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O New Deal Para a Humanidade Não É Verde, Mas Sim Humano!
Por Helga Zepp-LaRouche, fundadora e presidente do Instituto Schiller
A maior vilania contra o bem comum está presentemente em curso, e ameaça tornar os ricos ainda mais ricos, e os pobres ainda mais pobres. E, da mesma forma, ameaça albergar as mais variadas consequências catastróficas: motins de fome e caos social absoluto nas nações industrializadas, genocídio contra os assim chamados países em vias de desenvolvimento. E, do ponto de vista da oligarquia financeira, uma terceira guerra mundial, a opor os estados NATO à Rússia e à China, tornar-se-á, em breve, praticamente inevitável. Isto está a ser feito literalmente perante os olhos do público mundial. E, todos estes desenvolvimentos desastrosos serão a consequência da veiculação do investimento para os ramos “verdes” da indústria. Serão também a consequência do completo desinvestimento, pelos bancos centrais, em setores como a energia nuclear e os combustíveis fósseis—sob o “Green Deal” da União Europeia (UE), ou o “Green New Deal” da administração Biden.
O que já hoje é óbvio a qualquer empresa de tamanho médio na economia produtiva, está finalmente a permear, embora de modo apenas muito lento o debate público. E, isto é, que a transformação da economia sob o “Grande Reinício” (“Great Reset”) que é promovido pelo Príncipe Carlos e por Klaus Schwab (do Fórum Económico Mundial), significaria extensa desindustrialização, e um enorme sacrifício da prosperidade da população. Eric Heymann, economista-sénior da Deutsche Bank Research, criticou, num artigo de meados de Janeiro, o “debate desonesto” pelo qual a UE quer impor o seu Green Deal à população, e explicou que o mesmo “não será viável sem uma substancial porção de eco-ditadura”—e, mesmo esta afirmação é o eufemismo do ano!
Se, como é pretendido pelos arquitetos do Green Deal, todas as companhias industriais forem sujeitas a “taxonomia”, com o registo da sua alegada pegada de CO2, então isso será seguido da imposição de um sistema de classificação de atividades económicas “ecologicamente sustentáveis”, e da igual sujeição de todas as atividades privadas aos diktats de alegada proteção climática. Isto só será possível através de ditadura e de controlo mental, a tais níveis que farão a Inquisição parecer um piquenique.
Se esta utopia verde fosse alguma vez tornada realidade (e não pode sê-lo, uma vez que levaria a caos logo à partida, como veremos mais adiante), então os preços extremamente inflacionados determinariam exatamente o tamanho da casa ou do apartamento em que cada qual poderia viver, a que temperatura esse espaço poderia ser aquecido, que aparelhos elétricos continuariam a ser permitidos, quão longe se poderia viajar com quais meios de transporte, quão frequentemente se poderia comer carne, ou se seria sequer possível comer frutos exóticos. E, claro, cada euro e cada dólar que são gastos em “proteção climática” são um euro e um dólar que ficam em falta para investimentos em educação, sistemas de saúde, investigação, infraestrutura, comunicações modernas, segurança interna e externa, pensões, e atividades de tempos livres.
Desperdício em Massa de Produção, Morte em Massa
Os estados federais e as municipalidades nos quais, previamente, havia a extração, ou o processamento (em fábricas industriais “castanhas”) de combustíveis fósseis, teriam enormes perdas em receitas fiscais, e haveria o desaparecimento em massa de empregos. Ao mesmo tempo, muitas mais paisagens seriam estragadas por exércitos de moinhos eólicos, por oceanos de painéis solares, e por infinitas linhas de transmissão. Estas coisas não se limitariam a desfigurar a Natureza, a destruir os habitats de animais selvagens, e a matar milhões de pássaros: também não estariam, de modo algum, protegidas de ataques terroristas. Isto também exigiria enormes quantidades de moinhos eólicos: milhões em terra, e milhares nos oceanos. E, da mesma forma, milhões de estações de carregamento, e de módulos para baterias de veículos, tal como biliões de módulos de armazenamento e backup de energia; que, por sua vez, exigiriam enormes quantidades de concreto, aço, cobre, plástico, minerais raros, e outros materiais. E isso, por seu turno, exigiria enorme expansão da extração mineira e rochosa nessas áreas, a um nível tal que nem os próprios Verdes teriam aprovado.
