desenvolver avanços na agricultura. Olhe-se, por exemplo, para a Alemanha, e descobrir-se-á que eles tiveram uma abordagem mais inteligente ao uso da terra que os Estados Unidos. Nos Estados Unidos, temos vastos subúrbios a estender-se à volta das cidades. As áreas agrícolas são afastadas. As terras agrícolas tornam-se cada vez mais afastadas. Na Alemanha, é muito mais inteligente. Encontram-se terras agrícolas mesmo ao lado da grande fábrica, o que é uma coisa natural e económica, e como também é o caso na China. Se as terras agrícolas ficarem mesmo ao lado da cidade ou da vila, então a população da cidade e da vila obterão alimentos mais baratos e mais prontamente, diretamente das proximidades. Daqui, o desenvolvimento planeado de terras agrícolas e de novas técnicas de agricultura, incluindo ambientes artificiais para o cultivo de alimentos em áreas inóspitas.
O que é que se faz numa área desértica? Talvez não seja boa para a agricultura. Porém, pode-se ter um ambiente artificial para alimentos de alta qualidade; por exemplo, condições especiais, um ambiente especial para vegetais. As plantas gostam de dióxido de carbono. As pessoas não gostam de dióxido de carbono; não lhes faz bem. Porém, uma planta fica muito feliz. Dê-se a uma planta energia, em especial luz solar, muito dióxido de carbono e água adequada e minerais, e a planta fica muito feliz. Cresce muito depressa. Portanto, podem-se criar ambientes especiais, que são bons para as plantas, mas não para as pessoas. E, vão-se cultivar alimentos nestas condições artificiais que, na prática, serão muito mais eficientes e muito menos onerosas em termos de resultado, que o que seria cultivá-los em condições de campo aberto.
O desenvolvimento de uma área através da construção de infraestrutura, cria agora potencial para a indústria, indústria privada (que caso contrário não existiria), desde que haja capacidade para máquinas-ferramentas.
Olhe-se agora para isto do ponto de vista do crédito, crédito para desenvolvimento. Pega-se num projeto de larga escala, como o projeto da Ponte Terrestre. O estado criará crédito, e criará uma rede de empresas. Haverá, provavelmente, uma agência estatal, responsável por todos os aspetos políticos do projeto (já que, em qualquer projeto, há aspetos políticos). Há que adquirir terras. O projeto—um sistema ferroviário, um sistema de transportes—requer terras. É possível que estas terras já estejam a ser usadas para outras coisas. É a responsabilidade do estado, como com a Barragem das Três Gargantas, resolver esse problema. Na China, a construção da Barragem das Três Gargantas, implicou deslocar pessoas de uma área para a outra. Isso é de responsabilidade do governo. Está além do papel de qualquer empresa privada.
Portanto, o governo cria uma agência, como a TVA (Tennessee Valley Authority) nos Estados Unidos ... uma agência geral para a área, responsável pelo projeto naquela área. E, neste ponto, pode-se ter a entrada de empresas privadas a contrato, típicas nos Estados Unidos.
A Tradição de Lazare Carnot
Nos Estados Unidos, também fizemos uma outra coisa, algo que provavelmente também é bom para a China. De 1814 em diante, o desenvolvimento das forças armadas dos EUA, primeiro o Exército e depois a Marinha, foi baseado no desenvolvimento das forças armadas como uma força de engenharia. A forma como isto aconteceu, é que as fundações da indústria moderna foram estabelecidas em França, a partir de 1792-1794, por Lazare Carnot, que era então comandante das forças francesas, e que alcançou a vitória contra a invasão da França, sob a sua liderança.
Carnot não era apenas um génio militar por formação, era também um cientista. Lazare Carnot desenvolveu o conceito da moderna indústria de máquinas-ferramentas. Como comandante de forças armadas, revolucionou a guerra no espaço de dois anos. A guerra moderna, como a conhecemos do século XIX e do século XX, foi inventada por Lazare Carnot, em dois anos, ao pegar num exército francês que estava a ser derrotado e ao convertê-lo numa força terrestre invencível, pela mudança da estrutura das forças armadas—de um modo que foi imediatamente imitado na Alemanha, por pessoas como Scharnhorst, no desenvolvimento da Landwehr na Alemanha, e noutras coisas.
