O Que é o Verdadeiro Novo Bretton Woods?
por Lyndon H. LaRouche, Jr
Este artigo, datado de 24 de Setembro de 1998, foi originalmente publicado num panfleto da New Federalist e, mais tarde, a 31 de Outubro de 2008, republicado no Volume 35, Número 43 da Executive Intelligence Review.
Numa conferência em Washington, D.C., a 18 de Março de 1998, apresentei uma declaração formal da minha proposta para a adoção de um “Novo Bretton Woods” como opção política. Nessa declaração, explicitei que uma tal ação tem de ser iniciada pelo Presidente dos EUA. Hoje, como já nessa altura, a adoção de um “Novo Bretton Woods” representa a única alternativa viável à continuidade de um (já em 1998 ativo) processo de desintegração do sistema financeiro e monetário global.
Mais tarde, em finais de Agosto deste ano, e na sequência das novas, e trovejantemente ominosas escaladas das crises financeiras e monetárias em decurso no Japão e na Rússia, a minha proposta para um “Novo Bretton Woods” passou a ser ecoada por um número limitado, porém significativo, de figuras e instituições proeminentes. As propostas destes banqueiros, e de outros, eram mais limitadas em abrangência que a minha própria; porém, e em tudo o resto, eram competentes. Havia, entre banqueiros mentalmente sãos, o reconhecimento geral da urgência de quatro fato cruciais por mim enfatizados nas minhas propostas:
1. Que, e não obstante os ideólogos mentecaptos que se recusam teimosamente a reconhecer as evidências avassaladoras, a era da “globalização” entrou em colisão aparatosa com a realidade há muito iminente. Ou revertemos o processo de “globalização”, e voltamos de imediato a relações económicas internacionais baseadas no estado-nação soberano como primeira autoridade, ou então não haverá recuperação possível do presente processo de desintegração do sistema financeiro e monetário internacional.
2. Que o modelo de política económica das nações, e entre as nações, tem de expressar um regresso ao espírito e aos métodos de protecionismo que foram empregues ao longo da reconstrução do pós-guerra. Tem de expressar a adoção de medidas expressamente inspiradas pelas ações protecionistas prevalentes até 1958.
3. Que, por intermédio da autoridade dos estados-nação soberanos (e, sem qualquer substituição dessa autoridade soberana por quaisquer agências internacionais, de quaisquer tipos, novas ou já anteriormente existentes), têm de ser instituídos controlos, estritamente executados, de capitais e câmbios.
4. Que tem de ser adotada uma (estritamente protecionista, e altamente seletiva) política de expansão, à larga escala, do crédito à produção, e ao comércio, de produtos tangíveis de natureza agrícola, infraestrutural e industrial. Por outras, palavras, uma política protecionista que expanda a produção e o comércio nestas áreas, ao mesmo tempo que restringe dramaticamente os fluxos de crédito para outras áreas. Em particular, a especulação financeira tem de ser posta fora de negócio, e as massas insolventes das ditas obrigações “derivativas” simplesmente canceladas, como se nunca tivessem existido.
Mais recentemente, e como poderia ter sido esperado, um número de farsantes saltaram para bordo, mais notavelmente o declinante Primeiro-Ministro do Reino Unido, Tony “Gato de Cheshire” Blair, e estes farsantes vieram alegar serem eles próprios os autores de propostas para um “Novo Bretton Woods”. O que estes sujeitos (como o próprio Blair) vieram apresentar expressa pura dissimulação, e incompetência de níveis perigosos. No entretanto, todas as autoridades competentes concordam que as especificações exigidas para um “Novo Bretton Woods” são precisamente aquelas que oficialmente apresentei, em Washington, este passado 18 de Março.
Infelizmente, algumas pessoas, que deviam ter tido mais juízo, foram seduzidas por charlatães como Blair. Tais pessoas, manietadas como são, disseram da minha proposta para um “Novo Bretton Woods”: “Sim, o senhor foi o primeiro a propor isto mas, neste momento, já houve muitos outros a pegar na proposta, e a meter o senhor fora da equação”. Se tais pessoas tivessem pensado antes de falar, não teriam sido enganadas por falsa propaganda, tão tola e potencialmente perigosa como esta.