O problema essencial, porém, seria o de que esta transformação verde absorveria (e, ultimamente, desperdiçaria por inteiro) materiais, capacidades industriais e força de trabalho. E, absorberia capacidades que são urgentemente necessárias para a sobrevivência económica de longo termo da sociedade. Com o abandono da energia nuclear e dos combustíveis fósseis, a produção energética seria regredida a um nível pré-industrial, baseado em energia solar e eólica (ou, em hidrogénio, que é obtido de fontes modernas de alta densidade energética).
Na essência do método económico e científico que foi desenvolvido por Lyndon LaRouche, está o reconhecimento (cientificamente estabelecido, por LaRouche) de que existe uma relação integral entre a densidade de fluxo energético que alimenta os processos produtivos, e a densidade populacional potencial relativa que é possibilitada pelos mesmos. O número de pessoas que era possível ter a viver na Terra durante o período dos caçadores-recolectores (quando só o vento e o sol estavam disponíveis para a propagação de coelhos e de bagas nos “processos produtivos” desse tempo), estava algures na gama de uns poucos milhões. Mesmo com a mestria da eletricidade, e com uns quantos avanços tecnológicos adicionais, o vento e o sol permanecem fontes energéticas com mais ou menos a mesma densidade de fluxo energético que já tinham há mais de 10.000 anos atrás.
Hans Joachim Schellnhuber, Comandante da Ordem do Império Britânico (CBE), fundador do Instituto de Potsdam para Investigação de Impactos Climáticos, que de há muito difunde a “Grande Transformação e Descarbonização da Economia Mundial,” associa essa densidade de fluxo energético [a das “energias alternativas”] a uma “capacidade de carga” de, na melhor das hipóteses, 1 bilião de pessoas. Hoje, quase 8 biliões de pessoas vivem na Terra e, de acordo com estimativas pela ONU, em 2050, só em África viverão 2.5 biliões de pessoas, e isto é significativamente mais do que o que Schellnhuber considera bom para o mundo no seu todo.
O mero desperdício monetário não é o único efeito realmente horrível da transformação da economia numa na qual apenas são usadas tecnologias verdes. Ainda mais gravoso, é o fato de que, o fluxo de densidade energética que virá então a caracterizar as economias dos estados Ocidentais significará não apenas o fim destes estados como nações industrializadas, como também a destruição das capacidades industriais que são necessárias à superação do subdesenvolvimento nos assim chamados países em vias de desenvolvimento.
Já hoje existe o risco de morte em massa a uma escala sem precedentes, quando se toma em consideração a (já desenfreada) pandemia de COVID-19 nos países do Sul Global, tal como as mutações que já ocorreram e continuarão certamente a ocorrer de futuro. E, quando se toma em conta o espetro, mencionado por David Beasley (do Programa Mundial de Alimentos), de uma fome de “dimensões bíblicas.” A oligarquia financeira maltusiana que, desde a publicação da propaganda anticientífica do Clube de Roma (sobre os alegados limites ao crescimento), veio a declarar a suposta sobrepopulação da Terra como sendo a principal ameaça, só precisa agora de deixar à solta os quatro cavaleiros do Apocalipse (guerra, fome, pestilência e morte), para reduzir a população ao nível ambicionado.
‘Uma Falha Energética de Longo Termo’
Porém, e como já mencionado, a utopia verde nunca se tornará realidade na sua forma publicitada, uma vez que não se pode abandonar a energia nuclear e os combustíveis fósseis nas nações altamente industrializadas (como aquelas do setor transatlântico), sem que isso venha provocar blackouts e um colapso em caos. A 8 de Janeiro deste ano, a rede elétrica pan-Europeia chegou perigosamente perto do colapso, quando uma falha na Roménia despoletou um quase-blackout, que só pôde ser resolvido pela estabilização da rede através do input de reservas adicionais de energia de outros países.
De acordo com os especialistas da EVN (fornecedora elétrica austríaca), esta foi, até à data, a segunda mais grave disrupção de sempre na rede europeia: foi atingido o terceiro de quatro níveis de alarme, e as máquinas mais sensíveis reagiram de imediato à redução em frequência elétrica. Para que a rede de segurança pudesse ser salva de blackout, numerosas centrais energéticas tiveram de fornecer energia adicional, e teve de haver a mobilização de centrais hidroelétricas reversíveis, tal como das ainda existentes centrais energéticas a gás. Foi uma espécie de operação de bombeiros. Mas, foi por um triz.