Porém, ele também aplicou o Princípio da Máquina-Ferramenta e introduziu-o, com indústrias centradas em Paris, para criar um programa relâmpago. Por exemplo, Lazare Carnot desenvolveu as técnicas para produção em massa de artilharia de campanha móvel. E, uma das características do Exército francês sob o comando de Carnot, foi a de que desenvolveu o uso de artilharia de campanha móvel em massa como um novo recurso na prática de guerra, algo que veio mudar o caráter da guerra. E todo esse tipo de coisas.
O professor e amigo de Lazare Carnot era Gaspard Monge. Gaspard Monge é uma pessoa muito famosa, que fundou a École Polytechnique na França. Esta École Polytechnique foi uma continuação do trabalho de Leibniz. Era uma cópia do modelo de Leibniz para a Academia. Monge e Carnot eram ambos, cientificamente, seguidores de Leibniz.
Napoleão destruiu muito disto. Mas, em 1814, quando o governo da Restauração destruiu o poder de Monge e de Carnot, as pessoas da École Polytechnique foram para vários lugares. Gaspard Monge, que era mais idoso, aposentou-se, e morreu em 1818. Lazare Carnot, que em tempos tinha sido seu pupilo, foi viver para a Alemanha, em Magdeburg, como refugiado da França. Morreu em 1823. Durante este período, foi um dos conselheiros das forças armadas alemãs.
O que aconteceu, foi que, sob a ocupação da França pela Restauração, a fação patriótica na França mudou-se para a Alemanha, e passou a trabalhar em estreita colaboração com pessoas como os irmãos von Humboldt, e outros, para transformar a ciência, e para levar a ciência (que estava a morrer na França) para a Alemanha. E, Alexander von Humboldt, o irmão de Wilhelm von Humboldt, foi o líder-chave na coalescência de lugares como Göttingen com pessoas da École Polytechnique, que eram refugiados na Alemanha. E, a Alemanha, de 1827, 1828 em diante, acabou por se tornar no líder mundial na ciência—até aí, essa posição tinha pertencido à França—, por conta desta mudança.
Os Estados Unidos estão entre os lugares para os quais essas pessoas foram, a partir da École Polytechnique. E, a Academia Militar de West Point, sob Sylvanus Thayer, e sob a Presidência do Presidente Monroe, foi revolucionada para se tornar no centro de formação científica e em engenharia nos Estados Unidos. Disto surgiu o Corpo de Engenheiros. Desta forma, os oficiais militares formados na academia militar foram quase todos formados como engenheiros. O Corpo de Engenheiros, o corpo militar de engenheiros, daquele tempo até após a Segunda Guerra Mundial, foi o principal construtor de infraestrutura de escala nos Estados Unidos.
Foi demonstrado que a melhor maneira de desenvolver as forças armadas, reside em desenvolvê-las como um corpo de engenheiros, dado que é assim que ganham a mais elevada qualidade, qualidade intelectual, devido ao seu trabalho científico. E, têm uma relação próxima com as pessoas, pelo benefício do que fazem por elas. Têm um moral elevado e não perdem, antes ganham, capacidades militares, através da sua qualidade tecnológica. Conseguem adaptar-se mais rapidamente em qualquer área; conseguem fazer o que têm de fazer para sobreviver.
Um exército depende de logística, e isto é infraestrutura, essencialmente infraestrutura. Um exército tem de desenvolver a sua própria infraestrutura. Não pode dizer: “Não temos estrada”. Tem de construir uma estrada. O exército não pode dizer: “Não temos uma ponte”. Tem de construir uma. E tem de conseguir fazer isso rápida e eficientemente. Desta forma, e em tempos modernos, todos os exércitos eficientes foram baseados em princípios de engenharia, e na formação dos oficiais como engenheiros. Assim, o corpo de engenharia das forças armadas torna-se numa parte integral do desenvolvimento da infraestrutura civil do país, e torna-se num braço do governo nestes projetos infraestruturais de larga escala.