Aquilo que Tony Blair, por exemplo, nunca parece ter tido a capacidade de compreender, é que “Deus não está preparado para negociar as leis do universo com o tipo de interesse financeiro-oligárquico que é representado por Blair”.
O fato essencial da presente situação é o de que, ao longo das últimas décadas, governos hegemónicos, e outras autoridades monetárias deste planeta, vieram a instalar uma série de mudanças fundamentais em formulação de políticas. Fizeram-no durante o período que vai da Crise dos Mísseis de Cuba em 1962, ao estabelecimento, em 1972, do inepto “sistema monetário por taxas de câmbio flutuantes”; e, daí, à colocação em efeito, entre 1989-1992, da “nova ordem mundial”, uma criação de Thatcher do Reino Unido, Mitterrand da França, e Bush dos EUA. A combinação de todas as mudanças, em formulação de políticas, que foram estabelecidas ao longo deste período, veio a produzir a catástrofe financeira, monetária e económica global com a qual somos hoje confrontados, e que está agora nas suas fases finais.
Curar a doença implica remover a causa da mesma doença. De duas uma. Ou há a reversão abrupta, e imediata, de todas as mudanças fundamentais dos últimos cerca de trinta anos, em política económica e relacionada, ou o planeta como um todo é lançado numa “nova idade das trevas”—uma calamidade a ecoar a “nova idade das trevas” dos meados do Século Catorze europeu, mas, agora, à escala global. Tais são as “leis de Deus”. Governos mentalmente sãos, não brincarão perante tais leis. A disposição para oscilar entre o certo e o errado, para exigir que Deus se comporte “mais democraticamente”, é a razão pela qual a carreira política de Tony Blair está a caminho da lixeira. E, penalidades similares aguardam aqueles que se auto-iludem de que Tony Blair está a propor uma reforma de “Novo Bretton Woods”.
O Que os Auto-Condenados Lunáticos Sugerem
Há certas objeções que são levantadas pelos tolos que exigem que Deus responda “democraticamente” às relutâncias e a outras sensibilidades de Blair e de outros personagens politicamente suicidas. Essas objeções são tão típicas que é útil identificá-las e dar-lhes resposta.
Objeção Número Um: Foi John Maynard Keynes quem elaborou o sistema de Bretton Woods; assim sendo, “um Novo Bretton Woods tem de significar um regresso a Keynes”.
A Objeção Número Um é essencialmente falsa. A política que o Presidente Franklin Roosevelt veio reavivar, para a recuperação dos EUA a partir da Grande Depressão dos 1930s, e para a mobilização de guerra de 1939-1945, foi inspirada em dois precedentes: a mobilização de 1861-1876, lançada pelo Presidente Abraham Lincoln, e a reavivação, pelos EUA, para a condução da I Guerra Mundial, dos métodos dessa mobilização de 1861-1876. Estes são os métodos que são, para todos os economistas competentes, conhecidos como os “métodos Americanos” de Alexander Hamilton, Secretário do Tesouro dos EUA, e de Henry C. Carey, o principal economista mundial do Século Dezanove. Estes são métodos que são diametralmente opostos às doutrinas de “mercado livre” de Adam Smith e de Keynes.
Evidentemente, após a morte precoce de Franklin Roosevelt, o gang de Wall Street juntou-se com Londres, numa política de sabotagem sistemática de toda e qualquer política que Roosevelt tivesse lançado antes da sua morte. Não obstante, as características dominantes do sistema de Bretton Woods, até 1958, eram predominantemente baseadas nos “métodos Americanos”, “anti-comércio livre” associados às mobilizações económicas dos EUA em 1861-1876, 1914-1917, e 1934-1945.
Objeção Número Dois: “É óbvio que ninguém sugeriria um regresso às políticas Bretton Woods dos 1940s e dos 1950s”.
