Os BRICS no Centro de uma Nova e Justa Ordem Econômica Mundial

Por Helga Zepp-LaRouche, fundadora e presidenta do Instituto Schiller

28 de julho de 2018 (EIR) - Inspirados pela ascensão épica da China, está ocorrendo uma reorientação estratégica dos países emergentes e em desenvolvimento, criando gradualmente no mundo todo uma ordem econômica baseada em princípios completamente diferentes. Enquanto o Ocidente tenta em vão defender o velho paradigma do sistema econômico neoliberal, cada vez mais países estão trabalhando com os BRICS, com a Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e outras organizações regionais sob a rubrica da Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, baseados na cooperação ganha-ganha, e demonstrando que o mundo pode ser organizado de um modo muito mais humano do que aquela que temos visto com a União Europeia com sua bárbara política de refugiados.

Eu quero o modelo chinês. Porque o que a China tem conseguido é incrível. O modo como eles superaram a pobreza nunca foi visto antes na história!”. Essas são as palavras do recém-eleito Primeiro Ministro do Paquistão, Imran Khan, que anunciou na mesma ocasião que iria retribuir com dois passos cada passo positivo dado pela Índia na melhoria das relações com o Paquistão. Foi exatamente esse o estado de espírito no recentemente finalizado décimo encontro dos BRICS – isto é, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – em Joanesburgo, na África do Sul, que foi completamente modelada no espírito da Rota da Seda. Isso significa nada menos que uma nova era para a humanidade se iniciou, na qual todas as nações do planeta tem o direito ao desenvolvimento baseado no progresso científico e tecnológico.

O presidente chinês, Xi Jinping, enfatizou em seu discurso de 25 de julho no Fórum de Comércio dos BRICS – que incluiu Indonésia, Turquia, Argentina, Jamaica, Egito e muitos líderes africanos – que “a comunidade internacional atingiu uma nova encruzilhada” e deve construir uma plataforma totalmente nova para as relações internacionais. Com um inspirador otimismo cultural que foi perdido na Europa, Xi enfatizou o papel crucial do progresso científico como motor da construção econômica: “A ciência e a tecnologia como forças produtivas primárias geram um poder inesgotável que dirige os avanços da civilização humana”. A humanidade deu grandes saltos da agricultura até a civilização industrial, e agora enfrenta uma nova rodada de revoluções científicas e tecnológicas e transformações industriais. Se os países abraçarem essas oportunidades, poderão desfrutar de um crescimento econômico dinâmico e de uma vida melhor para sua população.

Xi disse que “a África tem mais países em desenvolvimento do que qualquer outro continente” e que assim “tem mais potencial do que qualquer outra região do mundo”. Os BRICS devem portanto “estreitar sua cooperação com a África, apoiar seu desenvolvimento e fazer da cooperação BRICS-África um modelo de cooperação Sul-Sul”. Esse reforço deve posteriormente ser enriquecido, em setembro, no próximo Fórum para a Cooperação China-África (FCCA), em Pequim, e a integração com  a Iniciativa Um cinturão, Uma Rota continuará.

O Primeiro Ministro indiano, Modi, disse que manter a paz e o desenvolvimento da África tem prioridade máxima em seu governo. Ele e o presidente da África do Sul, Ramaphosa, assinaram um Memorando de Acordo para a construção de um Centro Mahatma Gandhi-Nelson Mandela de especialização para as habilidades artesanais e pesquisa e educação em agricultura.

Em seu discurso, o presidente Putin anunciou que a Rússia irá trabalhar para energizar e “iluminar” o continente africano:

O aumento do comércio entre a China e a África nos últimos 40 anos tem sido enorme: de 765 milhões de dólares em 1976, em 2017 chegou a 170 bilhões de dólares e brevemente será de 400 bilhões por ano. De um modo geral, aumenta rapidamente a relevância econômica dos Estados BRICS. No ano passado, o PIB total desses países correspondeu a mais de 17 trilhões de dólares, maior que o da União Europeia. Xi Jinping fez visitas de Estado aos Emirados Árabes Unidos, Senegal, Ruanda e África do Sul, e logo após o encontro foi para as Ilhas Maurício. O Primeiro Ministro Modi visitou Uganda, Ruanda e a África do Sul. Além do mais, os governos de China e Índia decidiram investir em conjunto na África no contexto da Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota.

Outro componente da nova ordem econômica é o conceito de “BRICS +”, que expande a plataforma para a associação econômica com outros Estados e regiões com as nações BRICS e para o fortalecimento da cooperação estratégica. Entre outros, é da intenção dos países participantes aumentar sua força de voto no FMI, pelo aumento do número de países participantes em seus blocos e assim influenciar em decisões chave.