Nos Estados Unidos, as coisas costumavam funcionar de duas maneiras diferentes. Alguns projetos basear-se-iam em contratos diretos com empresas privadas, que assinariam um contrato com o governo para desenvolver infraestrutura: uma central energética, uma estação elétrica, o que quer que seja; um governo estadual ou o governo nacional.
Em muitos casos, porém, o Corpo de Engenheiros receberia o contrato. Ou seja, o Corpo de Engenheiros seria responsável por construir uma grande barragem. Porém, o Corpo de Engenheiros assinaria um contrato, um contrato governamental, com empreiteiros privados, para trabalharem sob a direção do Corpo de Engenheiros, e levarem o projeto a cabo. Depois, o Corpo de Engenheiros, e esses empreiteiros, assinariam outros contratos com fornecedores de materiais: para aço, para concreto, para o que quer que seja.
Depois, teria que haver pessoas a providenciar alojamento para os trabalhadores destes projetos. Portanto, o resultado disso é o de que o crédito governamental, que flui do governo para as empreiteiras privadas, passa agora a estimular todos os setores da economia privada nas áreas abrangidas. Acontece que governo é muito ineficiente a administrar indústria, este é o problema com o qual a China está a tentar lidar. Portanto, querem-se pessoas engenhosas e capazes para gerir as indústrias: pessoas que não têm de esperar que o governo lhes diga o que fazer; que consigam resolver problemas; que provem que sabem como dirigir a indústria. Que pessoas assim sucedam.
O Papel Vital do Governo Nacional
Porém, a direção geral, em especial em infraestrutura, tem de vir de governo. Caso contrário, caos! Um corpo militar de engenheiros é um bom exemplo do papel que governo pode desempenhar com eficiência. E, se for estudado o trabalho das forças de engenharia militar nos Estados Unidos e na Europa durante o século XIX, e na primeira metade do século XX, isso são coisas boas para estudar, para entender como um corpo militar de engenheiros pode trabalhar numa economia nacional.
Porém, é através destes contratos que vão para empreiteiros privados que a economia civil é envolvida. A estimulação da atividade na indústria privada, no setor privado, através destes contratos, torna-se então o catalisador que leva ao crescimento do setor privado.
O que está hoje a ser feito nos Estados Unidos é insano. O que foi feito em virtualmente todos os países do mundo nos últimos 30 anos, é insano. A ideia de deixar o setor privado gerir a economia, insana. Não funciona.
Uma das grandes invenções de sempre, aquela que é a maior de todas, essencial para o sucesso da civilização Europeia nos últimos 550 anos, a maior de todas as invenções, foi o moderno Estado-nação, o Estado-nação soberano. E, a frase que, em si, identifica mais exatamente o princípio do estado-nação, é a frase, em português, "todas as pessoas". Quem é responsável por todas as pessoas? Quem é responsável por toda a área territorial? Quem é responsável pela proteção e desenvolvimento de todas as pessoas? Quem é responsável pela proteção e desenvolvimento de toda a área territorial? Isso só pode ser uma entidade que emane de todas as pessoas, e que seja soberana. Tem de ser um governo nacional soberano de todas as pessoas em todo o território.
Este governo tem então de proteger e providenciar pela iniciativa pessoal e privada. A infraestrutura é a expressão económica natural das funções e responsabilidades de governo. Desenvolvimento da área territorial, desenvolvimento de territórios, proteção desse desenvolvimento, e desenvolvimento e proteção de todas as pessoas. Essa é a responsabilidade de governo, quer seja governo ao nível nacional, quer seja quando algumas valências de governo são atribuídas ao nível local, ao nível regional.
O que hoje está a acontecer é a destruição de governo. O que tem vindo a acontecer ao longo dos últimos 30 anos é que estamos a voltar a feudalismo: elimine-se governo, deixe-se o poder local mandar em tudo. Na China, isso seria chamado de sistema dos senhores da guerra, o retorno do mundo a um sistema de senhores da guerra. E, toda a gente na China conhece, quem já passou por essa experiência, a importância dessa mudança. O grande feito, a grande luta do povo Chinês foi a de, após todas essas dificuldades, estabelecer uma forma adequada de governo nacional para unificar o povo, e para o proteger dos males que advêm das disputas mútuas entre esses poderes locais, os parasitas.