O curso corrente da oligarquia financeira (que é o de levar adiante, por todos os meios necessários, a descarbonização da economia), só pode ser descrito como uma política desenfreada do maior risco, na qual a perspetiva de fazer uma pipa de massa em especulação sobre os $30 triliões planeados para investimento no Grande Reinício, remeteu para a margem toda e qualquer preocupação com o bem comum da sociedade. Porém, esta é uma política que ameaça as vidas de um grande número de pessoas. É mais que tempo de lidar com a questão considerada pelo Gabinete para Avaliação Tecnológica no Bundestag alemão (TAB) num estudo de 2011, intitulado “Vulnerabilização e Fragilidades das Sociedades Modernas—Recorrendo ao Exemplo de uma Falha de Energia de Larga-Escala e Longo-Termo.”
As sociedades modernas, baseadas que são em alta tecnologia e na divisão do trabalho, e, nas quais há a interligação entre variadas infraestruturas críticas (tais como tecnologias de informação, telecomunicações, transportes e trânsito, fornecimento energético e cuidados de saúde), são de uma extrema complexidade. Esta complexidade torna-as altamente vulneráveis, como tornado claro por repetidos ataques terroristas, catástrofes naturais, e acidentes particularmente graves. Todos estes sistemas dependem do fornecimento de energia, e uma falha de energia generalizada e prolongada teria consequências devastadoras. Os estudos chegam à conclusão de que, face a um tal cenário, seria quase impossível prevenir o colapso de toda a sociedade.
As consequências imediatas incluiriam: a falha (imediata ou após apenas uns poucos dias), de serviços de dados e telecomunicações, de linhas telefónicas terrestres, das centrais locais, de redes de telemóveis, do fornecimento energético de emergência, das telecomunicações públicas (e, portanto, da comunicação pelo uso de telefones, entre as autoridades, entre a população e entre as companhias), e da Internet. Os transportes e o trânsito por estrada, caminhos de ferro, ar e água parariam imediatamente, ou após apenas umas horas. O tráfego tornar-se-ia caótico, logo após a falha energética. Cruzamentos, túneis e sistemas de cancelas seriam bloqueados. Dar-se-iam grandes engarrafamentos rodoviários, e numerosos acidentes ocorreriam. Serviços de emergência e de cuidados para os feridos tornar-se-iam por vezes impossíveis. Pessoas ficariam presas em subterrâneos, tal como como em trens e em elevadores.
O combustível para os veículos tornar-se-ia escasso, e o fornecimento de comida e de abastecimentos médicos à população seria interrompido. Haveria um enorme colapso em cuidados médicos e farmacêuticos para as pessoas, e estes cuidados tornar-se-iam severamente restringidos após apenas 24 horas. Haveria uma disponibilidade diminuta de medicamentos perecíveis (como a insulina), tal como de reservas de sangue e de fluidos de diálise. Os serviços de emergência deixariam de ser contatáveis por chamada. A primeira semana traria consigo graves danos à saúde de muitos, ou mesmo a morte dos mesmos.
Em resultado, a ordem pública começaria a colapsar, e, enquanto parte da população revelaria grande entreajuda, outra parte tornar-se-ia mais inescrupulosa, mais agressiva e mais violenta. A apatia e o pânico far-se-iam sentir. De acordo com o relatório TAB:
O cenário de falha energética como exemplo essencial de “cascata de efeitos danosos” deve, portanto, continuar a ter alta prioridade na agenda de responsáveis políticos e societais; também de modo a criar consciência sobre este assunto junto da indústria e junto da população. A aqui apresentado relatório TAB deve também contribuir para isso.
Como é evidente, estas “pessoas responsáveis” mostraram, em décadas passadas, uma enorme capacidade para fazer o exato oposto, e para suprimir quase por inteiro qualquer consciência dos enormes riscos das suas políticas. Isto é assim, por exemplo, com as consequências do abandono progressivo do nuclear, e do agora planeado abandono progressivo das indústrias de combustíveis fósseis: em países como Alemanha e, dentro em breve, na UE e nos Estados Unidos. O foco está no primado neoliberal de viver no limite para maximização de lucros. Quando o Presidente Richard Nixon destruiu o sistema de Bretton Woods em 1971, pelo abandono das taxas de câmbio fixas, e pelo desacoplar o dólar do ouro, foi Lyndon Larouche quem, em toda a presciência, publicou a projeção de que uma continuação destas políticas monetaristas levaria necessariamente a uma nova depressão, a um novo fascismo, e ao perigo de uma nova guerra mundial. Ou, em alternativa, a uma nova, e justa, ordem económica global.
Daí em diante, LaRouche dedicou-se a analisar cuidadosamente cada passo adicional na direção de desregulação aumentada dos mercados financeiros, em prol de especulação, e apontou as consequências de tais políticas.