Cooperação ou Confronto

Xi Jinping teve um posicionamento enfático durante o encontro – com referências claras às ameaças de Donald Trump sobre as tarifas de importação – que não haveria vencedor numa guerra comercial. Disse que deve haver uma escolha entre cooperação e confronto, entre benefício mútuo e a possibilidade de empobrecer um vizinho, mas aqueles que procuram essa última opção irão terminar apenas machucando a si próprios.

Os efeitos disso já foram observados desde que as sanções contra a Rússia – que muitos especialistas desse país consideram intempestivas – forçaram os russos a reconstruir muitas áreas de produção que foram desmanteladas durante a Terapia de Choque dos anos Iéltsin, e ao mesmo tempo aprofundar sua relação com a China e com a Ásia como um todo. Tal como as sanções da União Europeia e aquelas impostas pelo Congresso americano contra a Rússia, a ameaça de Trump de impor tarifas contra a China tem como efeito, aparentemente esquecido por seus autores em sua arrogância, de unir os países do BRICS + e aumentar seu desejo por um sistema econômico mais justo e equilibrado.

Em um seminário dado pelo Instituto Chongyang de Estudo Financeiros na Universidade de Renmin, em Pequim, o conselheiro econômico de Putin, Sergey Glazyev, destacou que, dada a pobre estado da economia no Ocidente – que continua focando enfaticamente na especulação financeira ao invés do que na economia física – existe cada vez mais a proximidade cooperativa entre a Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, os BRICS, a OCX e outras organizações. Se a pressão contra esses países continuar a aumentar, isso irá apenas acelerar a tendência ao comércio usando suas respectivas moedas em oposição ao dólar.

O relatório anual do governo chinês apresentado recentemente pelo Primeiro Ministro, Li Keqiang, num encontro de líderes do Conselho de Estado, mostra que em termos de economia doméstica, a China está fazendo todo o possível para se proteger contra os efeitos de uma nova crise do sistema financeiro transatlântico. Diante dos maiores desafios internacionais, a China irá implantar um pacote de medidas para fortalecer a economia real, inclusive diminuição de tarifas para investimento em pesquisa básica, 200 bilhões de gastos em infraestrutura, a oferta de crédito para pequenas e médias empresas, e ações resolutas contra as “empresas zumbis” ou qualquer outra forma de especulação.

A dinâmica que agora se desenvolve ao redor do modelo chinês e dos BRICS como centro de um novo sistema econômico mundial, é o resultado das décadas de políticas do Banco Mundial e do FMI que, com suas imposições aos países em desenvolvimento de “ajustes estruturais” e “condicionalidades”, não só impediram seu crescimento, mas facilitaram uma gigantesca transferência de capitais desses Estados para os bancos do sistema financeiro neoliberal. Dessa política, para a qual, entre outras coisas, nós devemos grande parte da crise dos refugiados – junto com as guerras construídas em mentiras no Sudoeste Asiático e no norte da África – os BRICS e muitos países em desenvolvimento tiraram as lições apropriadas, assim como fizeram com a crise asiática de 1997, em que megaespeculadores como George Soros desvalorizaram em poucos dias em até 80%  as moedas de muitos países asiáticos.

Nós no Ocidente temos a mesma opção identificada por Xi Jinping. Podemos aceitar a oferta multifacetada da China e, junto com os BRICS e os outros Estados, ajudar na construção da Ásia, do Sudoeste Asiático e da América Latina, e assim concretizar uma perspectiva futura para nós mesmos. Contudo, isso pode significar dizer adeus a economia de cassino e pode requerer a reintrodução da lei Glass-Steagall de separação bancária, a criação de Bancos Nacionais e um novo sistema de crédito no estilo dos acordos originais de Bretton Woods.

Ou podemos seguir no caminho da falência iminente do sistema financeiro neoliberal, que quer maximizar os lucros às custas da maior parte da população e dos países em desenvolvimento. Nós temos a escolha entre um novo crash, dessa vez bem pior que o de 2008 e a quebra financeira provocada por um colapso do dólar, se os Estados do novo bloco econômico emergente resistirem coletivamente a confrontação com os Estados Unidos.

Nós temos uma escolha: ou lembramos de nossas melhores tradições nos EUA e na Europa, isto é, o Sistema Americano de economia de Alexander Hamilton e os princípios do milagre econômico alemão depois da Segunda Guerra, mais a tradição de nossa cultura clássica – que significa trabalhar junto com a China e os BRICS no desenvolvimento mundial – ou teremos que culpar apenas a nós mesmos, quando nossas culturas forem exibidas brevemente nos museus da África e da Ásia, como exemplos de sociedades que foram moralmente despreparadas para sobreviver.

 

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