O que quer que acontecesse na política chinesa, a política de todos os movimentos patrióticos da China, independentemente de quaisquer conflitos que tivessem entre si, era uma mesma política, fosse Kuomintang ou Partido Comunista, uma mesma política: eliminar o mal. Unificar o país. Um país, um governo, um povo e uma entidade responsável por—pelo quê? Pelo desenvolvimento de todas as pessoas, pelo desenvolvimento de todo o território. Ao mesmo tempo, levando em consideração o mundo em redor, e tendo uma atitude moral para com o mundo em redor, porém assumindo a sua própria responsabilidade de cuidar do seu próprio povo, do seu próprio território. E, infraestrutura expressa as funções naturais de governo, para as quais podem contratar interesses privados para que o ajudem, mas pelas quais é responsável. Em última análise, o que quer que seja feito ao território, o que quer que seja feito ao povo, é da responsabilidade do governo. E, governo nunca pode eliminar, do seio das suas próprias incumbências, essas responsabilidades.
Se o governo fizer isso bem, se o governo quiser melhorar a agricultura, a indústria, de modo a criar progresso tecnológico, então fomentará aqueles interesses privados que fazem isso. Construirá universidades como pólos científicos. Fará com que as universidades e os centros de desenvolvimento científico cooperem com a indústria de máquinas-ferramentas, com a qual têm uma relação natural; com a classe médica, com a qual têm uma relação natural; com toda a ciência e desenvolvimento.
O governo, e apenas o governo, consegue organizar programas espaciais. Nenhum interesse privado consegue organizar competentemente um programa espacial. Um programa espacial advém de colaboração entre o setor de máquinas-ferramentas, e as universidades e o governo. Isto é o único tipo de programa espacial que pode funcionar, pela natureza do programa em si.
Se esses princípios forem compreendidos, não há dificuldades em fazer política. Há dificuldades no dia-a-dia da atividade política, mas a ideia orientadora para essa atividade não é um problema. Estimular desenvolvimento infraestrutural de modo a possibilitar crescimento. E, descobre-se que criar e fornecer o crédito para esses projetos, através de instituições nacionais que subcontratem instituições privadas, e que selecionem instituições privadas com base em desempenho...
Por exemplo, tomemos o caso da China, para o qual temos estado a olhar de uma forma algo limitada, e que vocês conhecem melhor do que eu, de longe. Tomemos a questão das grandes indústrias, que eram indústrias estatais, que são muito ineficientes. A ineficiência vem do princípio da tigela de arroz, ou seja, o de que as indústrias assumem a responsabilidade pela tigela de arroz para grandes quantidades de pessoas. A responsabilidade pelas pessoas pertence ao governo. Portanto, pessoas que não são produtivas, são mantidas na folha de pagamentos do setor, porque são aquelas às quais é atribuída responsabilidade pelas pessoas. Desta forma, a indústria faz coisas ineficientes, de modo a cumprir as responsabilidades para com as pessoas. Cria trabalho para as suportar, mesmo que não sejam eficientes. Suporta-as, quando na verdade deveriam estar a ser apoiadas por algum estado. Porém, não há uma agência para isso.
Portanto, a questão é, na Europa, como na Alemanha, ou ainda nos Estados Unidos num período anterior... esse problema foi resolvido pela criação de sistemas de Segurança Social; onde toda a economia nacional mantinha um sistema de Segurança Social para cuidar de pessoas sem trabalho, ou de pessoas idosas, ou de quem quer que seja—mas, cuidar delas. É uma responsabilidade. Ao passo que a indústria estava livre de tal responsabilidade, excetuando no respeitante às pessoas que para si trabalhavam. E, portanto, a indústria podia concentrar-se em fazer o seu trabalho, a indústria privada.
Este é, portanto, o tipo de problema que enfrentamos, como tornar eficientes as indústrias. E não é uma questão de indústria governamental ou não governamental. Esse não é o problema. O problema é como é que a mesma é organizada.