Chegámos agora ao fim do percurso. Por detrás da tentativa de impor o New Deal Verde ao mundo está o projeto desesperado da oligarquia financeira da City de Londres, de Wall Street, e de Silicon Valley: de meter uma vez mais em suporte de vida o irremediavelmente bancarroto sistema financeiro, pela injeção de uma enorme soma de $30 triliões; e, desta forma, colher um último e gigantesco lucro para os especuladores deste mundo. Depois de nós, o dilúvio! Há “super investidores”, como seja Jeremy Grantham, da firma de gestão de bens de Boston, Grantham, Mayo, Van Otterloo & Co. Nas suas análises, Grantham está persuadido de que o comportamento humano é similar ao dos ratos:
Teremos umas poucas semanas de dinheiro extra, e umas poucas semanas passadas a pôr as últimas e desesperadas fichas no jogo e, depois, um colapso ainda mais espetacular… Quando se chega a este nível de óbvio super-entusiasmo, a bolha estoura sempre, e sem exceção, nos poucos meses seguintes, não nos poucos anos seguintes.
Quão destrutivo será o colapso? Será como o crash de 1929, diz Grantham.
Uma outra implicação para a auto-destruição do Ocidente através do New Deal Verde, é a probabilidade quase total de que a sua implementação leve à III Guerra Mundial e à extinção da Humanidade. Se o Ocidente se auto-desmantelar economicamente através de políticas verdes, enquanto a China e toda a Ásia ascendem imparavelmente, há um risco crescente de que isto leve a um confronto nuclear: uma vez que, e dadas as atuais políticas da OTAN (NATO), e as variadas doutrinas de segurança dos EUA, não pode ser assumido que a OTAN se dissolverá de uma forma pacífica, similar à dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia. O almirante Charles Richard, Comandante do Comando Estratégico dos EUA, é apenas um dos muitos homens militares a expressar a opinião (na magazine mensal Proceedings, publicada pelo Instituto Naval dos EUA) de que uma guerra nuclear com a Rússia ou com a China torna-se hoje mais provável; e de que os Estados Unidos devem, portanto, modernizar o seu arsenal nuclear (que, de resto, já está em pleno funcionamento).
Ao Invés, Escolha-se Sobrevivência Humana Durável
Ainda que muitas instituições pareçam ter-se decidido pelo curso aqui delineado, não é tarde demais para optar pela alternativa. A pandemia de COVID-19 demonstrou o quão extremamente vulneráveis realmente somos, como espécie humana, e que só temos uma chance realista de garantir a nossa sobrevivência de longo termo: através da coalescência de todas as nações deste mundo num novo paradigma de cooperação, para dedicar esforços às reais missões comuns da Humanidade.
A chave para a superação da crise reside numa imagem do Homem que não veja a Humanidade como um parasita na Natureza, cujas atividades poluem e destroem a pobre Mãe Terra: de modo tal que seria bom reduzir ao máximo possível o número de pessoas (mas não tanto que deixe a oligarquia sem recursos humanos suficientes!). O Homem simplesmente não é um ser sensório manipulável que possa ser mantido sob controlo pela forma moderna de pão e circo, e através de degradação pela indústria do entretenimento.
A Humanidade é a única espécie cuja razão criativa é conforme às leis do Universo, e é até uma parte integral e desenvolvida do mesmo. É precisamente esta capacidade que possibilita à Humanidade que descubra, uma vez após a outra, novas hipóteses revolucionárias sobre as leis físicas do Universo. Depois, as mesmas são usadas nos processos produtivos para definir plataformas inteiramente novas: do nível de vida humano, da esperança de vida, da compreensão das mudanças climáticas que têm vindo a ocorrer ao longo de milhões de anos, e de perspetivas adicionais para a criação dos pré-requisitos para futuro voo espacial interestelar, através da colonização do espaço próximo.
É aí que, de uma vez por todas, compreenderemos o fenómeno das mudanças climáticas, o modo como os movimentos cíclicos da nossa galáxia afetam o assim chamado clima. Porém, para resolver o problema, não precisamos de painéis solares ou de moinhos de vento, mas sim do uso de fusão nuclear, como veiculadora das missões tripuladas a Marte e mais além. O Homem é o ser que se pode auto-aperfeiçoar ilimitadamente, intelectual como moralmente, uma vez que isso corresponde às leis do Universo, do qual a Humanidade é a parte desenvolvida.
Cancelemos o “reinício”. Precisamos de uma redefinição positiva da missão do Homem no Universo.
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