E porque não? Todo e qualquer desvio dessas políticas dos 1940s e 1950s resultou em nada mais que um longo (e, continuamente acelerado) processo de declínio dos EUA, da era pós-Kennedy em diante. Um declínio que, até à data, não veio produzir qualquer efeito agregado, a não ser a presente catástrofe global. Nenhuma pessoa sensata ponderaria qualquer opção que não passasse pelo regresso a políticas de sucesso provado, e pelo uso dessas políticas em substituição a mudanças subsequentes provadas cumulativamente desastrosas.
Objeção Número Três: “O mundo mudou desde 1958. Temos de começar a partir da perpetuação dessas mudanças. Não podemos fazer voltar atrás o relógio da História”.
Quando, em 1819, a reacionária Santa Aliança de Clemente, o Príncipe Metternich, veio impor, à Alemanha, os fascísticos Decretos de Carlsbad, o filósofo da corte prussiana a vir defender estas medidas reacionárias foi um sujeito conhecido como G.W.F. Hegel. Hegel tipifica aquelas criaturas imorais que culpam as mudanças da sociedade para pior nalguma autoridade oculta que identificam com tais termos como sejam “o Espírito do Mundo”, “o Espírito dos Tempos”, ou “a Opinião Popular”. O fato aqui é o de que, aquelas coisas que um Tony Blair, por exemplo, diria que não devemos mudar, são precisamente aquelas mudanças pós-1962 que são a causa do declínio em espiral da economia global, até ao presente ponto, em que chegamos à iminência de desintegração total. São aqueles que produziram essas mudanças que, em todo o efeito, “fizeram voltar atrás o relógio da História”. É de nossa responsabilidade corrigir isso, de modo a que o relógio volte a estar na era certa.
Objeção Número Quatro: “É óbvio que não podem ser feitas mudanças sem o consentimento de todas as nações”.
E porque não? Esse tipo de absurdo foi o que apologistas do Pacto de Munique de Chamberlain e Daladier com Adolf Hitler denominaram de “Paz nos Nossos Tempos”. Quando o que está em questão é sobrevivência, então o princípio é, que aqueles que têm o poder e a vontade têm de agir. Que os restantes aprendam a sua lição, e recuperem o tempo perdido mais tarde. Já apontei, repetidamente, se os Presidentes dos EUA e da China puderem chegar a acordos com uma minoria crucial de outras nações, para a criação de uma nova relação financeira, monetária e económica entre si, então essas nações têm de agir, quer outras nações objetem ao fato, quer não o façam. Tal como acontece com algumas pessoas, algumas nações só parecem conseguir aprender a partir dos duros golpes da experiência. Nenhum estadunidense patriótico, por exemplo, alguma vez esperou pelo consentimento da monarquia britânica ou da Commonwealth.
O fato é que, se os EUA, em parceria com China, Índia, Rússia, e também Alemanha e [França], puderem chegar a uma relação estável entre si, então a maioria do mundo apoiará uma tal parceria. A combinação vencedora, e necessária, consiste numa parceria a incluir nações essenciais do setor em vias de desenvolvimento; uma parceria que represente a maioria da população deste planeta. Aqueles que se recusem, ou se mantenham simplesmente relutantes, terão, talvez, de aprender da forma penosa: talvez isso seja real democracia em ação.
Objeção Número Cinco: “O Novo Bretton Woods tem de ser uma nova autoridade supranacional que decida se as nações individuais terão, ou não, o direito a usar medidas temporárias, tais como controlos de capitais e de câmbios”.
Nenhum acordo viável subverterá os direitos soberanos de qualquer estado-nação, a medidas soberanas como sejam protecionismo em geral, ou controlos de capitais e de câmbios em particular. Ao invés, parceiros soberanos concordarão em coordenar as suas decisões soberanas, e ajustarão as suas políticas soberanas de acordo com um princípio de vantagem mútua informada. Nunca abdicarão dos seus direitos e poderes soberanos a uma autoridade supranacional…
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