E, é melhor usar... a noção alemã de Auftragstaktik [nota 1]. A função geral da indústria privada, e também do setor estatal mas, em especial, da indústria privada, é Auftragstaktik. O governo reúne pessoas de vários setores—conferências de negócios, conferências económicas, reúne especialistas. Todos os tipos de conferências, especialistas de cada setor são reunidos e falam entre si. Há debate de ideias. O governo sente o pulso à situação, e outros sentem o pulso à situação.
Depois, o governo diz: “Bom, vamos nesta direção”. Agora, todas as pessoas que participaram dessas conferências, de todos os setores, sabem do que precisam. E o governo diz: “Vamos fazer isso. Vamos cooperar. E, aquela é a nossa política.” Para que as coisas funcionem, há que haver essa divisão de trabalho entre o setor privado e o governo. O ponto essencial é a responsabilidade do governo por infraestrutura, que é a forma de obter crédito e colaboração com o setor privado..
As Perspetivas de Futuro da China
E pessoas que são competentes, e bons gestores para auxiliar o governo em projetos de infraestrutura, serão bons gestores também em outros aspetos da indústria. Porém, os pontos essenciais que precisam de ser compreendidos são infraestrutura, e o setor de máquinas-ferramentas. E, o grande problema do Sudeste Asiático e, num menor grau, da China, é insuficiente desenvolvimento no setor de máquinas-ferramentas.
Por exemplo, olhemos para um par de coisas. A China tem um setor espacial limitado. Isto é muito importante. Hoje em dia não se é um estado soberano a não ser que se tenha um setor espacial. A China também está a trabalhar no desenvolvimento de reatores nucleares de alta temperatura, ou de um reator de alta temperatura refrigerado a gás. Muito importante. Porque o que é necessário na China é a capacidade de disponibilizar muito rapidamente energia em áreas onde estão a ser criadas novas indústrias. Sem energia, estas indústrias não funcionarão.
Já estamos a ver na China os problemas do sistema de transportes, por conta do transporte do carvão. O uso de ferrovias para o transporte de carvão, para energia, é um dos grandes fardos da China. Portanto, se a produção energética for aumentada, o que é o que isto significa, onde é que se vão conseguir as ferrovias para transportar o carvão?
Qual é a resposta? Precisa-se de um reator nuclear, que é mais eficiente, e sobrecarrega menos o sistema de transporte, muito menos. E, precisa-se de um que possa ser usado por chineses que tenham o mais elevado nível de formação, por razões de segurança.
Portanto, precisa-se de um reator que seja altamente seguro e muito eficiente, e que possa ser transportado—que seja pequeno o suficiente para ser transportado para áreas locais. Colocam-se dois, três ou quatro pequenos reatores juntos numa área, de modo tal a que, se um for abaixo, os outros três funcionam. E, o moderno reator refrigerado a gás, que foi desenvolvido em Munique, na Alemanha, e do qual a China tem agora a sua própria versão (está a trabalhar para a desenvolver), é o ideal. Estes reatores começam por ser de 100-200 megawatts, e é possível fazê-los maiores. Em geral, recomendamos (pelo que ouvimos do homem que o desenvolveu, e que morreu recentemente, e que era nosso amigo de longa data), que o reator autorregulável de 100-200 megawatts é o melhor modelo. E, eu levaria dois ou três, ou quatro, tais reatores pequenos para uma área, para o fornecimento de energia, porque simplifica esse fornecimento. Quando o reator tem um problema, desliga-se a si próprio. Depois, os especialistas aparecem e reparam-no. Porém, e no entretanto, a fonte de energia não foi eliminada, já que se têm outros dois ou três reatores a funcionar, e estes continuarão a fornecer energia suficiente.
E, em qualquer dos casos, quando se colocam fontes de energia numa área, há que antecipar crescimento futuro. Portanto, colocam-se mais fontes de energia do que aquelas que realmente se precisa, numa área, porque se antecipa crescimento, e a necessidade de mais energia. E, quer-se encorajar as pessoas a usar energia, por oposição a trabalho manual ineficiente. Dessa forma, cria-se a possibilidade para tal.
Por outras avenidas, na indústria química, a vertente da alta tecnologia (que está íntima e naturalmente relacionada com as universidades, tal como é o caso com o programa espacial, com o programa nuclear, com outros programas, com a indústria das máquinas-ferramentas em geral) é o veículo para melhorar, rapidamente, áreas locais. Porque, aí, a nação tem a capacidade de fornecer à área local um pacote de serviços que a área local, a administração local, pode assimilar e utilizar para levar a cabo o projeto de desenvolvimento.
Por exemplo, novas escolas: tem-se um novo setor, precisa-se de novas escolas. A mão de obra da área local não compreende a tecnologia. Talvez muitos deles sejam agricultores, ou tenham experiência em trabalhos de baixas qualificações. Como é que se faz com que agricultores, ou trabalhadores pouco qualificados acabados de sair da quinta, adquiram as capacidades para se envolverem em produção moderna? É preciso um pacote, um pacote de formação, e formadores qualificados.
A vantagem, claro, é que, em vez de deslocalizar camponeses desempregados de uma área interior, ou pessoas pouco qualificadas para Xangai (ou outro sítio, as áreas costeiras), para trabalhar em indústrias de baixa qualificação... O que é mau para a China, no longo prazo; pode ser útil no curto prazo, para obter alguma moeda estrangeira, mas, no longo prazo, é mau para a China, porque as pessoas não estão a desenvolver-se. Estão longe das suas famílias. Sofrem de deslocamento, deslocamento psicológico. É muito melhor desenvolver as pessoas na sua área, que deslocalizá-las para fora da área, para novas áreas. Existem exceções, mas essa é genericamente a regra. Efeitos psicológicos, efeitos culturais, instabilidades políticas; todos esses problemas vêm deste tipo de coisa.
Portanto, cria-se um pacote de infraestrutura. “Queremos a nossa parte no projeto”, diz cada área. Tudo bem. A política da China é fazer isto e aquilo. Cada área desenvolve os seus próprios projetos o mais depressa que possível. Isto elevará o moral das pessoas. Tornar-se-ão muito mais eficazes as unidades políticas locais, já que agora podem fazer algo pelas pessoas. Muito importante. Se governo é útil às pessoas, então as pessoas gostam, ou acabarão por gostar, de governo. Podem começar por ter reservas.
Tem de se ter a energia, têm de se ter os formadores, tem de se ter a ciência, e a infraestrutura geral. E, estas coisas têm de ser trazidas para a área como uma unidade orgânica coerente. Esqueça-se a parte do dinheiro. Quando se fazem as coisas certas na realidade física, a parte do dinheiro funcionará. E, o nível nacional tem simplesmente de definir apropriadamente as suas prioridades. Mas, façam-se as coisas certas na realidade física, e a parte do dinheiro resolver-se-á a si mesma, sob uma boa política monetária nacional.
Se as pessoas estiverem a produzir mais, se estiverem mais felizes e mais seguras, se estiverem a avançar nos seus conhecimentos, então isso é bom. Portanto, o que é física, psicológica e socialmente bom, é bom. Se isso for feito através de infraestrutura e de indústria, então fez-se o melhor possível. Se o sistema nacional apoiar essa direção política, a mesma funcionará. E o interior da China e os desertos serão cultivados, e tudo se tornará melhor. Isto levará meramente gerações e muito trabalho, e isto tem sido a história da humanidade ao longo de todo o mundo. Todos os sucessos que tivemos, foram obtidos dessa maneira. Se pararmos de fazer as coisas dessa maneira, teremos problemas.
[nota 1] Auftragstaktik é traduzido aproximadamente como "táticas de missão". Refere-se à ideia de que, quando soldados recebem uma missão, deles se espera que usem o seu próprio engenho para perceber como atingir o objetivo. Ver Andreas Ranke, "Schlieffen, Carnot e a Teoria do Flanco", Executive Intelligence Review, Vol. 25, No. 6, 6 de fevereiro de 1998, pp. 62-70. [voltar ao texto em 1]
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